sábado, 21 de abril de 2012

Brasil - Educação

08/07/2010  às 8:43 \ BrasilEDUCAÇÃO

Os entraves para um ensino de qualidade

O Ministério da Educação divulgou na última segunda-feira os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009. Os resultados foram preocupantes: somente 5,7% das escolas públicas brasileiras conseguiram alcançar na avaliação a nota 6 – considerada um padrão internacional de qualidade. As avaliações oficiais têm se prestado bem ao propósito de lançar luz sobre os grandes problemas da educação no país – mas não fornecem resposta a uma questão básica: por que, afinal, as aulas não funcionam? Ao longo dos anos, reportagens de VEJA têm tentado elucidar essa dúvida.
Em 2008, uma pesquisa encomendada por VEJA à CNT/Sensus mostrou que, de modo geral, os pais brasileiros de todas as classes não se envolvem como deveriam na vida escolar dos filhos. Os mais pobres dão graças aos céus pelo fato de a escola fornecer merenda, segurança e livros didáticos gratuitos. Os pais de classe média se animam com as quadras esportivas, a limpeza e a manifesta tolerância dos filhos quanto às exigências acadêmicas muitas vezes calibradas justamente para não forçar o ritmo dos menos capazes.
Segundo o levantamento, para 89% dos pais com filhos em escolas particulares, o dinheiro é bem gasto e tem bom retorno. No outro campo, 90% dos professores se consideram bem preparados para a tarefa de ensinar. A mesma pesquisa mostrou que, com a justificativa de “incentivar a cidadania”, muitos professores incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos. Os pais (61%) sabem que os professores fazem discursos politicamente engajados em sala de aula e acham isso normal. Os professores, em maior proporção, reconhecem que doutrinam mesmo as crianças e acham que isso é sua missão principal – algo muito mais vital do que ensinar a interpretar um texto ou ser um bamba em matemática.
Em comparações internacionais, os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas colocações – abaixo da quinquagésima posição em competições com apenas 57 países. E a lanterninha brasileira tem explicações claras. No ano de 2003, uma pesquisa mostrou que nenhum país conseguiu obter bons resultados no campo da educação sem fazer investimentos significativos – e bem distribuídos. O Brasil reúne dois defeitos. O dinheiro é curto – 30.000 reais por aluno até os 15 anos, enquanto os Estados Unidos, por exemplo, aplicam 210.000 reais – e a distribuição dos valores, heterogênea.
Como explicaram a VEJA, em 2007, os economistas Eduardo Giannetti da Fonseca e o irlandês Dan O’Brien, o Brasil vai mal na educação por um motivo: falta pensar no futuro. Ao estudar as raízes do fracasso brasileiro, Giannetti detectou um padrão comum às autoridades que deram as diretrizes à educação ao longo dos séculos, nos vários níveis de governo: a mentalidade predominante sempre foi perseguir resultados imediatos aos investimentos na escola – sem focar em medidas cujos efeitos positivos pudessem se dar depois da troca de poder.
A experiência de países onde a educação funciona, segundo Dan O’Brien, reforça a ideia de que as escolhas brasileiras têm passado longe do que de fato importa a um bom ensino: metas acadêmicas, professores capazes de executá-las e um sistema preparado para cobrar os resultados. É um conjunto aparentemente simples, mas que só foi alcançado por países que, ao contrário do Brasil, souberam canalizar os recursos às (menos visíveis) questões pedagógicas – e esperar pelos resultados ao longo de décadas.
Já está provado que a investigação contínua sobre o que acontece na sala de aula guarda relação direta com o progresso acadêmico. Uma pesquisa de 2009 da Fundação Victor Civita mostra que, no Brasil, os diretores de escola pública gastam tempo demais com burocracia e pouco com as questões da sala de aula. Logo de saída, a pesquisa mostra que 64% dos diretores reconhecem, sem rodeios, não estar suficientemente preparados para exercer o cargo que ocupam. Talvez o mais preocupante de todos os dados, no entanto, diga respeito à visão que eles têm da função: apenas 2% deles se sentem responsáveis pelos maus resultados de sua própria escola, ao passo que os outros 98% culpam pais, professores, alunos, o colégio e até o governo.
No mesmo ano, uma reportagem de VEJA mostrou as adversidades enfrentadas pelos professores na sala de aula: alunos desmotivados, indisciplina, infraestrutura precária e violência. Para se ter uma ideia, 52% dos professores ouvidos em pesquisa da International Stress Management Association (Isma), feita em São Paulo e Porto Alegre, admitem atitudes agressivas com seus alunos, tendo sido irônicos ou até rudes. Não para por aí. Os próprios professores também são vítimas do ambiente ruim: de acordo com dados da Unesco, 47% já sofreram agressões verbais vindas de alunos.
Também em 2009, uma pesquisa mediu, pela primeira vez, o impacto da corrupção sobre o desempenho dos alunos. O resultado: quanto mais se rouba, mais as notas caem. Quando se trata de dinheiro, o que realmente pesa contra a qualidade das escolas é a maneira como ele é aplicado – muito mal. Poucos fatores prejudicam tanto o aprendizado no Brasil quanto o desvio e o mau uso dos recursos reservados às escolas. Resume Claudio Ferraz, um dos autores do estudo: “A ocorrência de casos de corrupção reduz significativamente as notas das crianças”. O atraso, revelado em provas oficiais, equivale a meio ano escolar.
Os três principais candidatos à Presidência em 2010, Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva, receberão um conjunto de propostas bem práticas para melhorar o ensino no Brasil. O objetivo do documento é tornar o debate menos ideológico – e mais racional. O texto é fruto de uma iniciativa que acaba de reunir oitenta especialistas do país na área (um grupo de diferentes matizes políticos e origens acadêmicas) para conceber um documento com ideias bastante objetivas para promover avanços no ensino básico brasileiro.
VEJA teve acesso com exclusividade às sete propostas que emergiram dessa análise. São elas: a punição de secretarias que fizerem mal uso da verba pública; a criação de um currículo nacional unificado; a flexibilização do ensino médio, de forma a fazer com que o aluno saia preparado para seguir a carreira que escolheu; conferir mais poder aos diretores de escola; universalizar nos colégios um sistema baseado na meritocracia e garantir aos alunos pelo menos uma hora a mais por dia na escola.


http://veja.abril.com.br/blog/acervo-digital/

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