quinta-feira, 30 de junho de 2011

Minha gata

Todos na sala, a balbúrdia correndo solta, típica de jovens adolescentes antes de a professora chegar. De repente o silêncio geral, chega, deposita o material sobre a carteira e mesmo antes da chamada, comunica-lhes que hoje escolheria alguns alunos para a leitura da produção textual solicitada na semana anterior. Fui o primeiro da lista, peguei o caderno e:

"-- O dia de natal é para mim um dia muito especial, não porque é natal, mas porque lembro da minha gata de estimação. Encontrei-a na rua, em um terreno baldio, após ouvir seus miados de desespero, instante em que não pensei duas vezes, segui meu instinto protetor e levei-a para casa. Minha mãe detestava qualquer tipo de bicho, assim tive que tratar da minha gata de maneira a não ser percebido. Com uma caixa de papelão fiz a casa da xereta cujo nome veio-me porque a bichana cheirava e se intrometia em tudo.

Passados alguns dias, o inesperado aconteceu, acordei com a mama derrubando tudo dentro do meu quarto, querendo tirar aquele animal dali. A xereta havia fugido do porão e foi parar em meu quarto. Adorei aquilo, pois ela já percebia que eu existia, pensei. Enquanto isso, a mãe com a vassoura tentando acertá-la e nada. Nossa! como era ágil e esperta; pulava daqui e dali, subia pelas paredes, corria por baixo da cama sem ser atingida. A mãe parou quando falei que era minha. Somente orientou-me a não trazê-la  para dentro de casa, claro que concordei, no entanto o tempo iria mostrar que essa tarefa seria quase impossível.

Minha companheira em vários momentos, enroscando-se em mim, pedindo carinho ou comida, sentia-me muito importante porque ela precisava da minha atenção. Fomos levando nossas vidas, até que o lado maternal da minha gata surgiu, e lá aparece com um barrigão, minha mãe soltou o verbo, disse-me que eu teria que dar um jeito nos filhotes quando nascessem. Inicialmente não me incomodei, só queria curtir no momento em que os rebentos viessem ao mundo. E vieram, quatro crias, três machos e uma fêmea, consegui encontrar donos para os machos. Aí entendi porque a encontrei na rua, ninguém queria gatinha e como sempre aprendi rápido, fui ao mesmo local onde encontrei-a e deixei sua filha.

Essas e outras aventuras só foram possíveis porque tinha uma companheira e tanto, muito linda, toda malhada, tinha manchas de todos os tipos de pêlos - branco, amarelo, preto, cinza e outras tonalidades que não sei explicar. Era cheia de manias que eu adorava. À noite vinha à janela de meu quarto e parecendo entender que minha mãe não a queria dentro de casa, ficava rosnando bem baixinho, pedindo para entrar. Eu abria uma fresta e em dois pulos a bichana se acomodava junto aos meus pés e assim nos aquecíamos nas noites de inverno da serra gaúcha.Quando estávamos na cozinha, ela ficava em uma janela pelo lado de fora, só acompanhando nossa movimentação, sabia que dali sairia o seu jantar. Pela basculante jogava-lhe pedaços de carne, pão, queijo entre outros petiscos. Além de brincalhona era muito curiosa, vivia xeretando tudo, qualquer novidade lá estava querendo descobrir para que serviria aquilo.

Assim foi quando viu a árvore de natal, toda colorida, cheia de enfeites pendurados e não resistiu. Começou a bater nas bolinhas e olhar admirada os movimentos. Eu  observando, na verdade curtia com ela aquela descoberta. Estávamos nos divertindo, quando aos gritos chegou minha mãe que ao vê-la "destruindo" a árvore, não pensou duas vezes, juntou a primeira coisa que lhe veio às mãos e zás... atirou uma garrafa que acertou-a em cheio. Tudo para o chão, e lá no meio da bagunça a xereta aquietou-se, sem movimento algum, dera seu último suspiro. Esse foi o meu Natal inesquecível." ... FIM.

Após a leitura, enquanto a professora tecia alguns comentários, comecei a suar, meu coração disparou deixando-me paralisado. É que às vezes pedia o caderno para anotações ou apor o visto, eu desejando o contrário. Pois, avesso à minha prática, naquele dia não fiz a lição, em minhas mãos somente um caderno aberto com as folhas em branco, a professora pegara-me de surpresa e eu acabara de ler as marcas de minha existência. Ufa!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Título em branco

Em frente a praça, onde diariamente milhares de pessoas circulam, trava-se uma conversa entre um morador de rua que ali resolveu acampar e uma senhora que, penalizada pela cena, resolveu intervir.

--O senhor está precisando de algo?
--Não senhora.
--Como não, essa maneira de levar a vida é correta?
--Por que não seria?
--Ora, dormir na calçada, sem higiene adequada, além de estar sob o risco de sofrer atos de vândalos. Isso não preocupa o senhor?
--Nem um pouco. Estou bem assim.
--Não acredito. Como alguém poderia estar bem nessas condições. Há quanto tempo o senhor não toma um banho ou veste uma roupa limpa?
--Já lhe disse que está tudo legal comigo, por acaso a senhora não tem algo melhor para fazer?
--Meu senhor, estou somente querendo ajudá-lo, quer coisa melhor do que essa.
--E quem disse que estou precisando de ajuda. Alguém mandou a senhora aqui?
--Ninguém disse-me nada, tampouco pediu-me para vir aqui. Estava passando e quando deparei-me com as condições em que vive senti-me na obrigação de prestar-lhe alguma ajuda.
--A senhora esta começando a deixar-me irritado; por acaso estou atrapalhando a senhora, por acaso estou causando-lhe algum prejuízo, por acaso a minha vida interfere na sua.
--De certa forma sim, pois a sua maneira de viver não é a ideal, de acordo com a maioria; a sua presença na calçada interfere na beleza da cidade, já imaginou o que os turistas vão pensar da nossa cidade.
--A senhora esta chegando ao meu limite, se houver alguma irregularidade, alguma lei que proíba minha presença neste local, confesso que imediatamente retiro-me, caso contrário é melhor a senhora seguir seu caminho e deixar-me cuidar da minha vida.
--Tá bom, não vou mais incomodar o senhor, não vou-me embora sem antes lhe dizer que a ingratidão é um pecado.
--E eu dizer-lhe que a vaidade vale menos que a liberdade. Adeus!

