Catedral Nossa Senhora da Oliveira - Vacaria RS |
Quando eu era católico
Por Gilrikardo
Ao olhar esta foto relembro meus dias de católico goela à baixo, inclusive tentava uma vaga de coroinha através do amigo Plinio também coroinha (soube do seu suicídio há dez anos). Tinha-lhe grande afeição devido à nossa convivência junto à biblioteca do Colégio São Francisco. Diria que éramos viciados em livros, tanto que nas tardes em vez do futebol entre outras atividades típicas de adolescentes, escolhíamos os livros. Já naquela época mantinha relação estreita com o mundo literário cujo amigo compartilhava.
Voltando à igreja, ou a catedral, em meus dias de católico goela à baixo, foi ali também que meu encantamento pela religião e pelos padres morreu... foi só observar o desenrolar das missas e ver com quem o padre fazia questão de conversar, ouvir, cumprimentar, benzer, sorrir, para perceber que o interesse pela humanidade tinha destino certo. Até que um dia minha desconfiança materializou-se e levou-me para nunca mais voltar. Era um missa de domingo, num inverno brabo, daqueles de bater o queixo... a igreja lotada como sempre, e junto a primeira fila de bancos, encostados na parede, uma familia de gente pobre de dar dó, não lembro o número de crianças, mas era mais que três com certeza, O chefe tentava falar com o padre a todo o instante, mostrava-se aflito, com um semblante desesperado... de fome talvez... ou medo quem sabe. A cada tentativa o padre sinalizava e dizia baixinho.... espere aí que no fim da missa falo contigo. Não sei porque, mas resolvi testemunhar aquela cena até o final... fiquei de olho no padre e naquela família...
Encerrada a missa, a multidão esvaiu-se.... o padre aproveitou e abraçou alguns vereadores, o prefeito, cumprimentou os "ricos" da cidade com uma cara de "prostituta"... olhei para o outro lado, só para conferir, e lá estava o pobre homem e a prole aguardando a boa vontade do padre que aproveitando a movimentação sumiu de fininho.... fui o último a "garrar" a rua... a família saiu minutos antes de mim. Soube mais tarde que o homem havia perdido a casa num incêndio alguns dias antes, e perambulava pela cidade em busca de ajuda. Foi a última vez que entrei na igreja desejando lá encontrar algum sentido na vida.