Quem diz isso não sou eu, mas um economista cubano, vivendo em Cuba, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Havana, ex-funcionário do Banco Central -- não é mencionado porque saiu, já que se imagina que trabalhar no BC cubano deva ser algo mais próximo do objeto mais valorizado atualmente em Cuba, do que simplesmente ser professor universitário, com salário menor, provavelmente, do que um taxista -- e ele confirma o que já se sabia: sem os soviéticos, e sua generosa ajuda, a economia cubana entrou em colapso; aí, providencialmente, apareceu Chávez, o anjo enviado dos céus (com perdão dos crentes); ou seja, se Chávez desaparece, a economia cubana, que já está virtualmente em colapso, entrará definitivamente em colapso.
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Bela obra esse socialismo de 50 anos, que ainda pretende continuar sob uma forma atenuada durante mais alguns anos, tentando entrar no capitalismo à la China ou Vietnã, ou seja, preservando o monopólio do Partido Comunista e toda a autocracia que vem junto.
O próprio economista confirma que se teria de fazer uma desvalorização cambial ainda maior, ou seja, deixar o povo cubano ainda mais pobre do que já é.
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Será que é por isso que os companheiros estão tentando ajudar seus companheiros cubanos?
Será que é por isso que os companheiros estão tentando ajudar seus companheiros cubanos?
Certamente, mas eles poderiam pelo menos reconhecer o fracasso completo da experiência cubana, e renegar não só o modelo econômico como a ditadura que o sustenta.
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Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
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Entrevista da 2ª: Pavel Alejandro Vidal
Saída de Hugo Chávez provocaria um choque tremendo em Cuba
Economista diz que, sem a Venezuela, havana perde óleo barato e divisas com médicos, que rendem mais que turismo
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA
Folha de S.Paulo, 2/04/2012 – pág. A18
Sem Hugo Chávez na Venezuela, Cuba mergulharia em uma crise social e política difícil de superar. Viveria um choque tremendo -mais um, duas décadas após perder sua aliada carnal URSS.
O vaticínio - quando o discípulo de Fidel Castro se trata de um câncer e enfrenta eleições em outubro - pode ser repetido por muitos analistas, mas, na boca de Pavel Alejandro Vidal, economista da Universidade de Havana, ele se traduz em números.
O impacto do fim da cooperação com a Venezuela seria duplo. Por um lado, Havana perderia facilidades financeiras para comprar petróleo, que representou metade das importações da ilha em 2010.
Mas há mais que petróleo em jogo: os mais de 30 mil profissionais de saúde trabalhando nos programas sociais de Chávez na Venezuela rendem para Havana ao menos duas vezes mais que o turismo na ilha.
Ao menos US$ 6 bilhões, estima Vidal, ante US$ 2 bilhões de divisas provenientes dos turistas em 2010. Pelos acordos assinados há dez anos, Chávez paga um salário aos médicos cubanos em seu país e outra parte diretamente ao Estado cubano.
"É muito difícil imaginar como lidar com uma crise desse tipo [ausência da cooperação com a Venezuela], dado o cansaço social que há, os baixos níveis de salários."
O economista de 36 anos, até 2006 funcionário do Banco Central de Cuba, faz parte do Centro de Estudos de Economia Cubana da Universidade de Havana, o mais importante do país e com considerável produção a respeito das reformas em curso. Ele divulgará nas próximas semanas o resultado de sua mais recente pesquisa: um estudo sobre as reformas no Vietnã e o que da experiência pode ser aplicado em Cuba.
Leia trechos da entrevista.
FOLHA - O que o sr. encontrou nas reformas no Vietnã que pode ser útil para Cuba?
PAVEL ALEJANDRO VIDAL- Fomos buscar em Vietnã qual foi a velocidade das reformas. Nos final dos anos 80, o país aplicou uma desvalorização da taxa de câmbio de dez vezes _Cuba, provavelmente, vai ter que desvalorizar mais do que isso. Lá houve reformas em duas velocidades. Apesar disso, embora as reformas nesse ponto monetário tenha sido um choque muito parecido ao que aconteceu na Europa do Leste, os resultados foram distintos.