E assim terminou a conversa entre aqueles dois seres humanos, tão humanos que era impossível não perceber as diferenças. Enquanto a senhora desaparecia na esquina, voltei-me à tarefa de preparar os papéis que seriam minha cama.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Modas dum diletante_Edição 02

Aponte na imagem para ampliar

Status quo

Não lembro direito quando foi que eu soube que meu status não dependia unicamente de minha vontade e sim da posição que me encontrava na pirâmide das classes sociais. Ao ouvir tal definição, imaginei-me escalando e à medida em que subia ou descia mirava os horizontes... que ao subir logicamente ampliavam-se as possibilidades a serem experimentadas. Por outro lado, quanto mais baixo, notei que nem sonhar fazia sentido. Pois a realidade nua e crua estava a um palmo de meu nariz, alijando-me de almejar qualquer outra coisa que não a sobrevivência exclusiva daquele dia. Manter-me de olhos abertos era minha única tarefa naquele estágio.

Isso me leva a traçar um paralelo com minha atividade de escrever. Pois como o status é inerente, também é a capacidade de nos comunicar com certa facilidade dentro do horizonte comum. Assim, minhas palavras para alguns pouco ou nada significam além de bobagens sem importância... já para outros, algo interessante a ser conferido... e para outros mais, algo a ser refletido ou a partir dali, quem sabe, transformar-se em alguma experiência de aprendizado. É dentro deste raio de ação que devo me movimentar. Pouco ou quase nada significa meu desejo de sensibilizar alguém que se encontre longe do meu degrau... tanto para cima quanto para baixo. Lá em cima estará o gênio, o cientista, o profissional da área e tantos outros especialistas... e lá embaixo aqueles cuja literatura não enche barriga, e lhes dou razão.

Eis o conforto que encontro ao escrever, acreditar que em algum lugar alguém “captou a mensagem”...

P.S. Status quo: estado em que se encontra

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Momento Veja

Histórias de pai e filho

Por Gilrikardo

Momento Veja

Ontem peguei a revista Veja e, junto ao meu filho de quatro anos, iniciei-me na leitura. Ao observar minha atitude percorrendo as páginas, pergunta:

-- Pai! “que se” tá fazendo?
-- Papai está lendo.
-- Papai posso ler também?
-- Claro !

Entreguei-lhe a revista e logo percebi que ficara sem jeito. Para quebrar o gelo e deixá-lo mais tranqüilo, afirmei que ele já sabia ler. Apontei para a página e disse-lhe:

-- Olhe o que tem na folha, sei que você sabe, então leia, conte para o papai o que diz ai?

Era a propaganda de uma montadora de veículos e a foto em página dupla de um de seus modelos. Ao entender minha indagação, começou e não parou mais:

-- Pneu... porta ...vidro... janela... banco... motorista... vermelho ...

Falou quase tudo sobre o carro. Conseguiu descrever a cena com grande perfeição.

--Viu meu filho! Você sabe ler.

Ele simplesmente olhou-me como um filho reconhecendo a presença do pai. Aproximou-se, colocou a mão sobre a letra "A" e de uma maneira infantil disse-me:

--Aaaah..............papai !!!

JEC 11 x Avaí 0

Após ouvir dezenas de comentários à respeito do desempenho do Joinville Esporte Clube - JEC, não resisti à tentação. Palpitei. E veja no que deu ...

Minutos antes do início da partida, o comentarista Ondini descreve a trajetória deplorável do time cujos resultados medíocres contribuíram para a agonia do torcedor que teima em continuar sofrendo e novamente lota o estádio:

--Boa tarde ouvintes da Rádio Blogo! Há anos que nosso glorioso JEC persegue o rumo das conquistas. No entanto, derrotas e mais derrotas naturalmente têm sido a marca registrada nas últimas temporadas, naturalmente é muito sofrimento para um time, para uma aguerrida torcida, além da angústia instalada em centenas de "palpiteiros" especialistas em apresentar fórmulas mágicas, eis a que ponto chegamos!. Será possível mais sofrimento... diga com as palavras de quem é naturalmente o *prato da casa, Marco Auréliooo!

--"Tô" ouvindo Ondini e concordo com você, mas gostaria de dizer que não devemos entregar os pontos, a hora do JEC vai chegar e quem sabe é hoje. A equipe está com uma nova formação, foi contratado um novo técnico que, para nossa surpresa e de vocês, caros ouvintes, é um segredo guardado a sete chaves. Ninguém sabe quem são os atletas, de onde vieram e muito menos quem é o treinador, dizem os mais chegados que o silêncio faz parte da estratégia para vencer o Avaí... você acredita nisso Ondini?

--Meu caro! Inspirado neste *céu brigadeiro obrigo-me a dar o *voto de crédito à equipe do Joinville que insiste em manter-se calada, ainda ontem à tarde naturalmente tentei contato com o pessoal da diretoria e descobrir quem jogaria hoje, mas em vão... naturalmente todo mundo de bico fechado. *Quixadá estejam mesmo com alguma carta na manga, Marco Aurélio!

--Eu continuo acreditando Ondini.

--JEC... Quem te viu e quem te vê! Dificilmente acreditaria que este dia chegaria, mas devido ao empenho da nova diretoria que aliada naturalmente aos clamores da comunidade formaram uma verdadeira frente: unindo jogadores, torcedores, colaboradores e a imprensa cujo amor pelo time transformou-se no movimento GAL (garra, ação e luta) naturalmente para enfrentar as dificuldades e os adversários. O resultado disso veremos daqui a pouco na Arena Joinville, JEC contra o Avaí, naturalmente parece um sonho Marco Auréliooooo!

--Vai lá Ondini,  tá na hora, hoje é com você a narração, boa sorte!

