sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O PT que a maioria não vê

Gilrikardo diz: O atual prefeito em entrevista de 21/07/2007, um ano antes de chegar à prefeitura. Vejam o que era crítica, transformou-se em prática, e com mais vigor, pois agora em 2012 foi acusado de praticar a politicagem que ele condenou antes de chegar ao poder, confiram na parte assinalada logo abaixo.
Entrevista: http://www.an.com.br/ancidade/2007/jul/21/3ger.jsp


Carlito Merss | deputado federal

A Notícia – Em eleições anteriores, a sua candidatura estava decidida com uma certa antecedência. O que está havendo hoje?
Carlito Merss Eu fico muito triste em ver o que está acontecendo com minha cidade. Você anda nos bairros, acabou. Esquecem tudo, seguram, não fazem, mas quando faltarem seis meses, põem tubos e placas para enganar o povo. O que estou vendo? Na saúde, na segurança – que não é necessariamente do município –, educação, infra-estrutura, tudo abandonado. Não há uma obra de vulto na cidade que não tenha dinheiro do governo federal. Isso me incomoda republicamente. Até na Arena, no campo de futebol, tem R$ 1,2 milhão do governo federal, do Banco do Brasil, que a gente viabilizou na primeira fase.


AN – Do que depende a sua candidatura?
Carlito – Depende de viabilidade. Tenho dito isso dentro do partido e para as pessoas de outros partidos com quem a gente tem feito algumas conversas. Fui candidato quatro vezes. Em 1988 não conta porque foi fundação do partido. Mas de 1996, principalmente, em 2000 e 2004 a gente disputou para valer. Talvez a maior chance tenha sido em 2000.


AN – O que a eleição de 2008 terá de diferente?
Carlito – A cidade vai dizer se será diferente. O modelo implantado em Joinville tem 30 anos. O modelo é um governo para poucos. Para os interesses do setor privado. Esse é o problema de Joinville. A lógica da obra, a lógica da administração é para atender os interesses do setor privado. De amigos, o que é mais grave.


AN – O senhor não vê diferenças entre os governos de LHS e de Tebaldi?
Carlito  O modelo é igual, o que está mudando são os grupos. Tanto é que está esse racha no PMDB. Alguns grupos estão sendo literalmente colocados de lado. Não sei até onde vai essa questão do Rodrigo Bornholdt. Não tenho muito claro. Eu escuto argumentos de que o Rodrigo foi para o PDT sob ordens do Luiz Henrique. LHS quer que ele cumpra uma tarefa de candidatura. Por quê? Quem está determinando hoje a eleição em Joinville é o Jorge Bornhausen. Ele disse, eu sei de fonte segura, que a única forma de não perder a eleição é jogar diversas candidaturas no primeiro turno. Isso é uma decisão dele. E está sendo obedecida, pelo que estou vendo. Então, só voltando à questão do Rodrigo. Eu conversei com ele e ele disse que foi uma divergência profunda com o governador. Que ele quer procurar seus caminhos, pelo lado mais progressista. Parece que não sentiu espaços dentro do PMDB. A postura que estou vendo dele dentro da Fundação Cultural é muito interessante, tem procurado resgatar a história, tem tido programas junto aos setores culturais, já falei isso publicamente na abertura da Conferência de Cultura.


AN – O senhor acredita que a tríplice aliança não vai estar junta?
Carlito – Há interesses que querem, mas por exemplo, o PSDB e PFL são a mesma coisa. Aliás, o PSDB de Joinville é o PFL. É só ver de onde apareceram todos do PSDB. O próprio prefeito veio do PFL. Sempre foi ideologicamente. A única diferença é que na base do PMDB, a qual eu tenho muito respeito, na qual eu militei, a gente percebe militantes constrangidos. Ficamos 35 anos lutando contra as oligarquias e agora vemos as oligarquias comandarem o PMDB. Isso não bate. Basta ver a reação de alguns, do João Matos, do Edinho Bez. Eu conheço o velho MDB de Joinville. Sei o que cada um passou na luta contra a ditadura, na luta contra a Arena (o partido), contra as oligarquias, para ver um projeto trocado por interesses pessoais.


