segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Minha escola

E. E. do Ensino Fundamental Profª Delfina Loureiro
Lagoa Vermelha RS








A primeira cartilha a gente não esquece.
Após quatro décadas voltei à escola onde frequentei o primeiro ano do primário. Só tenho boas lembranças. Principalmente da professora Rejane. A primeira paixão da minha vida, e não por menos, pois acredito que devido à maneira mágica que nos conduzia como alunos fez brotar em mim o eterno gosto pela leitura e a escrita. Para minha felicidade e graças à internet encontrei um blog que registra o aniversário da escola. É só conferir.


Abaixo posts relacionados:

http://gilrikardo-blog.blogspot.com.br/2013/01/de-volta-para-o-futuro.html

Dia da professora - 15 outubro

Lá se foram mais de quatro décadas, e em minha memória as marcas da professora Rejane ainda permanecem. Foi a primeira mulher a me impressionar. Foi a primeira a me tratar muito além do que poderia imaginar. Com atenção. Carinho. Além da enorme simpatia e alegria que de pronto irradiava. Eram dias de rei. E ela era a minha rainha. Aliás, permanece rainha em meus pensamentos. Que a vida lhe tenha premiado com a mesma felicidade que soube compartilhar comigo e meus colegas. Salve professora Rejane! Eternamente em meu coração.

 
A primeria vez
 
Deixava a escola rapidamente, chegava em casa e após o banho caprichava nos cabelos, ajeitava-se na melhor camisa, emprestava um pouco de perfume da irmã e em desabalada carreira acionava sua máquina. Seguiria na direção em que ela surgiria naquele horário. Esse ritual era quase diário, somente falhava em dias de chuva ou quando seus amigos convidavam-no para o futebol.

Descia a avenida em marcha lenta, chegava na esquina e ao longe já contemplava aquela que roubou-lhe o coração. Uma cena encantadora. Vinha conversando entre as colegas. Cabelos negros, sorriso meigo e, para completar, o vestido ao balanço da brisa contribuía para deixá-la ainda mais irresistível.

Ao se aproximar, acena, dá um sorriso e mostra suas habilidades de piloto ao executar algumas manobras radicais. Simpática, retribui-lhe com uma piscadela e segue animada. Ele movido pelos desejos do coração, continua a persegui-la, chega tão próximo que consegue sentir o doce perfume, ficaria ali até o fim da vida - pensava.

Não entendia o porquê de sua euforia e do ritmo alucinado de seus pensamentos na presença dela, somente desejava mais e mais; sempre mais alguns segundos em sua presença. No entanto, notou que já estava caindo a noite e precisa partir. O trecho percorrido foi longo. Voltar significava chegar além do horário combinado e levar alguma reprimenda. Na próxima esquina darei meia volta - murmurou - sem antes, mandar um beijão e um adeusinho.

Sentia-se o rei do pedaço porque recebia uma atenção especial de alguém muito... muito... muito querida, estava nas alturas. Seguiu acelerando fundo, precisava chegar em casa antes do anoitecer. Nossa! como foi longe, parecia que nesses momentos o tempo voava e as distâncias não existiam. Continuava ofegante ao lembrar do sorriso. Além do encanto daqueles olhos negros e cheios de alegria. E assim seguiu.

No portão de casa, a mãe perguntou-lhe o motivo do atraso. Sem responder, desceu do kart e levou-o para a garagem, o dia estava completo. Mais uma vez acompanhara sua musa. Demonstrara sua paixão pela garota que o elevara às nuvens. Enquanto isso, a mãe zelosa, desfilava um rosário de recomendações. Orientando-o para não pegar o carrinho do irmão, pois de tanto rodar naquela calçada deixara as rodas gastas, além de citar que o horário de ficar na rua não era seguro para um garoto naquela idade.

Até parece que ele ouvia tais conselhos. Visto que viajava em seus desejos. Vislumbrando o dia de amanhã para vê-la novamente, aliás como fazia desde o início do ano ao freqüentar a primeira série em cujo caderno guardara a declaração escrita por ela, só para ele...

-- Você é um amor de menino! Gosto muito de você, Professora Rejane.



Em nome do meu pai

Na casa onde vivi meus primeiros anos, não havia energia elétrica nem água “encanada”. Situava-se num bairro (vila gaúcha)  pouco distante do centro, pois o trecho era percorrido a pé diariamente pelo meu pai. E num dia de compras, contava eu com quatro ou cinco anos, acompanhei-o, precisava de calçado.

Na ida foi uma festa, imagine alguém que nunca saiu do terreiro da casa estar com todo o horizonte à frente. Não sabia se olhava os carros, as pessoas, as pedras da calçada. Tudo era surpreendente e maravilhoso. Entrava nas casas comerciais e ficava com dor no pescoço de tanto olhar coisas que nem em meus sonhos existiam. Lembro-me do braço de meu pai a levar-me de um lado a outro segurando firme, como alguém que não vai deixar escapar. Junto duas sacolas de lona que aos poucos se avolumaram e então passei a agarrá-las.

Às vezes uma paradinha, papai comentava alguma coisa ou dialogava com alguém e após uns minutos à sombra seguíamos. Ganhei o par de congas, era o tênis da época, na loja calcei-as e saí mais faceiro que ganso novo. Na calçada percebi que já mirávamos a volta. As sacolas estufadas, arroz, feijão, farinha, café, açúcar e mais um montão de coisas que faziam o papi gemer baixinho ao movimentar aquela carga. Olhei para seu rosto e vi o suor escorrer. Ainda devido ao calor e ao esforço, estava vermelho qual um peru. Aos poucos, com passos miúdos ficava para trás, meus pés doiam e eu não lhe contava. Após muitos atrasos, o pai tirou minhas congas e viu os calcanhares em carne viva. O calçado novo esfolara-me até sangrar.

Aí então aconteceu algo que mexe comigo até hoje. Colocou-me nos ombros, com as pernas abertas sobre o pescoço, minhas mãos agarradas em sua testa molhada e quente. Sem a conga meus pés sentiram certo alívio, mas ainda havia um bom trecho a ser percorrido. E assim fomos. Ouvindo os gemidos de canseira pelo peso das sacolas e, para completar, eu pendurado às suas costas. Daquele dia em diante comecei a entender o que era ser meu pai.