Considerando sua condição de elemento central do tema abordado é fundamental que se exponham algumas considerações sobre ela.
A Sardinha é um peixe marítimo, da família Clupeidae (Clupeídeos), que vive em grandes cardumes. Sua inclusão na alimentação humana vem ocorrendo há muitos séculos. O nome é proveniente por sua captura outrora, junto à ilha de Sardenha, Itália, no Mar Mediterrâneo.
MATSUURA apresenta uma tabela emitida pela FAO (Roma) que demonstra, em relação à produção global de pescado, que a família dos clupeídeos, a que pertencem as espécies anchovetas, sardinhas e arenques, ocupa o primeiro lugar, vindo a seguir o grupo dos bacalhaus e depois os vermelhos, cavalinhas, chicharros e salmões. Informa nas páginas 17 e 18, ainda que "existem nove espécies que apresentam grande importância comercial, e todas são chamadas de sardinhas ("sardine" ou "pilchard"), a saber:
a) Sardina pilchardus (European pilchard) - ocorre na Europa e, por ocasião da "guerra da sardinha", os europeus queriam denominar esta espécie de sardinha legítima, enquanto os outros países também insistiam que as espécies encontradas em suas águas seriam sardinhas.
b) Sardinops caerulea (California sardine) - ocorre na região da Califórnia e Baja Califórnia. Atualmente a pesca desta espécie está proibida nos Estados Unidos, isto após a drástica queda de sua produção.
c) Sardinops melanosticata (Japanese sardine ou Maiwashi) - ocorre nos mares do Japão e a queda de sua produção foi observada no mesmo período em que ocorreu a queda de produção das sardinhas da Califórnia.
d) Sardinops sagax (Chilean pilchard ou sardina chilena) - ocorre na costa sul-americana do Pacífico.
e) Sardinops ocellata (South African pilchard) - ocorre no sul da África.
f) Sardinella aurita (West African pilchard) - ocorre no Mar Mediterrâneo e à noroeste da África.
g) Sardinella anchovia (Spanish sardine ou sardina) - ocorre no Golfo do México.
h) Sardinella brasiliensis (sardinha - verdadeira) – ocorre no sul do Brasil.
i) Sardinella longiceps (Indian sardine) - ocorre na Índia e nas Filipinas.
Acerca da Sardinella brasiliensis, nossa sardinha – verdadeira, VAZZOLER, ROSSI-WONGTSCHOWSKI e BRAGA lembram que Steindachner já havia descrito sua posição sistemática para a Zoologia em l879. Dada sua extensão não será apresentada esta posição sistemática.
O ciclo de vida da sardinha apresenta diversas fases: ovo - incubação de 20 horas na temperatura de 24 ºC; larva - duração de aproximadamente 45 dias, atingindo até 19 mm; pré-juvenil até o tamanho de 40 mm; juvenil - até 160 mm e adulto - a partir de 160 mm e a maturação sexual, geralmente, ao final do ano zero (início do primeiro ano).
Estudos realizados por Saccardo E Rossi-Wongtschonski [14] informam que: "A sardinha compõe cardumes que são encontrados em maior abundância ao longo da área compreendida entre os Estados do Rio de Janeiro (Cabo São Tomé, 22ºS) e de Santa Catarina um pouco ao sul do Cabo de Santa Marta Grande 28ºS".
A preocupação com estudos e pesquisas desta importante fonte de alimento não é uma constante aqui no Brasil. Não fossem a dedicação e o interesse de alguns profissionais, ter-se-ia pouca ou quase nenhuma informação. Geralmente com um apoio economicamente escasso, ainda assim, conseguem-se realizar estudos que poderão evitar a extinção deste peixe, tal como ocorreu em outros lugares do mundo. Lamentavelmente não existe interesse governamental pois a limitação de recursos tem inibido, quando não interrompido, projetos e pesquisas.
Técnicas modernas tem surgido tanto no setor de captura como de beneficiamento no setor pesqueiro mundial. A humanidade começa a preocupar-se com esta fonte de alimentos que parecia inesgotável. Apreensiva com o meio ambiente dedica-lhe maior atenção. Procura evitar o desperdício pois passou a dar ao peixe uma importância maior do que complementar a ração animal ou de adubo, como ocorre atualmente.
A legislação brasileira prevê 17 cm de comprimento como tamanho mínimo para captura da sardinha, admitindo-se a tolerância de 5% no ato de fiscalização. A média individual de peso fica entre 45g e 55g.
TABELA 1: VALOR NUTRICIONAL DA SARDINHA
BRASIL, 1985COMPOSIÇÃO
( 100 g ) SARDINHA
CRUA CONSERVA
Calorias 120 298
Carboidratos 0g 0,5g
Proteínas 18,37g 20,9g
Lipídios 5,26g 23,2g
Minerais (E,Cu,P) 0,4g 0,8g
Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 1985
Além dos elementos acima, convém acrescentar que a sardinha é também uma fonte das vitaminas A, B1, B2 e outras com menor participação.