--Apita o árbitro, naturalmente dada a saída, bola com o JEC, Mateus passa um, dois, três... ao chegar no meio do campo recebe um carrinho de Silva Junior, esse zagueiro é *erradicado em Chapecó e vem cometer falta aquiiiii. Naturalmente Lucas vai para a cobrança, do outro lado do gramado o técnico do JEC gesticula e levanta os braços, sinaliza para que Lucas chute direto, naturalmente está louco! A essa distância, direto? Só vendo, e é goooolllll... É incrivel Marco Aurélioooo, à distância de quase cinqüenta metros, sem barreira e a bola na gaveta... se me contassem não acreditaria, mas como estou vendo naturalmente é gol. JEC um, Avaí  zero.

--Bola no centro e o Avaí com Silva Júnior que manda naturalmente de primeira para Dagoberto, esse é o melhor deles, depois do *recondicionamento físico no CT do Atlético paranaense tá jogando demais, cuidado com o chute de esquerda, naturalmente é um canhão, segue Dagoberto rumo a meta do JEC, olhou para o goleiro, acho que vai chutar dali, da cabeça da área, chutou, nossa uma bomba, espalmaaaaa Tiago, esse é o nosso goleiraço, naturalmente não passa nada Marco Auréliooooooooo..."

Assim prosseguiu Ondini até o final da espetacular vitória do JEC sobre o Avaí por onze a zero. Enquanto a torcida delirava e os foguetes pipocavam, Ondini desce até o gramado para entrevistar os jogadores. Começa falando com o zagueiro Pedro. Cumprimenta Mateus. Dá um abraço no Lucas. Pede a camisa para o João. Até que, ao aproximar-se do goleiro Tiago, fica com a expressão de quem descobriu algo e pergunta se o tal segredo do JEC era colocar o nome dos apóstolos nos jogadores. Parecia uma incrível coincidência, onze jogadores com o mesmo nome dos apóstolos e para completar todos marcaram um gol, inclusive o goleiro, concluiu ele. Tiago com um sorriso maroto responde que para enfrentar certos desafios é necessário uma equipe iluminada. Ondini sem perder a estribeira, e um pouco surpreso, sugere então que o treinador deve ser o homem. Nesse momento entra o roupeiro Judas, dá um tapinha nas costas do Ondini e confirma que o técnico é o Professor JC que se encontra no meio do campo com as mãos voltadas para alto - parecendo falar com alguém. Ondini muito desconfiado, mais sério que guri mijado, encerrou a transmissão e atravessou o campo resmungando:

--E eu que naturalmente duvidava de milagres... e agora José... quixadá nós... naturalmente não... ou naturalmente que evidentemente...

*Máximas de um locutor: prato da casa x prata da casa, céu brigadeiro x céu de brigadeiro, voto de crédito x voto de confiança,  quixadá x quiçá, erradicado x radicado, recondicionamento (automóvel) x condicionamento físico.

domingo, 26 de junho de 2011

Li, gostei e transcrevo

O Uruguai é um dos países economicamente mais desenvolvidos da América do Sul, com um dos maiores PIB per capita, em 52º lugar no índice de qualidade de vida (2010) e o 1º em qualidade de vida/desenvolvimento humano na América Latina, quando a desigualdade é considerada.

Segundo a Transparência Internacional, o Uruguai é classificado como o segundo país menos corrupto da América Latina (atrás do Chile), embora a pontuação do Uruguai seja consideravelmente melhor do que a do Chile em pesquisas de percepção de corrupção doméstica.

Foi o país latino-americano melhor classificado (33°) no Índice de Prosperidade Legatum promovido pelo Instituto Lagatum que classifica 104 países (Brasil 41°).

A Reader's Digest classificou o Uruguai como o nono país "mais habitável e verde" do mundo e o primeiro nas Américas.

O Uruguai foi o primeiro país sul-americano a legalizar uniões civis do mesmo sexo e de sexos opostos a nível nacional, o primeiro a permitir a adoção gay e a testar o cultivo de cânhamo.

Entre os anos de 2007 e 2009, O Uruguai foi o único país das Américas que não passou por uma recessão econômica técnica (2 trimestres consecutivos de retração).

O Uruguai é reembolsado pela Organização das Nações Unidas pela maioria dos seus gastos militares, visto que a maior parte desses gastos é implantada nas forças de paz da ONU.

Em 2009, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a oferecer um laptop e internet grátis sem fio para cada criança do ensino primário.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre e Google.

sábado, 25 de junho de 2011

Eu na cozinha

Sábado, dia naturalmente preguiçoso, pelo menos para mim. Então nada de grandes pratos e bagunças na cozinha. Por isso farei uma simples pizza de sardinha. Até rimou!

Foto da pizza a pedido da Adrielle!

Ingredientes:

1 Massa pré-cozida (prefiro a do Wal-Mart);
1 Lata de sardinha em conservas Gomes da Costa;
1 Cebola média picada;
2 Dentes de alho moído ou picado;
2 Tomates sem pele picado;
1 Tomate sem pele cortado em rodelas;
Queijo Mussarela em fatias;
Queijo Parmesão;
Óleo, sal, pimenta e orégano a gosto.

Modo de fazer:

  • Pré-aqueça o forno e ponha a massa por cinco minutos. É bom dar mais uma assadinha.
  • Numa panela junte a cebola e o alho com o óleo e doure por alguns minutos, acrescente o tomate picado o sal e a pimenta e deixe cozinhar por dez minutos ou a seu gosto.
  • Após o molho pronto, acrescentar a sardinha e mexer até misturá-la aos ingredientes já cozidos. Não cozinhe a sardinha no molho, pois fica amarga. Só acrescentar quando o molho já estiver pronto. Vale repetir aqui para não errar.
  • Pegue a massa, cubra-a com o molho, acrescente as fatias de queijo mussarela,  o tomate em rodelas, o queijo parmesão ralado e finalmente o clássico orégano a gosto.
  • Leve ao forno forno bem aquecido, é bom vigiar a partir dos cinco minutos e verificar na parte de baixo, quando começar a dourar... bingo... estará pronta a pizza de sardinha. 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Peixes e água

Quem em alguma situação se sentiu um peixe fora d'água ou percebeu que aqueles próximos não lhe eram cúmplices. Pois é, nessas ocasiões o bom senso determina o afastamento, já que tais companhias se mostram inconseqüentes ao nosso existir. Ora se não está em mim a disposição atlética, que estaria eu fazendo junto à comunidade esportiva. Só se em nome de algum escuso interesse, até aí seria compreensível, mas não coerente. Resumindo, água e óleo não se misturam. Daí a entender a incompatibilidade da convivência de certas idéias torna-se óbvio.