AN – O PT de Joinville pode se aliar com o PP, que é sucessor da Arena.
Carlito – A raiz do PP é. Mas as figuras que controlam o PP nos últimos quinze anos na cidade são pessoas corretas. O que há contra o Voltolini, o Coronel Lourival, o Kennedy, o Guilherme Voss, a Carmelina Barjona. Tanto é que nossa relação partidária desde 1996 é a melhor possível. É respeitosa. Há uma diferença de eu ter divergências com o Voltolini, mas nunca teve uma política de chute na canela.


AN – O PT vai fechar com o PP em Joinville?
Carlito  Existem conversas preliminares. O PP tem sido um partido no governo Lula mais fiel que até parte do PMDB. Você faz acordos pontuais e fecha. O PP em Brasília tem uma postura correta. A gente vai perceber lá por maio (de 2008) se a cidade quer mudar.


AN – Que modelo é esse que está em Joinville?
Carlito – A cidade vai ter que dizer se quer esse modelo de administração para amigos.


AN – O que está ruim em Joinville?
Carlito – Todas as áreas sociais estão péssimas. Se você pegar saúde, educação e segurança, é só fazer o levantamento. É triste o que acabei de ver. Estava no Hospital São José. A obra parada. Não tem um tostão do governo municipal e estadual. O último repasse do governo federal está trancado porque não tem contrapartida. O PA do Aventureiro só está andando por causa de nossa emenda.


AN – A Prefeitura alega ainda não dispor de recursos para manter o PA em funcionamento.
Carlito – Mas foi uma decisão deles. Eles solicitaram a emenda a mim e ao Paulo Bauer. Então não falem isso. Vão cometer mais um erro, igual ao do Hospital Infantil? Fui o único vereador em 1993 que se colocou contra a construção do Hospital Infantil. Disse claramente que era um elefante branco. Foram gastos R$ 60 milhões, alguns interesses de algumas campanhas foram pagos ali.


AN – Com o governo Luiz Henrique, Joinville deixou de ser a quinta roda da carroça?
Carlito – Me cita uma obra do governo do Estado em Joinville. Uma de interesse da cidade. Tem o campo de futebol. Tem mais uma? Segurança? Tinha sete delegacias de polícia funcionando, hoje tem duas. Educação: eu sou professor da rede estadual. Chegou a ter sete escolas interditadas pela Vigilância Sanitária. Viadutos? Vai a Florianópolis e hoje tem pelo menos três em construção. Não pode ter viaduto em Joinville. Esse eixo de acesso sul é a obra mais vergonhosa que vi na minha vida.

AN – Pois é, uma obra que ainda não foi inaugurada.
Carlito – Ela estava pronta no Ministério dos Transportes em julho de 2002. Um projeto mal feito. O Dnit faz sua obra na BR e vai no máximo a 300, 400 metros dentro da cidade. Fizeram um projeto que não suportaria o tráfego. Não tinha iluminação, não tinha nada. Primeiro eu e o ex-deputado Adelor Vieira tivemos que provar no Dnit que a obra não estava pronta. Foi difícil. Só agora, com todas as dificuldades impostas pela Prefeitura – pode checar isso, a indenização do último terreno saiu em fevereiro. Todo mundo sabe disso, mas as críticas eram só para o governo federal. Teve problemas com a empreiteira, o contrato teve de ser refeito. A campanha de 2004 foi decidida pelas obras. Aquelas fotografias, os canteiros de obras. Só que ninguém disse que aquele dinheiro poderia ter ido para outro município.


AN – Mas aquilo era dinheiro do BNDES, tinha que pagar depois.
Carlito – Ah, sim. Dia desses eu vi uma entrevista, “nunca veio tanto dinheiro para Joinville como nos oito anos de FHC”. Me diz quantas casas foram feitas? Foi empréstimo. Da Caixa né!? Pois é, daí é o dinheiro do FHC que o Luiz Henrique conseguiu. Era dinheiro do governo. Agora não, é empréstimo. É só pegar quanto aumentaram os repasses, ao FPM, à Saúde, à Cide, que o governo FHC não liberava e nós liberamos. É só fazer as contas. Só falta dizer que os 6,7 mil empregos criados no primeiro semestre são por causa do prefeito e do governador. Essa desonestidade eu não aceito.