No Vietnã, foi um sucesso e lá foi um desastre. Por que a diferença de resultados? Tem a ver, especificamente no tema monetário, com a estrutura das economias. Na Europa do Leste, eram grandes empresas estatais, indústrias. Esse tipo de economia costuma reagir muito mal a um choque monetário. São empresas onde há muita burocracia, muita inércia e pouca flexibilidade. Em contraste, no Vietnã, a economia estava baseada em pequenas unidades econômicas, empresas familiares, na agricultura, pequenos negócios. À desvalorização da moeda, acompanhada de um processo de liberalização, a economia respondeu muito bem.
Cuba tem um tipo de economia muito mais parecido com a Europa do Leste do que com o Vietnã e, portanto, não poderia aplicar um choque monetário. Existe um modelo de fazer a desvalorização gradualmente, mas a questão é saber se Cuba, especialmente os líderes da Revolução, tem esse tempo. Essa é uma das contradições e por isso o tema da velocidade é tão importante. O melhor seria uma reforma gradual, mas não há tempo para isso. Se Cuba tivesse começado a reforma ao mesmo tempo que o Vietnã, poderia ser aplicada a gradualidade, mas agora não.
A recomendação que faremos ao governo, à luz dessa experiência, é fazer as reformas em duas velocidades. A acelerar muito mais as mudanças em vários setores como, por exemplo, a agricultura. A abertura, a liberalização deveria ser muito mais rápida, com acesso à importação, acesso a capital externo, maior flexibilidade de comercialização. E passar de pequenas empresas a pequenas e médias.
FOLHA - Mas nas diretrizes há barreiras a empresas maiores, se prega contra a concentração de riquezas...
VIDAL - Vão ter de permitir pequenas e médias empresas porque em Cuba o principal ativo para enfrentar com otimismo o futuro econômico é o capital humano. Não se tira muito proveito do capital humano na microempresa. Para isso é preciso empresas de maior tamanho, que utilizem conhecimento, tecnologia. Essa é a nosso diferencial positivo com o Vietnã. Aqui o capital humano tem mais possibilidades. Foi nisso que o país investiu nos últimos 40 anos. E agora o que é necessário é uma política econômica que utilize isso eficientemente.
FOLHA - Para quando se pode esperar uma unificação da moeda?
VIDAL - Antes se falava de um processo de três a cinco anos, a partir do momento que ele comece, com uma primeira desvalorização. Mas ele ainda não começou. A desvalorização tem custos e benefícios imediatos. Do lado dos custos, empresas quebram, inflação, mas do outro lado há oportunidades, potencialidades. No Vietnã foi importante para as empresas terem acesso à importação e a crédito externo. Cuba não tem acesso a crédito de instituições multilaterais, mas há crédito privado que pode vir.
FOLHA - O que impede que se acelere as reformas? Falta consenso no governo?
VIDAL - Reformas precisam de consenso, de apoio popular. O interessante é que a falta de consenso não é só no governo, é também na população. Estamos há 50 anos num modelo econômico, isolados de tudo, dos meios de comunicação. Há um consenso de que há que mudar, mas não sobre para onde ir. As novas gerações estão mais preparadas para as mudanças, claro. Não sou sociólogo, mas tenho a ideia de que parte dos cubanos tem como ideal os anos 80. Querem que as mudanças nos levem aos anos 80, com o sistema de subsídios que vigorava na época soviética. Uma economia socialista especializada, com mais recursos. Mas isso não é replicável.
FOLHA - E o governo, o que busca como ideal? Uma economia "socialista de mercado", como China, Vietnã?
VIDAL - O modelo está sendo buscado de forma pragmática, mas não há uma crítica profunda ao modelo soviético. O modelo econômico cubano ainda muito dele, e isso dificulta pensar em um novo modelo. Essa é uma das debilidades: parte do sistema de direção macroeconômico está baseado ainda na noção de uma economia planificada. E não vejo com claridade que eles queiram mudar isso. Está se tentando mesmo aperfeiçoar. Isso pode ser o pior equívoco das reformas: tentar planificar, aperfeiçoar o esquema de planificação centralizado quem nunca funcionou. Vamos adivinhando o novo modelo, por meio do que vai acontecendo na política. Nem eles mesmo sabem para onde vai. O período das diretrizes é 2015, mas 2015 está aí.
Leia a íntegra da entrevista em
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