Semelhante juízo ocorre-me quando testemunho políticos manifestando-se contra seus pares através de declarações eivadas de lições de moral e eximindo-se de quaisquer atos ilegais ou imorais. Momentos em que não lhes faltam palavras acusatórias àqueles outros que lhes parecem os responsáveis pela péssima imagem da categoria - sem citar nomes, é claro. Utilizando-se de "verborragias" tecem argumentos ricos em “imbróglios" com o fim de evitar qualquer vínculo a membros que porventura estejam sob suspeita. Então, como verdadeiros alienígenas, passam a atacar o sistema e a estrutura do estado, isto é, são os outros, talvez do além, e não a classe toda que faz e dá moralidade às instituições políticas.

Por mais ingênuos e castos que ousem parecer em tais discursos, dificilmente convencerão de que não pertencem à mesma espécie. Pois se sabem e não denunciam são coniventes. Se sabem, denunciam e nada acontece, deveriam juntar-se a coerência de suas palavras e procurar outros mares. No entanto, o que se vê é um eterno balançar das ondas. Onde o maior interesse é cada um pelo seu...

Prá encerrar, desconheço que algum político tenha renunciado em nome da dignidade ou porque as práticas de seus colegas lhe feriam os princípios. Portanto, é de se imaginar que sejam todos peixes na mesma água!  

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dica de leitura > www.brasiliana.usp.br

Referido site traz um acervo interessante, dentre os livros antigos que baixei, transcrevo uma história:

ANACREONTE

LIVRO DA INFÂNCIA

Francisca Julia da Silva
1899
http://www.brasiliana.usp.br/

Em Téos, na Grécia antiga, havia um poeta que se chamava Anacreonte. Era velho, tinha os cabelos inteiramente brancos e as barbas aneladas e longas, que lhe cobriam o peito e lhe davam um aspecto simpático e venerado.

Era o homem mais feliz que havia. Como todos o amavam e o distinguiam com uma admiração sem limites, nada lhe faltava. Sua habitação ficava à beira do mar, cujas ondas, na enchente, vinham até á sua porta, quebrando-se em espumas alvas. Pela manhã, mal a aurora tinha nascido, as camponesas de Téos vinham em grupo trazer ao poeta o sustento do dia. Uma trazia um cântaro de barro cheio de leite gordo. Outra um púcaro de saboroso vinho espumante e frutas de todas as qualidades. Outra ainda um vaso de água pura para as abluções matinais do poeta. Depois untavam-lhe as barbas e cabelos com óleos aromáticos, perfumavam-lhe os pés com mirra e sândalo, e esperavam, sentadas no chão, os agradecimentos do velho.

Anacreonte ficava em pé, majestoso na sua inspiração poética, e, com largos gestos e voz grave, ia cantando as odes que tinha composto durante a noite, fazendo-se acompanhar a uma lira de prata, cujas cordas desferiam os mais melodiosos acordes. As raparigas saiam em seguida e atravessavam o campo em direção às suas casas, cantando as odes do poeta com suas vozes juvenis.

Os camponeses, que não podiam ir fazer ao velho a visita matinal, porque os impedia o trabalho da lavoura, a criação das ovelhas e o fabrico do vinho, contentavam-se com vir ao encontro das moças, para ouvir dos seus lábios as últimas composições de Anacreonte.

Assim vivia ele, absolutamente feliz, querido e admirado por todos, preocupando-se apenas com seus versos, indiferente a outros afazeres. Policrato, porém, tirano de Samos, curioso por conhecer o poeta, ouvir-lhe dos próprios lábios a poesia das suas odes, mandou chamá-lo.

Anacreonte, uma bela manhã, sobraçando a sua lira de prata encordoada de novo, com sua túnica de púrpura presa aos ombros, uma coroa de pâmpanos e heras em torno afronte, embarcou numa galera, e partiu mar afora. Policrato tinha ordenado que se preparasse um banquete real para festejar-lhe a recepção.

Anacreonte apareceu. Todos os que estavam ao redor da mesa, onde se ostentavam as mais extraordinárias iguarias, levantaram-se com as taças transbordantes e gritaram:

— Evohé! — que era o grito de satisfação dos gregos.

Anacreonte, então, em pé no meio dos convivas, admirável na sua roupagem de púrpura, empunhou o instrumento sonoro, arrancou um acorde e começou a entoar um hino de louvor a Policrato. Seus versos eram tão belos, tão inspirados, sua voz tão clara, que todos estavam suspensos de admiração, embriagados de poesia. Policrato aproximou-se do poeta, curvou-se em sinal de admiração ao seu gênio, deu-lhe uma bolsa cheia de moedas de ouro, e disse-lhe:

— Toma esta bolsa. É tua. Contém uma fortuna. Quero que sejas o homem mais poderoso de Samos. Amanhã cantar-me-ás uma ode igual a essa.

Anacreonte agradeceu. À noite, quando se retirou para os seus aposentos, começou a pensar na fortuna que lhe pertencia, nas terras que havia de comprar à beira mar, plantadas de vinha, nas ovelhas brancas pastando pelos outeiros no cortejo de escravos que havia de ter, na felicidade, enfim, que lhe dariam aquelas pesadas moedas de ouro. E não pode dormir, tal era a satisfação de que se achava possuído. Pela manhã tinha um aspecto doentio, os olhos amortecidos. Procurou Policrato e disse:

— Senhor! aqui está a vossa bolsa e o ouro que ela contém. Não a quero. Desde que a poesia bafejou minha alma, ainda se não passou uma noite em que não compusesse uma ode. Ontem, porém, a riqueza que me destes preocupou tanto minha imaginação, que não consegui dormir nem compor a ode que me pedistes. Adeus. Quero partir para Téos, pobre como vim, porém feliz na minha pobreza. Para que servem fortunas? Nada me falta. Tenho o bom leite, o excelente vinho, a água fresca para as minhas abluções e a amizade dos meus vizinhos. Esta é a minha riqueza. Adeus.

