domingo, 25 de dezembro de 2011

Vaidades

Dois fatos similares causaram certa “controvérsia” em nosso meio. Um propagou-se com grande alarido quando determinada escola recebeu (para meu desencanto e acredito que de muitos munícipes) o nome de um servidor oriundo dos quadros da prefeitura municipal; o outro, resumiu-se na tentativa de se apor o nome do atual prefeito no estádio municipal.

Triste notícia, pois presume-se que de tais homenagens deveriam germinar os melhores e mais éticos exemplos para nossa formação moral. No entanto, o que percebemos nessas iniciativas é a vaidade falando mais alto, pois deixou transparecer um certo grau de oportunismo para não dizer simplesmente egoísmo. Já que biografia de pessoa em vida ainda está incompleta e assim passível de algum deslize até o fim da jornada.

Por outro lado, a história nos dá casos e mais casos de personas que somente após a morte surgem como símbolos de veneração. É fácil entender e aceitar, pois se em vida contribuiu para o bem comum, naturalmente terá sua memória cultivada por muitos. E dessa maneira o exemplo dos atos que construíram respectiva biografia faz sentido, traduzindo-se em modelo a ser copiado.

Isso é compreensível e até natural dentro de nossa cultura, de outra forma devemos repudiar quando, por decreto, determinam ou elevam alguém a imortalidade simplesmente registrando seu nome em uma placa ou fachada de algum patrimônio público com o intuito, ao que parece, de angariar possíveis dividendos pessoais ainda em vida.

Assim, a personalidade que deveria ser um modelo de história a nos inspirar, seja pelas nobres realizações ou elevado comportamento perante à sociedade, ao desejar a veneração em vida, transforma-se em um retrato minúsculo da acomodação de objetivos alheios que se prestam apenas para fortalecer as ambições espúrias de alguns homens ditos públicos. É um mau exemplo contribuindo para a formação de nossos cidadãos cujo orgulho patriótico deriva-se de símbolos produzidos em nossa cultura.  

Tal proposição de se batizar prédio público com o nome de um cidadão em vida, reflete que estamos muito longe, e põe longe, de um comportamento voltado aos bons princípios. Como acreditar que essa prática não perdure ou evolua a médio prazo, se os principais responsáveis por professar e construir o exemplo são os primeiros à contaminarem-se por motivos mesquinhos cuja mácula atinge em cheio nosso maior patrimônio: a educação.

Post Scriptum: "Somente depois de teres deixado a cidade, verás a que altura suas torres se elevam acima das casas." (Nietzsche).
Por analogia ou em outras palavras, eu diria: somente após a morte, seremos julgados merecedores ou não de veneração.

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