Estava com aproximadamente dezessete anos lá no meio da década de setenta. A televisão era nossa janela para o mundo, assim ficávamos à mercê do humor e da competência dos chefes do jornalismo que naquela época, pareciam nos condenar à alienação total. Comprovei isso ao chegar em São Paulo, saindo de uma cidade do interior de 60 e poucos mil habitantes, num primeiro instante, senti-me constrangido pelas imagens de pessoas jogadas pelas calçadas. Em meu entendimento, ser humano algum merecia tal tratamento. Ingenuamente questionava-me por onde andariam as autoridades responsáveis por manter a ordem, pois aquela cena, além de chocante atrapalhava o trânsito das pessoas. Já que estavam deitados lado a lado, em cima de caixas de papelão, cobrindo-se com velhos cobertores e alguns nutrindo-se com um líquido incolor que parecia ser cachaça. Primeira cena de miséria humana que presenciei. Foi chocante. Foi traumático. E de lá para cá tornei-me um observador de tais situações que parecem naturalmente aceitas nos dias de hoje. Nada melhorou com relação a esses miserávies, continuam dependendo da caridade alheia. E as políticas públicas, legítimas responsáveis em administrar o problema, são geridas pela classe dos políticos incompetentes incompreendidos!
Lembro-me disso cada vez que ouço a palavra “CRACK” (soa como um baita "crack" em meus tímpanos) nas campanhas de combate às drogas, patrocinadas pelo governo federal. Tudo balela, a propaganda a gente já sabe para que serve, o Marcos Valério já nos revelou o segredo dessa maracutaia. E assim milhões são canalizados para nos confortar, só isso, tentar gerar algum conformismo e quem sabe receber alguns dividendos nas próximas eleições que se aproximam. Esse problema das drogas será insolúvel por um “long time”, por mais que venham com discursos inflamados, o que fica é o aumento de miseráveis a cada ano que passa. E o pior de tudo, é que nessa história toda, quem sabe o errado seja eu, por estar perdendo tempo com assunto que atualmente tornou-se tão banal. Esse é o meu Brasil. E esse sou Eu.