Post Scriptum: Em dias de febril consumismo, será possível encontrar algum Anacreonte por aí? Me avisem!

VOCABULÁRIO: 1 Aneladas, em feitio de anéis; enroladas. 2 Venerado, que se deve venerar; digno de respeito. 3 Cântaro, bilha, vaso de barro de boca larga. 4 Púcaro, vaso por onde se bebe água. 5 Ablução, ato de lavar-se; lavagem. 6 Unciar, esfregar. 7 Mirra, planta e gomina aromática. 8 Sândalo, árvore de madeira perfumosa. 9 Ode, composição poética. 10 Tirano, príncipe cruel. 11 Sobraçar, levar debaixo do braço. 12 Túnica, vestidura talar. 13 Púrpura, marisco donde se tira a cor vermelha, vestimenta. 14 Pâmpano, ramo de vide vestido de folha. 15 Hera, arbusto conhecido. 16 Galera, navio de três mastros. 17 Ostentar-se, mostrar-se com orgulho. 18 Empunhar, tomar pelo punho; segurar. 19 Outeiro, coluna, monte pequeno. 20 Cortejo, comitiva, acompanhamento.

Dia de feira é quinta

Quinta-feira das verduras. Lá fomos nós! Era rotina semanal comprar naquele supermercado - dia das ofertas. Ao chegar na seção hortifruti, iniciei-me na tarefa, primeiro as uvas, depois o mamão, as laranjas uma delícia, vamos levar. A "mama" se encarregava dos legumes e das verduras, eu era encarregado das frutas e nosso "bambino" ficava a pesquisar. Às vezes pedia casquinha para sorvete, noutras balas, brinquedos ou algum material escolar.

Seguíamos em nossa missão, eu olhando, escolhendo e empacotando, enquanto minha mulher agarrada nas batatas e nos tomates fazia a parte dela. Até que minha atenção voltou-se para um senhor cuja atitude em selecionar as mercadorias era incomum.

Parei de vez e permaneci discretamente a observá-lo. Aquele seu jeito era horrível. Simplesmente deplorável a maneira como manuseava as laranjas. Apertava-as com força e quando a fruta começava a murchar, deixando quase escorrer o caldo, atirava-a de volta à caixa. Assim ia catando aquelas que lhe interessavam. Fiquei perplexo com aquele método. Que falta de urbanidade, que falta de respeito ao supermercado e aos próximos compradores de laranjas.

Meio incrédulo ainda, continuei a campana e fui ao céus quando ele aportou nos abacaxis. O cara cutucava, espremia, lançava sem o menor pudor uns por cima dos outros, até encontrar aquele que estivesse de acordo com seu critério. Sentia-me incomodado, não compactuava com aquelas atitudes. Continuei fazendo o que me era possível. Foi quando o vivente aproximou-se dos tomates que minha paciência quase esgotou. O cidadão demonstrando estar nem aí para os outros ou para o mundo, típica atitude egoísta e sem respeito aos demais. Continuava a danificar os tomates que não levaria, escolhia os melhores e aqueles que recusava ficavam piores do que estavam. Imaginei o que passaria pela cabeça daquele animal. Sim, animal, comecei a praguejá-lo mentalmente, chamá-lo de filho disso, sem educação, cadê o respeito pelos demais. De pouco adiantava minha ira, pois lá estava o infeliz, apertando, jogando, danificantdo as mercadorias que passavam pelas suas mãos.

Resolvi deixá-lo de lado, pois meu estômago fervilhava e fui para a fila do caixa. Enquanto aguardava, para minha surpresa, eis que surge do nada o animal e na maior cara-de-pau fura a fila, passa na minha frente e de mais três pessoas. A mocinha do caixa atendeu-o sem dizer nada. Nós na fila, ficamos parados, com cara de quem é passado para trás. Naquele instante, mentalmente o chamei de desgraçado, ignorante e num desabafo, murmurei: "um dia tu ainda vais pagar pelas tuas atitudes animalescas".

Passamos pelo caixa com meu filho que naquele dia resolveu escolher uma bola, é um garoto econômico, gastou de acordo com o valor da mesada. Quando chegamos no estacionamento, quem eu vejo? Inacreditável, o animal gritando como um louco desatinado, ninguém conseguia entender o que aquela figura pronunciava. Dava chutes em seu carrinho de compras, socos nas mercadorias e batia com os pés no chão, ali percebi que não era à toa imaginá-lo um quadrúpede. Pois agia como um touro bufando, espumando e ralando os cascos no chão. A gritaria foi tão grande que se formou pequena multidão à sua volta, aproximei-me o suficiente para ouvir alguém dizer que roubaram o carro dele. Com um discreto e irônico sorriso, imaginei se aquilo significava providência divina ou aqui se faz, aqui se paga.  Bem-feitoooooo animaaaal  ?!?.

Post Scriptum: Cuidado ao lançar maldição em alguém, pode dar certo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Guri é guri

Ilustração Tácio 6 anos

Guri não tem jeito, inventa cada uma. É quando a adolescência começa a vislumbrar o mundo que virá pela frente. E até chegar o tempo de crescer vale quase tudo, inclusive reunir-se com os amigos em busca de aventuras como a que curtíamos muito: nadar em qualquer lugar. Sei lá quem descobriu aquele sítio. Num sábado à tarde, verão de matar, turma reunida em um barranco. Não menos que dez bagunceiros lagarteando, quando alguém sugeriu que poderíamos ir num lugar trilegal.   

Faltou tempo para contar os detalhes, pois lá estávamos de calção, chinelos, alguns com camiseta outros sem, rumando para mais um dia festivo. Iniciamos a jornada por uma estrada de chão batido, no final do bairro. Foram quase dez quilômetros a pé, momentos de pura diversão. Corríamos atrás dos queros-queros, atirávamos pedras nos palanques, empurrávamos alguém pelas ribanceiras abaixo, só para vê-lo rolando entre o capim. E quando o cansaço surgiu, a visão do açude logo abaixo nos inebriou. Era só transpor a taipa e correr uns duzentos metros para cair na água.

