sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Metamorfose

Aquela jovem gerente despertou-me em reparar-lhe algumas transformações, tanto físicas quanto nas atitudes. Paulatinamente observei-a. O sorriso adquiriu um componente encantador, seus olhos denunciavam algo a revelar, seus gestos e seu falar suavizaram-se até o dia em que me atingiram, senti-me incomodado.

Isso pode parecer a declaração de algum apaixonado, no entanto asseguro-lhes tratar-se de outro algo ou talvez a simples tradução de minha surpresa em perceber-me testemunhando períodos da vida que vão e vêm, muitas vezes, sem causar impacto comum a maioria. Com essa percepção, afastei-me e pus-me a tentar decifrar a causa da minha estranheza. Contaminado pelos conceitos de belo, feminino, masculino, simpatia e empatia, notei-me confuso diante do fato. Passei dias nesse delírio, no aguardo de responder-me.

Quem espera às vezes alcança e foram vestígios da memória que me levaram a vasculhar a coleção de fotografias de minha mulher, pois aquilo não me era de todo estranho, em algum momento já experimentara. Mas quando? E o quê?

Com centenas de fotos nas mãos, comecei a revisá-las uma a uma. Eram de várias fases dos anos de nossa vida... mas eu procurava somente uma... aquela que aliviaria minha aflição. Após dezenas de imagens, encontro minha amada em um estado muito especial... um inconfundível sorriso... aquele brilho no olhar... e uma saliência reveladora... que me levou de imediato ao entendimento... gerava nosso bambino.

Respirei aliviado, finalmente compreendi o encantamento experimentado daquela vez e muitos anos depois na imagem da jovem gerente grávida... foi um estado masculino frente à virtude feminina da maternidade.

Post scriptum: Algum tempo depois, soube que o bebê era menina e se chamava Sofia.

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