Por Gilrikardo
Mês passado estive em minha querência e percebi que uma ex-colega de classe saiu da pobreza. Ela e o marido (o namorado daquela época) “enricaram” como se costuma fofocar, da noite para o dia, sem contar o milagre. E acreditem, existe o tal milagre que a grande maioria prefere não revelar. Alguns a gente entende, mas acredito que não precisa esconder ou fazer tanto mistério se a origem é genuinamente lícita.
Pois bem, estudava no terceiro ano do segundo grau, iniciamos as atividades letivas voltados para a formatura que desde o primeiro ano já nos envolvia. Seria mais um ano em busca de recursos para patrocinar a festa, a viagem a Balneário Camboriú em Santa Catarina, os quadros - aquele que tem a foto de todos os alunos e professores do curso. Era praxe nessa ocasião as aulas diminuírem o ritmo para sobrar mais tempo ao nos liberar. Ninguém reclamava, pelo contrário, todos aceitavam o sacrifício de batalhar pelo dinheiro da formatura. Pegamos gosto pela organização dos eventos que além do prazer da correria nos preenchia a ociosidade de forma útil. Festa e festa.
Próximo do fim do ano. Depois de muitas colaborações, rifas, doações e baladas juvenis verificamos que o acumulado era suficiente para as despesas. Estaríamos num zero a zero, isto é, daria para pagar tudo aquilo que previmos e não sobraria nada. Aí então, o olho grande baixou sobre nós, a ganância se apoderou de alguns e resolvemos fazer um grande baile para arrecadarmos mais alguns dinheiros e assim aumentar os dias de festa em Camboriú ou dividir as sobras. Todos toparam, a maioria pela divisão das sobras, então era legítimo o empenho no bailão.
Mês passado estive em minha querência e percebi que uma ex-colega de classe saiu da pobreza. Ela e o marido (o namorado daquela época) “enricaram” como se costuma fofocar, da noite para o dia, sem contar o milagre. E acreditem, existe o tal milagre que a grande maioria prefere não revelar. Alguns a gente entende, mas acredito que não precisa esconder ou fazer tanto mistério se a origem é genuinamente lícita.
Pois bem, estudava no terceiro ano do segundo grau, iniciamos as atividades letivas voltados para a formatura que desde o primeiro ano já nos envolvia. Seria mais um ano em busca de recursos para patrocinar a festa, a viagem a Balneário Camboriú em Santa Catarina, os quadros - aquele que tem a foto de todos os alunos e professores do curso. Era praxe nessa ocasião as aulas diminuírem o ritmo para sobrar mais tempo ao nos liberar. Ninguém reclamava, pelo contrário, todos aceitavam o sacrifício de batalhar pelo dinheiro da formatura. Pegamos gosto pela organização dos eventos que além do prazer da correria nos preenchia a ociosidade de forma útil. Festa e festa.
Próximo do fim do ano. Depois de muitas colaborações, rifas, doações e baladas juvenis verificamos que o acumulado era suficiente para as despesas. Estaríamos num zero a zero, isto é, daria para pagar tudo aquilo que previmos e não sobraria nada. Aí então, o olho grande baixou sobre nós, a ganância se apoderou de alguns e resolvemos fazer um grande baile para arrecadarmos mais alguns dinheiros e assim aumentar os dias de festa em Camboriú ou dividir as sobras. Todos toparam, a maioria pela divisão das sobras, então era legítimo o empenho no bailão.
O local escolhido foi uma linha no interior, um brejo onde só existia uma igreja velha de madeira e o salão para os tais encontros da comunidade. Eu e um colega de classe nos oferecemos para ir um dia antes e providenciar a limpeza do ambiente, além de receber as bebidas, os quitutes e outras guloseimas que seriam rifadas - bolos, pudins, etc. Chegamos na sexta-feira pela manhã e o arrasta pé seria no sábado à noite, assim ficamos quase quarenta e tantas horas com vassoura, balde e água a dançar pelo salão. Eu não acreditava que naquele lugar iria alguém, não conhecia a região então tudo que imaginava era na base do achismo. Até que a partir das vinte horas de sábado chegou toda a turma com respectivos parentes e amigos, como o salão era um baita salão, o que parecia um montão de pessoas, não representou mais do que algumas mesas agrupadinhas... entre o pessoal que estava trabalhando corria o boato que entraríamos pelo cano. Pagaríamos para trabalhar.
Mas no decorrer das horas, o bicho pegou, ai entendi porque o local era grande, não parava de chegar gente de todos os cantos, de todos os tipos, e embarcados de todas as maneiras. Alguns em montarias (cavalos e mulas), carro, camionetas, trator, caminhão, bicicleta, lambreta, e acredito que até a pé. Lá pela meia-noite a gaita gemeu, e até raiar o dia, aquele salão parecia que ia cair de tanto que balançava. Eu e meu amigo trabalhamos como garçons e ingenuamente aceitamos algumas gorjetas. Ao fim da festa estávamos com os bolsos cheios. Fomos conferir os comes e bebes. Vendemos tudo. Não sobrou nem para um pequeno lanche. Saímos com a impressão de que foi o maior sucesso entre todas as promoções até então realizadas.
Na segunda-feira, para espanto geral, surgiu um boato de que o baile deu prejuízo. Fui o primeiro a gritar que aquilo era mentira, como poderia dar se vendemos todos os ingressos e mais uma centena que apareceu de última hora, além das bebidas e das comilanças vendidas até a última garrafa e último pedaço. Ninguém falou nada, deixamos para o outro dia, aí surgiu a conversa fiada dando conta que o pessoal que ajudava no baile saiu com os bolsos cheios. Meu deus! Não acreditei no que estavam a insinuar. Que eu, meu colega, e outros que trabalharam qual uns cavalos, estávamos sendo alvos de comentários mentirosos. Os dias correndo e as pessoas nos julgando ladrões. Aquilo era ridículo. Para mim era um pesadelo. Não merecia aquela pecha. Não conseguia imaginar de quem partira tal ofensa. Mas a verdade cedo ou tarde vem a tona. Torcia eu.
E veio, quando dali a alguns dias a tesoureira e o presidente não apareceram nas aulas e foram dados com destino incerto. Sumiram e junto levaram todo o dinheiro, o registro das atas, entre outros comprovantes. Foram três anos de muito sonho e muito trabalho empenhados num objetivo comum. E da noite para o dia, levados por dois ladinos que tempos depois tiveram a cara-de-pau de voltar com ares de empresários bem sucedidos ( hoje são tratados com certa reverência e exemplo de pessoas de sucesso - argh!...). Na verdade, ninguém além deles sabia a quantia exata em caixa. Pois desde o primeiro ano lhes cabia as tarefas de realizar os controles que pouco a pouco deixaram de ser fiscalizados pelos professores e direção da escola. Creio que isso bastou para deixá-los à vontade e deu no que deu. Esse milagre o casal empresário, com certeza, não conta a ninguém. Ladinos... la-di-nos...
P.S. - Inclusive à época, fim de ano, a maioria sai em busca de outros rumos, talvez por isso ninguém sentiu-se com a responsabilidade de tentar reaver nosso dinheiro, acredito que a dupla deve ter previsto até isso. Além de se beneficiarem do esforço empreendido pela escola em abafar o caso, pois também era co-responsável.