Há tempos, ou mais precisamente quarenta e cinco anos, alimento-me com as lembranças de minha infância feliz em Lagoa Vermelha RS, em especial recordações de meu primeiro ano de escola cujos frutos e reflexos ainda germinam. Cultivo o mesmo entusiasmo e toda aquela aura advinda dos momentos em que aprendemos a unir as letras, formar as palavras para então traduzir um pensamento. Isso move-me. Leva-me a perceber o quão somos responsáveis pela construção de nossas emoções. Geralmente tão decantadas e pouco valoradas, se deixadas a sorte do acaso ou interesses outros, sem a legitimidade da vontade. Eu a tenho, a vontade é minha, e com ela devo construir meu caminho. Que assim seja. E os anos seguiram, rotas traçadas com as quais marquei presença neste mundo. Já despertada em meus primeiros tempos de escola. Ali foi o início da busca pelo entendimento que alimento até os dias de hoje. Tenho em mim a gratidão pelos que me auxiliaram na construção da pessoa que hoje sou. Sem entrar no mérito de valor, mas sim refletir sobre os caminhos que me trouxeram até aqui. E quando imagino onde isso iniciou é para lá que devo mirar. Mirei. A vontade veio e decidi revisitar o meu passado de infância feliz. Imagens e memórias tem uma cor e um sabor. E a visão de hoje, como será?
Domingo, janeiro, férias e lá vou eu e meu filho de quinze anos visitar a cidade que me acolheu entre os dois e oito anos de idade, período fundamental na formação duma pessoa. Talvez por isso esse vínculo mexe tanto comigo. Entramos na cidade que logo minha memória reavivou, até as casas de alguns conhecidos encontrei, locais onde joguei bola, brinquei de perna-de-pau, ao lado da igreja onde hoje existem bancos, em meu tempo batia bola com meu pai, eu todo fantasiado de Claudiomiro do Inter de Porto Alegre transformava aquele espaço numa gritaria sem fim. Num primeiro instante percebi que em minhas memórias as distâncias tinham outro valor, agora parecem bem menores. Isso faz sentido, pois em criança nossos passos são curtos e nossa altura nos dá uma visão menor. A sorveteria onde tomei o primeiro sorvete não existe mais, é uma agência bancária. A casa de um colega de escola onde vi televisão pela primeira vez ainda está lá, era em cima de uma relojoaria que hoje não existe mais. E o cinema, bem esse pelo menos não virou igreja, transformou-se em uma grande loja de eltrodomésticos. Puxa, naquela esquina eu comi meu primeiro cachorro quente, disse ao meu filho, era somente o pão que saia quente de uma estufa, a salsicha da água fervendo e um pouco de mostarda... nossa... que sabor estranho, mas adorei. Seguimos caminhando, e a cada passo minha cabeça premiava-me com mais e mais lembranças daqueles dias.
Mas o objetivo mor era a "minha escola". Queria rever o local... e lá fomos, passei pela rua onde morei, virei a esquina, olhei para o morro e lá estava, subimos uns cinquenta metros, desci do carro e ao me aproximar da frente sem portão (havia reformas) um turbilhão de emoções, lembranças e imagens quase que me tiraram o ar, pois a pressão em meu peito foi tão grande que não contive as lágrimas... algumas rolaram... fiquei com vergonha de chorar em frente de meu filho... acredito que se ali estivesse só, teria me transformado em um bebezão...
A escola está em obras, dá para perceber o estado precário. Mas para mim pouco importa, quero permanecer alguns instantes, tirar algumas fotos e curtir aquele momento, imaginei eu. Fiquei super impressionado com a situação do local, nunca em minha cabeça imaginei que eu, quando criança era pobre, as lembranças que tenho da infância não se relacionam com dinheiro, pobreza, riqueza, mas sim sentimentos e tratamentos a que fui submetido. Assim minha infância só foi alegria, nada de problemas que parecem que existem até hoje, crianças sem calçados, sem merenda, sem moradia digna, sem futuro e sem presente, isso mexeu mais comigo do que qualquer imagem. Aí passei a entender e valorar mais ainda o papel da primeira professora, da mestre que inicia os alunos para o mundo que os espera. Se hoje estou aqui, a quinhentos e tantos quilômetros longe, muito do que faço, tenho e me rodeia é fruto daqueles dias na companhia duma professora competente... acredite quem quiser, isso faz a diferença, isso fez eu estar aqui agora... agradecendo!
Domingo, janeiro, férias e lá vou eu e meu filho de quinze anos visitar a cidade que me acolheu entre os dois e oito anos de idade, período fundamental na formação duma pessoa. Talvez por isso esse vínculo mexe tanto comigo. Entramos na cidade que logo minha memória reavivou, até as casas de alguns conhecidos encontrei, locais onde joguei bola, brinquei de perna-de-pau, ao lado da igreja onde hoje existem bancos, em meu tempo batia bola com meu pai, eu todo fantasiado de Claudiomiro do Inter de Porto Alegre transformava aquele espaço numa gritaria sem fim. Num primeiro instante percebi que em minhas memórias as distâncias tinham outro valor, agora parecem bem menores. Isso faz sentido, pois em criança nossos passos são curtos e nossa altura nos dá uma visão menor. A sorveteria onde tomei o primeiro sorvete não existe mais, é uma agência bancária. A casa de um colega de escola onde vi televisão pela primeira vez ainda está lá, era em cima de uma relojoaria que hoje não existe mais. E o cinema, bem esse pelo menos não virou igreja, transformou-se em uma grande loja de eltrodomésticos. Puxa, naquela esquina eu comi meu primeiro cachorro quente, disse ao meu filho, era somente o pão que saia quente de uma estufa, a salsicha da água fervendo e um pouco de mostarda... nossa... que sabor estranho, mas adorei. Seguimos caminhando, e a cada passo minha cabeça premiava-me com mais e mais lembranças daqueles dias.
Mas o objetivo mor era a "minha escola". Queria rever o local... e lá fomos, passei pela rua onde morei, virei a esquina, olhei para o morro e lá estava, subimos uns cinquenta metros, desci do carro e ao me aproximar da frente sem portão (havia reformas) um turbilhão de emoções, lembranças e imagens quase que me tiraram o ar, pois a pressão em meu peito foi tão grande que não contive as lágrimas... algumas rolaram... fiquei com vergonha de chorar em frente de meu filho... acredito que se ali estivesse só, teria me transformado em um bebezão...
A escola está em obras, dá para perceber o estado precário. Mas para mim pouco importa, quero permanecer alguns instantes, tirar algumas fotos e curtir aquele momento, imaginei eu. Fiquei super impressionado com a situação do local, nunca em minha cabeça imaginei que eu, quando criança era pobre, as lembranças que tenho da infância não se relacionam com dinheiro, pobreza, riqueza, mas sim sentimentos e tratamentos a que fui submetido. Assim minha infância só foi alegria, nada de problemas que parecem que existem até hoje, crianças sem calçados, sem merenda, sem moradia digna, sem futuro e sem presente, isso mexeu mais comigo do que qualquer imagem. Aí passei a entender e valorar mais ainda o papel da primeira professora, da mestre que inicia os alunos para o mundo que os espera. Se hoje estou aqui, a quinhentos e tantos quilômetros longe, muito do que faço, tenho e me rodeia é fruto daqueles dias na companhia duma professora competente... acredite quem quiser, isso faz a diferença, isso fez eu estar aqui agora... agradecendo!