Vamos pedir duas carradas de brita para o vereador. Nem esquenta com isso, não vá cometer a loucura de comprar esse material, pois consigo de graça, deixa comigo, tá no papo.
Esse era o teor da conversa entre o pai de um amigo meu e meu irmão, interessados em melhorar o acesso à oficina mecânica, as primeiras palavras com som de corrupção que tenho memória. Devia estar com doze ou treze anos e tal prática mostrou-se tão natural nos dizeres daqueles que ali estavam, que me senti constrangido em perguntar de onde sairia o dinheiro para pagar a brita.
A partir desse fato comecei a perceber e anexar outros... outros... e mais outros. Muitos angariados graças às facilidades de morar numa pequena cidade onde a vida das pessoas é “domínio público”, isto é, todo mundo sabe a respeito de todos. Deixando transparecer com isso quem eram os privilegiados sob as asas dos governos (independente de partidos) em constante busca de meios para sobreviver.
E conseguiam... enquanto uns ralavam uma vida inteira (eu por exemplo, rastejo há cinqüenta anos) havia aqueles colados ao poder que de uma forma ou outra sempre encontravam meios de prestar serviços, vender mercadorias, alugar equipamentos, instalações entre outras maracutaias cujos respingos afetavam a vida de muita gente. Assim, num silêncio geral a prática se consolidou... chega aos nossos dias como um meio de vida naturalmente aceito.
Se assim continuasse, nos custaria barato... no entanto, com estes emergentes movimentos de tornar a moralizar ou denuncismos de desvios entre outros, está se elevando o custo corrupção no Brasil. Pois saímos da simples esfera negocial cujos preços suportamos há tempos para entrar em polêmicas e discussões entre as mais diferentes classes, além das entidades políticas e judiciárias. Resulta com isso o aumento dos valores... ou seja... um ato que originalmente era suportado dentro do sistema, encarece em muito devido aos interesses e as instâncias (CPI, MP, STF, PF) se fazendo crer que existem para extirpar tal malefício. Nada mais que jogo de cena a justificar-se.
Portanto, LEGALIZAR a corrupção nos custaria bem menos. Legitimar esta forma de ganhar a vida, ou seja, todos os projetos do governo aprovados com uma margem entre cinco e vinte por cento a ser distribuída entre os políticos e as empresas participantes de licitações. Pronto, a corrupção se torna legal graças ao esforço de anos de brasileiros abnegados que se dedicaram em construir mecanismos para sobreviver às custas do Estado e dos impostos ali depositados.
Hoje quando presenciamos uma multidão alimentando uma ilusão, percebemos o quanto nos custa tentar não provar o que todo mundo sabe. Em outras palavras, o teatro da hipocrisia é muito caro... não merecemos arcar com tanto. CPMI que não chega a lugar algum, Supremo Tribunal padecendo do mesmo mal, também não produz resultados positivos à sociedade. Por isso, manter tal prática viável, somente com a CORRUPÇÃO LEGAL, isto é, regulamentar para ter o custo suportável, possibilitando inclusive recursos declarados, além de utilizá-los para gerar outras oportunidade aos menos afortunados. Seria um bom negócio para todos. Então, vamos apoiar essa idéia. Corrupção legal já. O Brasil agradece!
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