quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Languiru

Gilrikardo disse: Dia desses a marca estampada em uma embalagem de leite me atraiu a atenção: Languiru. Num primeiro instante imaginei de onde poderia ter vindo nome tão estranho. Não contente, fui em busca de informação para satisfazer minha curiosidade. Nessa busca encontrei muitos outros esclarecimentos, pelo jeito parece que continua assim a maneira que aprendemos.... abaixo o texto com o "LANGUIRU" e o que significa...

A erva-mate

L. A. I.

Em 1543, era Assunción a mais importante colônia espanhola no Novo Mundo. Tendo sua origem no forte Nossa Senhora de Assunção, estabelecido às margens do Paraguai, foi aumentando a sua população com a chegada dos remanescentes da destruição de Buenos Aires, pelos índios querandi.

O segundo adelantado que o rei de Espanha mandara para a América chamava-se Álvar Nuñez Cabeza de Vaca e trouxe a missão de implantar nas matas do Paraguai uma obra colonizadora que fizesse de Assunção a primeira capital do Prata. Entretanto, nesse ano de 1543, o adelantado Cabeza de Vaca é destituído por uma conspiração e assume o poder o general Irala. Militar de poucos recursos administrativos, porém dotado de grande ambição, Irala pretendeu ampliar os seus domínios. Empreendeu, então, diversas expedições conquistadoras. Foi numa dessas expedições em 1544 que chegou às terras de Guaíra, atualmente estado do Paraná, que era habitada pelos guaranis. Entre os costumes curiosos dos indígenas, um deles lhe chamou a atenção em especial. Consistia no uso de uma bebida feita com folhas fragmentadas de uma certa erva. Esta bebida era tomada num pequeno porongo, com um canudo, em cuja extremidade faziam um cuidadoso trançado para evitar a passagem dos fragmentos da erva. A essa bebida, que chamavam caá-i, cujo significado é água de erva, os indígenas atribuíam poderes divinos, entre os quais de estimular os guerreiros na luta até a conquista de vitória.

Os soldados de Irala aderiram ao uso do mate e, de volta à Assunção, foram barrados pelos franciscanos que, alegando os princípios da igreja, proibiram o uso da erva-mate, chamando-a "erva-do-diabo". Quem ousasse contrariar tais determinações era castigado com a excomunhão.

Essa campanha teve a duração de meio século. Até que, nos princípios do século XVIII, o mate invadiu os lares de Assunção e Buenos Aires, expandindo-se cada vez mais e conquistando novos adeptos. Diante disso, nada mais se pode fazer, senão encerrar a campanha e permitir a livre expansão do mate. Era o seu primeiro triunfo!

A criação dos Sete Povos das Missões teve início em 1627, com a fundação de São Nicolau. Uma nova era que se iniciava naquelas paragens bárbaras e incultas. Os abnegados missionários jesuítas não mediam esforços para levar a sua obra de catequização aos indígenas. Mas era uma tarefa árdua, difícil e perigosa. Nada porém conseguiu deter essa avançada. E assim tombaram os primeiros mártires rio-grandenses, os missionários Roque Gonzales, João de Castilhos e Afonso Rodrigues — vítimas da ira do feiticeiro Nheçu. Depois foi o padre Cristóvão de Mendoza, considerado o primeiro tropeiro do Rio Grande, que foi morto pelos caáguas. Contudo, a persistência admirável daqueles missionários acabou por triunfar na alvorada do século XVIII. Surgiram então os Sete Povos, que eram os seguintes: São Nicolau, São Miguel, São Luiz Gonzaga, São Francisco de Borja, São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo.

Floresceu, então, uma civilização nova, naquelas plagas selvagens.

Entre os índios, os jesuítas já encontraram o uso da erva mate que era extraída dos extensos ervais nativos que existiam naquela região.

Segundo se dizia, "sem aquela erva não podiam viver".

Os jesuítas não lhes proibiam o uso do mate. Pelo contrário, cuidavam que não lhes faltasse erva. Entretanto, os maiores ervais estavam situados às margens dos rios Ijuí, Nhu-corá e Alto Uruguai, lugares estes habitados pelos tupis, a quem os guaranis temiam pela fama que tinham de devorar os prisioneiros.

Diante disso, os jesuítas foram obrigados a explorar os ervais de Camaquã. Entretanto, esse produto era inferior e exigia longas viagens, com perda de tempo para transportá-lo.

A solução seria, então, cultivar a erva mate e assim o fizeram. Mas as primeiras sementes lançadas à terra não germinaram. Isso determinou que se processasse um profundo estudo da planta e se levasse a efeito uma série de experiências, até que um dia, germinou a primeira semente de erva mate, no local denominado Imembuí, onde hoje se situa a cidade de Santa Maria.

Daí por diante desenvolveu-se a cultura da erva-mate e o excelente produto obtido nas missões era disputado pelos mercados do Prata. Aqui convém citar, abrindo um parêntesis, que o Uruguai e a Argentina sempre foram nossos maiores importadores de erva-mate sendo que o Uruguai ocupa o primeiro lugar, com 30 mil toneladas e a Argentina o segundo, com 20 mil toneladas [1958].

Pelo tratado de 1750, entre Portugal e Espanha, ficou estabelecido a troca da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões, que passariam a pertencer à coroa portuguesa.

Os guaranis dos Sete Povos, apoiados pelos missionários, decidiram resistir aos demarcadores portugueses e espanhóis, cujos exércitos eram chefiados por Gomes Freire e dom José Andonoegui, que tinha como imediato a dom José Joaquim Viana, governador de Montevidéu.

Chefiados por Sepé Tiaraju e Languiru, os índios resistiam heroicamente a forças superiores e mais aparelhadas. Até que a 7 de fevereiro de 1756, Sepé Tiaraju foi morto por José Joaquim Viana, às margens do Vacacaí. Três dias depois, tombou o chefe indígena Languiru na coxilha de Caiboaté.

Com isso, os exércitos português e espanhol tiveram o caminho aberto para as missões. Os jesuítas recuaram, então, para a outra margem do Uruguai, em território espanhol.

Com isso, ficou praticamente abandonada a cultura da erva-mate no Rio Grande do Sul, para ser retomada muito depois.

Antes de terminar este resumo histórico da erva-mate, convém registrar que dos índios o uso do mate passara para os soldados dos fortes de Rio Grande e Rio Pardo e daí foi se generalizando para as demais populações que iam formando os primeiros núcleos.

Facilmente introduziu-se nas primeiras estâncias de criação de gado, tornando-se por excelência a bebida dos campeiros.

Irradiou-se por toda a província, à medida que suas propriedades terapêuticas iam sendo conhecidas e louvadas.