Queríamos nadar e pular de cima do trampolim improvisado para chegar ao fundo, os peixes não interessavam, o negócio era a festa da caminhada e o frescor da água. Em meio aquela dezena de garotos surgem as mais variadas estripulias, alguns querendo esconder as roupas, outros mais sacanas desejando jogar os que não sabiam nadar no local mais profundo. Havia aqueles que nem chegavam perto da água, ficavam inventando moda, comendo as frutas, correndo atrás das vacas e das ovelhas. Seguíamos animados sem perceber que o tempo voava, quando alguém gritou que deveríamos ir para não chegar em casa à noite. Vestimo-nos e caminhamos em direção à estrada. Quando alguém gritou... "olha o home". Foi uma correria e quando olhamos para trás, não tinha homem algum, foi mais uma brincadeira daquelas.

Continuamos e mais alguns passos à frente, de novo: "olha o home"... a metade da turma foi, a outra ficou parada, olhamos para trás, nada de homem. Aquilo já estava enchendo o saco, pensei. Seguimos, e a uns cinqüenta metros da saída, alguém grita: "olha o home"... foi uma “debandada” geral, menos para mim que não estava mais achando graça naquilo. Mas algo me chamou a atenção, todos correram, menos eu, olhei e pulavam a cerca aos gritos de "olha o home" ... "olha o home" ... corre ... corre.

Para meu desespero, virei-me e vi "o home" em seu cavalo num galope daqueles. Não tive tempo nem de piscar, senti quando num abraço pegou-me pela barriga e jogou-me sobre a sela. Galopando ainda, pulou pela cerca em direção à turma que debandou geral. Eu ali, balançando sob as mãos "do home" e vendo meus companheiros perderem os chinelos ao entrarem arrastando-se no mato. O homem era o capataz da propriedade e estava ali para defendê-la de intrusos. Após dizer-me isso, arrancou minha roupa e atirou-me no chão.

Mais apavorado ainda, levantei-me e corri sem olhar para trás, meu coração a saltar pela boca. Após alguns minutos reduzi o passo para tentar encontrar alguém, mas desapareceram, nem sombra deles. Depois de cobrir as “partes baixas” com macega, segui lentamente pela estrada de chão batido e quando desceu a noite, próximo de casa, surgiu um dos aventureiros. Deu-me sua camiseta, sem antes quase chorar de rir ao ver-me pelado com uns galhos nas mãos. Vesti-a como um calção, as mangas entraram bem, ficou aquele buraco da gola no meio das pernas, mas de longe e no escuro, era um bermudão. Olha o “home” rsrsrsrs...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Neologismos

Nos conhecemos na época em que era um cavalante e ajudava meu tio nas lides campeiras. Era um sujeito cheio de iniciativas, sempre alerta para as necessidades da estância. Não havia tempo feio, com chuva ou sol a pino, lá estava a conduzir os rebanhos. Até o dia em que o velho pecuarista foi visitar o patrão de cima e a família rifou as terras, pois geralmente os herdeiros pouco avaliam aquilo que lhes chega de graça.

Aí então o cavalante tornou-se um bicicletante na cidade, pois era inviável continuar com seu cavalo pelas ruas cobertas de paralelepípedos lisos qual sabão, ainda mais em dias de chuva quando até a pé era perigoso acelerar o passo. De peão de fazenda a vendedor de picolé no verão e de milho cozido no inverno, assim meu amigo conduziu sua vida por um bom tempo, aguardando outra oportunidade qualquer. Vieram os invernos, os verões e os anos se foram sem apresentar qualquer novo meio de vida. Cansou da espera. Desiludido seguiu para a estrada e virou um esmolante sem rumo. Seguia os ventos. Hoje para lá e amanhã acolá.

Em sua cabeça não existia o presente nem o futuro. Vivia a ruminar as boas coisas de um passado que lhe fora generoso quando viveu como gente de verdade. Alguém útil prestando um serviço capaz de render-lhe a boa sobrevivência. Além de propiciar cavalgadas, mergulhos nas lagoas, comer frutas no pé, juntar pinhão, engraxar o bigode numa costela gorda, sorver o chimarrão ao cair da tarde e nas noites de frio a chorosa gaita a aliviar a alma ao pé do braseiro. Revolvendo essas felizes lembranças, seguia pela beira da estrada até que numa curva foi alvo dum veículo desgovernado.

As luzes voltaram em um quarto de hospital ao lhe comunicarem o ocorrido e quais as seqüelas. Resignou-se e imaginou para quem um dia já foi cavalante, bicicletante e esmolante pouca diferença faria em se transformar num cadeirante. E assim, com os passos limitados, foi acolhido numa casa de recuperação onde passa os dias sob os cuidados de uma prestativa enfermeira que adora contação de histórias e acredita que desta forma leva conforto aos deficientes do abrigo. Meu amigo não esperava nada, logo adaptou-se à sua nova maneira de sentar e andar. Assim o que viesse seria lucro e veio após alguns dias quando percebeu que além de cavalante, bicicletante, esmolante e cadeirante tornara-se também escutante da jovem narradora.

Neologismo: atribuição de novos sentidos a palavras já existentes na língua (cavalante – bicicletante – esmolante – cadeirante – escutante). Nada diferente dos novos sentidos que meu amigo encontrou pela vida à fora. E tem gente que ainda pergunta para que servem as metáforas?!?!? 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Modas dum diletante_Edição 01


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Faz parte da primeira edição, um aforismo de Voltaire que imaginei ser um lema ideal a ser perseguido através de minhas escritas: " Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las."

164 Palavras sem comentários

"Torna-te aquilo que és."

"O Estado é onde todos bebem veneno, os bons e os maus. Onde todos se perdem a si mesmos, os bons e os maus. Onde o lento suicídio de todos se chama "a vida"."

"O que nós fazemos nunca é compreendido, mas é só elogiado ou condenado."

"Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse."

"Homens convictos são prisioneiros."

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Aonde leva? Não perguntes, siga-o!"

