terça-feira, 4 de outubro de 2011

Em louvor ao aeiou

Beirava próximo dos quatro anos de idade e a cena permanece marcante. Foi amor à primeira vista ao mirar o jornal sendo dissecado pelo meu avô. Encantei-me pelo modo que o conteúdo das folhas lhe roubava a atenção, a ponto de nem perceber minha existência. Extasiado frente a instigante descoberta, determinei-me em decifrar aqueles rabiscos.
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Com o destino traçado, parti em busca de subsídios essenciais à jornada:  colecionar recortes de jornais, revistas, gibis, calendários, entre outras fontes de "inspiração". Após farta munição, lancei-me na arte ao copiar e ligar as letras aleatoriamente. Combinava TMCP e mamãe logo apontava ser impossível ler sem explicar o porquê. Novo exercício e lá voltava com outras opções: MCVA. Opa! Nessa escrita ela leu o final, VA. Aí entendi que a vogal A estava no lugar certo.
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Depois de inúmeros vaivens, descobri que A-E-I-O-U aparecia com maior frequência. Isso levou-me ao encontro das consoantes e culminou com a primeira grafia consciente, isto é, sabendo o que surgiria, redigi meu nome. Ricardo. Fato ocorrido antes de entrar na escola aos seis anos.
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Desde então minha ventura literária prossegue pelo caminho das pedras do autodidata. Para alguns, louvável forma de aprendizado. No entanto, tenho dúvidas se no mundo contaminado por velocidades tal prática revele-se atrativa. Devido ao dispendioso tempo em pesquisas somado a dor e as incertezas inerentes a quem busca conhecimento desbravando por si mesmo.
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Apesar dos percalços, a paixão grita mais alto e persiste em levar-me ao êxtase qual na primeira vez, ao devorar livros, degustar ensaios, saborear artigos, além das opções disponibilizadas pela generosa internet. É nesse turbilhão de combinações alfabéticas que viajo, vou acima das estrelas para no instante seguinte voltar ao século ou milênio anterior.
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Frente a tantas possibilidades, rendo-me à virtude exploratória cujos benefícios utilizamos geralmente sem nos perguntar como surgiram ou quantas barreiras ultrapassaram até nos servirem.
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Entretanto, imagino que tal força seguirá latente a nos impulsionar rumo ao infinito. Amoldando nossa disposição de empreender, muitas vezes solitariamente, na superação de desafios em prol do bem estar humano. É o simples evoluir. É o A-E-I-O-U trazendo-me até aqui.