Enquanto em uma República ao Sul do mundo o governo reduz impostos para estimular a venda de carros e fazer o motor da economia engrenar – sem, no entanto, atingir os efeitos esperados –, a Europa pedala no sentido contrário e descobre que a bicicleta não apenas transforma as cidades em lugares melhores, mas também é uma eficiente ferramenta econômica.
Calculando os benefícios do uso da bicicleta para o cidadão e toda cadeia produtiva envolvida, a bicicleta movimenta anualmente 200 bilhões de euros por ano na União Europeia (EU-27) – bloco político formado por 27 países do continente. Isso supera, por exemplo, a economia da Dinamarca e equivale a aproximadamente R$ 623 bilhões – o mesmo que a soma de todos os bens e serviços produzidos nos três estados da região Sul do Brasil no período de em um ano.
Os dados foram apresentados no relatórioEconomic benefits of cycling in the EU-27, elaborado pela European Cyclists’ Federation (ECF), entidade que congrega as mais de 70 associações de ciclistas de 40 países do Velho Continente.
A bicicleta gera economia de 435 euros per capita na Europa e o maior impacto é na área da saúde, com uma economia de 110 bilhões de euros por ano de acordo com o Health Economic Assessment Tool (HEAT), sistema desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo dados da EFC, hoje 34 milhões de europeus usam a bicicleta como meio de transporte preferencial — o que representa cerca de 7,5% da população do bloco. A expectativa é dobrar esse índice para 15% até 2020. Se a meta for alcançada, a economia de recursos equivale a 100% da dívida da Espanha ou 76% da indústria automotiva alemã.
Para alcançar isso, os governos articulam um trabalho interministerial em torno da bicicleta para aumentar ainda mais os efeitos benéficos, conforme sinalizou a chanceler alemã Angela Merkel ao inaugurar a feira Eurobike 2013, na última quarta-feira (29).
Isso compreende a implantação de políticas de estímulo ao uso do modal, programas de segurança, financiamento a projetos e implantação de infraestrutura cicloviária e campanhas e desestímulo ao uso do transporte individual motorizado. Em 2011, A Comissão Europeia iniciou estudo para implantação de uma espécie de imposto para os poluidores – calculando em função da geração de ruídos, poluição do ar e congestionamentos gerados.
A despeito de ser a queridinha do governo brasileiro, toda a indústria automotiva do país equivale a apenas 20% da economia gerada pela bicicleta na Europa. Com participação de 18% no Produto Interno Bruto do setor industrial brasileiro (PIB-Indústria), a cadeia automotiva movimenta cerca de R$ 110 bilhões por ano (35,3 bilhões de euros) no país, enquanto a cadeia agregada da bicicleta gira 200 bilhões euros por ano na Europa.