Friedrich Nietzsche

Oportunidade e atitude

Homens e mulheres são diferentes, não significa dizer desiguais em direitos e deveres. No entanto, passam os anos e persistem as correntes dos machões a alardear que homem pode isso mulher não pode aquilo. Da mesma forma as feministas percorrem os caminhos nem tão alvissareiros para confrontar o direito a igualdade. Vejam nos bares o percentual de mulheres levantando o copo ou aquelas que se iniciam no mundo das drogas, do crime - números crescentes. Talvez haja aí um confuso discernimento entre igualdade de oportunidades versus igualdade de atitudes.

Oportunidades perseguimos todos e independe o sexo. Mas atitudes,  têm as inerentes femininas e inerentes masculinas. Facilmente percebe-se isso ao assistir uma partida de futebol feminino. Tradicional esporte masculino há mais de um século em nosso país e que há poucos anos caiu no gosto das meninas. Confesso que me cativa e muito. É numa partida entre garotas, consigo vibrar, além de reviver o encantamento produzido pelo futebol que há muito se contaminou pela testosterona dos machos em campo.

Num embate feminino a bola rola como adoramos ver. São noventa minutos de intensa competição, raros golpes baixos (faltas intencionais). Não há atletas ganhando tempo ou provocando a torcida adversária. É lindo ver o futebol jogado como determina a regra. Onze de um lado contra onze do outro, onde sobressai a vontade, a participação e o espírito esportivo em alto grau. Do primeiro ao último segundo persiste a imutável disposição em se atingir a meta adversária, isso é visível e encanta.

Encanta também a saída das meninas, que numa atitude feminina, agradecem a torcida de ambas as equipes, mandam beijos e abraços, além de saírem lado a lado com as adversárias não importando o resultado. Vou continuar torcendo para que a atitude feminina avance em nossos gramados, pois a oportunidade é igual para todos, como eu disse, e cabe ao torcedor escolher que tipo de atitude dentro de campo melhor apetece. Para mim não há dúvida. Nesse caso acredito que a competência da atitude feminina dá um brilho muito especial ao esporte culturalmente masculino.

domingo, 19 de junho de 2011

Galo "véio"

Sou do tempo em que possuir um galinheiro no quintal era privilégio de muitos. Era lá que junto com minha mãe apanhava os ovos. Ingredientes indispensáveis ao nosso cardápio, desde o simples frito até os elaborados quitutes para os dias de festa. Sem falar das penosas que aos domingos resolviam rechear nossa panela acompanhadas de polenta e salada verde da horta conduzida pelas mãos de meu pai. Lembro-me de quão significativa foi a passagem daquele galinheiro em minha vida, pois além de auxiliar na nutrição de  nossa sobrevivência, preencheu minhas necessidades de jovem observador.

Ficava longo tempo de olho no comportamento daqueles bípedes emplumados. Eram dezenas de galinhas, muitos pintos e um galo que passava o dia perseguindo suas donzelas. Admirava-me com a insistência e falta de critério ao efetuar suas escolhas. Se a carijó lhe chamava à atenção, de pronto lá estava o "galo véio" a perseguí-la. Matava as bichinhas no cansaço. Eram voltas e mais voltas até consumar o ato.

Passaram os anos, vieram os supermercados e os galinheiros tornaram-se nostálgicas lembranças que vez por outra passo a invocar. Principalmente quando estou em meio ao dito progresso dos dias atuais e observo as pessoas correndo de um lado para o outro, imagino-as procurando seu milho de cada dia. Sem me esquecer daquelas com os pintinhos embaixo das asas que se desviam dos obstáculos oferecidos pelo nosso modo urbano de viver. E o galo véio, cadê ele, indago-me!

E por incrível coincidência era meu tio. Sim, meu simpático e adorável parente carregava a sina daquele bípede que tanto mexeu com minha imaginação lá naqueles tempos de guri. A insistência e falta de critério na escolha das namoradas levaram-me fatalmente a comparação. Não há como negar que o homem era um verdadeiro "galo", pois diariamente rodava as praças da vida a cata de suas almejadas musas. Encontrava numa esquina, largava na outra e partia para novo ataque. Pouco importava a altura, cor dos olhos, religião, profissão, idade ou cor, inclusive era aplicado amante entre as deficientes físicas de muletas, cadeiras de roda, cegas, etc. Chamou... lá estava ele.

Certo dia, contaminado pelas minhas observações, disse-lhe: - E aí galo véio, e as gatas! Como resposta recebi um tapa na orelha de zunir o ouvido e um comentário curto e grosso: -Respeita teu tio, piá de merda! Enquanto me recuperava da tontura, lembrei-me do belo ensopado que aquele velho reprodutor de galinhas transformou-se... Fica o registro de saudade de um tio que muitas marcas em minha vida deixou.

sábado, 18 de junho de 2011

Urubus de plantão

Recentemente veio às manchetes a prisão de um casal usuário de "crack" sob acusação de induzir a própria filha de dois anos a ingerir droga que lhe ocasionou o sufocamento e conseqüente chamada dos bombeiros para os primeiros socorros. Após a hospitalização da criança e a detenção da dupla, os comentaristas de programas de rádio e televisão locupletaram-se. Travestidos de paladinos da justiça e da moral, não pouparam palavras acusatórias aos dois "nóias" carcomidos pelo vício.

Ai então ouvimos inúmeros discursos de especialistas em lamentos cada qual à sua maneira: é falta de Deus, é falta daquilo, é falta de vergonha na cara, é psicológico, entre outros tratamentos meramente depreciativos que não vale aqui repetir. Pois ficar rondando qual urubu não é meu ânimo. O que me trouxe a este assunto é perguntar se ninguém percebeu que dois malucos viajando sob os delírios da droga dificilmente atentará o que se passa ao redor ou duvido que dois fissurados jogariam fora uma "pedrinha". Provavelmente os miseráveis nem sabiam onde estavam, tampouco que eram um casal e tinham uma filha. Típicos zumbis... comportamento facilmente comprovado em qualquer beira de rua onde esse pessoal pratica seus rituais. E ainda, uma criança de dois anos coloca qualquer coisa na boca, inclusive veneno. 

Essa facilidade em julgar, detonar ou abusar nos comentários arrasando pessoas pobres, geralmente sem condições de defesa, parece ser a matéria de sobrevivência de oportunistas de plantão cuja conduta moral, que tanto apregoam, em tais casos deixa a desejar.