Considerando-se a tabela acima pode-se constatar que trata-se de um alimento de importante valor nutritivo pois é composto de proteína de alto valor biológico. NORT, cita o fisiólogo alemão Kühnan que afirma "ser o valor total da proteína do pescado tão alto que o classifica imediatamente depois do leite materno", isto é, possui todos os aminoácidos essenciais que o organismo humano necessita.
A sardinha costuma ser comercializada de diversas formas, destacando-se: in natura, congelada, salgada e enlatada. Em qualquer uma das modalidades não podemos deixar de lembrar que o preço ao consumidor é bastante acessível. Outro aspecto positivo: latas de sardinhas são encontradas à venda em qualquer ponto deste imenso Brasil e sempre têm boa aceitação.
2.2 Caracterização do Sistema de Pesca da Sardinha - SPS
O Sistema de Pesca da Sardinha será apresentado na forma de um sistema de malha fechada, isto é, um conjunto de elementos que estão dinamicamente relacionados com objetivos comuns. Nele existe uma interação organizada das partes, cada qual com seus princípios básicos de funcionamento tornando-se, este sistema auto suficiente pela constante realimentação. Ele se caracteriza ainda, pelo seu comportamento totalmente determinístico e programado. É reconhecido, também, como Sistema Mecânico.
2.2.1 Composição No Sistema SPS é composto pelos subsistemas: Captura, Beneficiamento, Distribuição/ Comercialização, Consumo e Feedback, interligados como mostra a figura 2.
2.2.2 Descrição dos Subsistemas De forma sucinta serão apresentadas algumas informações básicas sobre os subsistemas:
a) Subsistema Captura - é o responsável pela obtenção da matéria prima. No Brasil existem apenas 3 centros pesqueiros de sardinha, em razão da localização dos cardumes. Pelas informações obtidas junto às empresas e das estatísticas disponíveis (vide tabela 2), observa-se:
– o mais antigo centro pesqueiro está localizado no Rio de Janeiro, pois está em atividade desde os anos 30 com uma frota pesqueira numerosa, mas com barcos menores e antigos, equipamentos mais simples, redes menores. Com exceção do ano de 1996, é o responsável pela menor captura de sardinha e pelo maior número de barcos clandestinos;
– o segundo centro pesqueiro é o de São Paulo, que possui uma frota não tão antiga e que tem sido o segundo em captura dos anos de 1979 a 1995. Considerando que neste estado existe apenas uma empresa de beneficiamento, a maior parte da sardinha capturada desembarca no Rio de Janeiro ou em Santa Catarina;
– o terceiro e mais importante centro pesqueiro é o de Santa Catarina, com uma frota mais moderna, maior capacidade de armazenamento equipamentos mais modernos, adotando técnicas e aparelhos próprios para a pesca e captura e, em conseqüência, aqui se verifica o maior volume de sardinha capturada.
Além das características das frotas pesqueiras convém observar, também, a estatística dos volumes de sardinha desembarcados de 1964 a 1995, elaborada pelo IBAMA-CEPSUL. Do mesmo órgão de controle e pesquisas, IBAMA-CEPSUL existe um Relatório, apresentado pelo Grupo Permanente de Estudos sobre Sardinha, reunido em Itajaí de 22 a 26 de outubro de l990, que nas páginas 16-17, esclarece as razões dos decréscimos de captura, naqueles períodos:
® " ... o declínio da produção da sardinha nos últimos três anos baseia-se nos seguintes fatos:
– pesca intensiva sobre indivíduos jovens, em toda a área de ocorrência, em qualquer época do ano;
– condições oceanográficas adversas;
– falha na desova constatada no verão 1987/88 ( Projeto EPM/88 );
– aumento do poder de pesca, observado através de características físicas da frota, que mostraram um aumento em cerca de 50% no comprimento das redes de cerco (400 para 600 braças), bem como aumento de número de barcos, desde 1985, que se utilizam de sonar na busca de cardumes;
– aumento do esforço de pesca em número de barcos atuantes: em 1980 a frota era constituída por cerca de 300 barcos e em 1990 por 574 barcos;
– tamanho médio do estoque de 57 mil toneladas, estimado durante prospeção acústica ( outubro/88 ), e estoque restrito e concentrado em duas regiões;
– agrupamento de barcos em cima de cardumes concentrados, o que tornam estes cardumes mais acessíveis à frota e, portanto, mais vulneráveis a pressão de pesca;
– não observação, através de dados biológicos, de indícios mostrando que o estoque tenha sofrido alterações sensíveis em seus parâmetros denso - dependentes (fator de condição, idade de primeira maturação e taxa de crescimento) e, portanto, possível utilização do habitat da espécie por outra (por exemplo, a anchoita)".
Quanto às atividades de captura de sardinha em outros países, sabe-se dos fornecedores que o procedimento é bastante diverso. Exemplificando, a frota pesqueira russa em atividade na costa da Mauritânia, na África, é composta por barcos de pesca de sardinha que após a captura transladam a carga diretamente para um barco frigorífico. Este, por sua vez, congela as sardinhas em placas que serão transferidas para um barco cargueiro. Em média, após 12 dias, as sardinhas estão sendo descarregadas no Brasil. Ressalte-se que a Sardinella aurita que aqui aporta chega em ótimas condições para a industrialização.