Na tevê o pastor vociferava o destino dos justos e dos ímpios, falava da verdade que a poucos se manifesta. Isso despertou minha curiosidade e permaneci atento ao desenrolar daquele culto que após algumas passagens bíblicas pinçadas não ao acaso, levaram a platéia sensibilizar-se e de pronto abraçar o envelope destinado à contribuição para a "obra de deus". O dízimo. Aí um clarão iluminou meu discernimento e também percebi a verdade. Ciente de que estava correto em minhas conclusões, saí porta à fora para comprovar na prática aquilo que a mim se revelou.
Na primeira esquina, aproxima-se um jovem e seu carrinho de sorvetes, ali encontrei a verdade. Sem a qual inexistiria a possibilidade de eu refrescar o paladar com o sabor de limão gelado sob um sol escaldante de trinta e poucos graus. Sim era a verdade. Acreditei. Segui em frente rumo aos desafios de confrontá-la com quem cruzasse meu caminho naquele dia. Ao aproximar-se o lotação, mais uma vez a verdade. Como negar que ela não estaria movimentando aquela multidão de trabalhadores suados e com as caras amassadas após mais uma jornada. Era verdade. Acreditei. Segui no lotação e tão logo desembarquei, aproximou-se de mim um velhote com cara de quem bebeu todas e pediu-me algum trocado. Era verdade. Neguei-lhe as moedas. Para beber não. Era verdade.
Ainda seguindo em frente, do outro lado da rua os cartazes anunciavam a verdade. Em suaves prestações de apenas alguns reais por longos cento e oitenta meses você faria parte da verdade. Isso é a verdade. Circulando. Levando. Trazendo. Fazendo. E as pessoas ainda se dizem descrer da verdade. Ou dizer que a verdade é relativa. Mesmo que ela se manifeste a cada passo... em cada esquina... Pois se é verdade... como ignorá-la. Como fazer de conta que não existe. É impossível negar que somos sustentados, que somos movidos, que somos humilhados, que somos explorados, que enganamos e somos enganados... pelo desejo de lucro. Eis a verdade: o lucro. Sem o qual nossa vida neste planeta se tornaria inviável.
O dinheiro, o poder, o consumismo, o desejo do lucro...
ResponderExcluirA vontade cega que nunca será suprida....
lucremos, pois para que sejamos também participes da verdade...
ResponderExcluirLeomauro