AN – Nessa relação de município e governo federal, o governo diz que tem dinheiro e a Prefeitura diz que a União complica para liberar os projetos. O que há?
Carlito – Eu não quero acreditar que seja incompetência porque temos um padrão de servidor público em Joinville acima da média. Isso eu falo com orgulho. Em 2004 eu dizia que se quisesse montar um secretariado sem nenhum filiado ao PT eu montava o melhor secretariado dessa cidade somente com servidores de carreira. Então não posso acreditar que uma obra parou no Hospital São José – e nós estamos sujeitos a ter que devolver parte dos R$ 7,5 milhões que arrecadamos na política. Não posso acreditar que R$ 800 mil para o Restaurante Popular ficaram parados dois anos. Por que não tem uma farmácia popular na cidade? Pode comparar os números, nem vou falar do que está vindo. Só no PAC são mais de R$ 81 milhões.


AN – Mas parte desse dinheiro não é a fundo perdido, tem que pagar?
Carlito – Mas de que forma se conseguiria esse dinheiro se não tivesse vontade política do governo? Para o saneamento ficou mais difícil porque a Casan foi expulsa daqui. Mas olhe as condições da Caixa, dá para pagar com facilidade.


AN – Que demandas aparecem ao senhor, o único deputado federal da região?
Carlito – Todas as possíveis. Não dou conta de atender a agenda. Essa semana recebi o pessoal da construção civil. Estão com uma lista (para redução de alíquotas de impostos) de produtos para discutir com a Receita. Recebo pedidos de associações de moradores. A maior angústia é na área da saúde. Já que não investem aqui, o que interessa é estádio de futebol. Eles procuram a gente. Minha relação com a Acij melhorou. A Ajorpeme direto nos procura. O Mauro Mariani tirou a eleição do Paulo Bauer, posso dizer que tirou a eleição do Eni Voltolini, tirou muito voto do Adelor Vieira e do José Carlos Vieira. Mariani ganhou e não assumiu. A demanda ficou para mim. Há uma revolta com ele na região. Antes, eu, o Paulo Bauer e o Adelor Vieira dividíamos as demandas. O Adelor foi meu grande aliado na questão do acesso sul. Se não fosse o Paulo Bauer talvez não conseguíssemos o PA do Aventureiro. Hoje, sozinho, é mais difícil. O que dói é você trazer para Joinville e ainda ser criticado.


AN – A senadora Ideli Salvatti tem o Jorge Bornhausen como referencial para alianças: se ele estiver de um lado ela está de outro. O senhor também tem um modelo assim?
Carlito – Eu assino embaixo. O mal que esse senhor fez para o Estado de Santa Catarina é inimaginável, durante mais de 60 anos. Não é a figura de Jorge Bornhausen, é a política desse senhor. É a privatização do Estado, é a utilização do Estado para seus negócios particulares. É diferente com uma figura como Esperidião, por exemplo. Você pode ter divergências, mas é só verificar a postura dele. É pessoa que perdeu a eleição e, assim como Angela, foi trabalhar. É diferente de pessoas que nunca trabalharam, que sempre se utilizaram da estrutura do Estado, controlando tudo para beneficio próprio. Ele tem uma postura nazi-fascista. Mas doído é ver o governador usar quase os mesmos argumentos, sabendo que ele só é governador porque nós do PT e o presidente Lula ajudamos. A única pessoa pública com quem conversei após a morte do meu pai foi o governador. Eu só pedi a ele uma única coisa. Isso é testemunhado pelo Manoel Mendonça. Eu pedi, por favor, governador, não seja injusto com o presidente Lula. A partir dessa conversa as agressões aumentaram.


AN – O governador se queixa de ter sido massacrado pela bancada do PT na Assembléia Legislativa.
Carlito – Aprovamos tudo o que ele quis votar nos dos primeiros anos.É mais uma injustiça. Ele pega uma tese para justificar a decisão de se aliar ao PFL de Jorge Bornhausen.


AN – Agora há uma reaproximação entre Luiz Henrique e Lula?
Carlito – Não. O que há é um Estado quebrado e ele tentando arrumar R$ 200 milhões no Besc. Nós estamos tratando o Besc com muito cuidado. Tenho tido conversas quase que semanais com o Bernardo Appy (secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda) e com o Arno Augustin (secretário do Tesouro Nacional). É uma engenharia nova, nós vamos fazer com muito cuidado. Essa questão de um banco federalizado mexe com o Banco Central, com a Comissão de Valores Mobiliários, não vamos nos precipitar. Claro, como o Estado está quebrado, a única coisa que você lê é os R$ 210 milhões. Nós não vamos atuar dessa forma.