PS: E nas entrelinhas... é triste perceber que o real motivador de um infeliz fato como este é tão somente a valiosa audiência!?.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Masoquistas

Masoquista é quem se deleita com o próprio sofrimento. Tal conceito, em nossa frágil democracia, tem se revelado um perfeito ingrediente a colorir as relações sociopolíticas.

De um lado aqueles cujas atitudes a cada dia que passa se mostram autênticas tiranias contra a multidão de apáticos viventes. São cruéis atos de total desconsideração ao bom senso. São as artimanhas arquitetadas com o único fim de abocanhar o patrimônio público. Dia após dia, surgem novas modalidades de burlar as regras e locupletar-se... não falta criatividade, tampouco colaboradores se o objetivo é meter a mão! E dessa maneira se realizam, tal como sádicos em suas ambições de prazer, de status, de alegria, de poder, de levar enfim uma tranqüila vida dos deuses.

Na outra ponta uma multidão de contribuintes, em todos os sentidos, completa essa doentia relação. São os milhões de iludidos, milhões que acreditam no valor das leis estabelecidas, milhões que diariamente só conseguem vislumbrar a simples sobrevivência e que diante desse desafio, anestesiados pelo esforço desprendido, crêem que a realidade é isso e nada pode ser diferente. Típico de quem aprendeu a viver no sofrimento. E por isso ignoraram os benefícios de uma existência dentro dos mínimos padrões de decência e qualidade. Longe da massa a sustentar a oligarquia dos eleitos.

Acreditar que avançaremos é nossa cota de esperança... no entanto, lutar, buscar, tentar, fazer e principalmente assumir a responsabilidade pelo bem comum é dever de todos, caso contrário a multidão nunca passará de masoquistas a serviço da outra parte...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Nada como um dia após o outro

Num planeta globalizado, onde as notícias circulam em tempo real, praticamente inexistem lugares desconhecidos ou muito menos lá-nos-cafundós - como ouvíamos falar em décadas passadas. Dias em que as novidades chegavam sempre com alguns meses ou até anos de atraso em comparação aos grandes centros.

Hoje com a internet e as tecnologias disponíveis, um protótipo desenvolvido numa indústria qualquer em Santa Catarina, já é conhecido pelo futuro usuário esteja onde estiver. Pois lá também chegam as últimas ainda quentinhas, pouco importa se é para uso ou luxo de uma tribo indígena no estado do Amazonas. Ninguém está fora dessa revolução, sobretudo quando a maioria dos segredos são revelados em segundos pelo "tio Google".

Entretanto, parece que para alguns o mundo permanece paralisado no século passado, talvez lá pelos anos setenta. Época onde era comum pessoas das capitais chegarem às cidades do interior como fontes portadoras das novidades. Condição que em muitos casos lhes abria várias portas, além de premiá-las com status nem sempre abocanhado nos locais de origem.

Diríamos que essa necessidade de massagear o ego é inerente à vaidade humana, mas quando os métodos se tornam obsoletos é deprimente testemunhar pessoas arvorando-se "as tais" devido à origem. É a famosa: Eu sou de São Paulo?... Eu sou do Rio? de Janeiro, é claro?... Eu sou de Porto Alegre?... E DAÍ... Eu sou de Vacaria!... Eu sou de Lagoa Vermelha!... Eu sou de Lages!... Eu sou de Joinville!... E daí.

Quiçá

Na farmácia, ao efetuar o pagamento, a moça do caixa insiste em saber se tenho o cartão, assim acumulo pontos. Pergunto-lhe se somente o dinheiro serve, devolve-me um sorriso e sinaliza que sim. Justifico dizendo que fidelidade conquista-se, sem considerar que liberdade de escolha não tem preço, pois permite-me a entrada em qualquer estabelecimento livre de vínculos virtuais. Novamente com um simpático sorriso, dá a última palavra, diz se eu mudar de idéia é só procurá-la. É grátis.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dica de leitura > Arthur Schopenhauer

Repetitio est mater studiorum [A repetição é a mãe dos estudos.]
Todo livro minimamente importante deveria ser lido de imediato duas vezes, em parte porque na segunda compreendemos melhor as coisas em seu conjunto e só entendemos bem o começo quando conhecemos o fim; em parte porque, para todos os efeitos, na segunda vez abordamos cada passagem com um ânimo e estado de espírito diferentes do que tínhamos na primeira, o que resulta em uma impressão diferente e é como se olhássemos um objeto sob uma outra luz.
(Arthur Schopenhauer / A arte de escrever / Ebook Grátis)

Tugui-sugui

Histórias de pai e filho

Por Gilrikardo

TUGUI-SUGUI



Ilustração Tácio 5 anos

Percebo que, em determinados momentos, eu é quem sou o aprendiz na história.
Como na ocasião em que meu filho de cinco anos pediu para desenhar com pincel atômico. Dei-lhe diversas folhas e um local apropriado para desenvolver sua “arte”. Ficou fazendo figuras que mostrava e interpretava para mim: avião, barco, céu, entre outras. Após alguns minutos de explicação foi-se embora, sem nada dizer. Logo em seguida precisei do material e cadê? Revirei a oficina de cima a baixo e nada.
Chamei o desenhista para tentar descobrir o que havia feito. Ao chegar apontou-me os locais onde porventura laragara. Procuramos aqui, ali, acolá e nada. Falei da importância daquele objeto para minha atividade e que estava perdendo a paciência. Enquanto isso mostrava-se interessado em ajudar. Vasculhava embaixo dos móveis e da bancada, sem no entanto obter sucesso. Então perdi a estribeira e soltei o verbo:
--Filho!, assim não dá, na próxima vez que você pedir o papai não vai emprestar. Você extravia.
Outra vez, aquele garotinho com a cabeça na altura de minha barriga, habilmente soluciona o impasse.
--Ahhhh...papai! eu estava aprendendo mágica e quando falei "tugui-sugui" o pincel sumiu. Tenho que aprender uma mágica para ele aparecer.
--Barbaridade! E agora guri...
Passados alguns dias, o pincel foi localizado embaixo de um armário, entretanto ficou a marca do meu “tugui-sugui”.