terça-feira, 19 de março de 2013

Aula de economia

Por Paulo Roberto de Almeida - Doutor em Ciências Sociais, com vocação acadêmica voltada para os temas de relações internacionais, em geral, de história diplomática do Brasil em particular e para questões gerais do desenvolvimento econômico.

TERÇA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2013


Quando se fala em fascismo, as pessoas pensam logo em milícias armadas, de uniformes pretos, botas de couro, marchando pelas ruas com seus passos de ganso (e alguns grasnidos), caçando comunistas, judeus e pederastas, e algum tirano de bigodinho ou gestos espalhafatosos, inspirando temor e admiração.
Pode ser que tenha sido isso, durante um breve tempo, no ridículo século 20 tão devastador em sua primeira metade.
Agora já não é mais assim, pelo menos não na maioria dos países. Claro, sempre tem caudilhos de opereta, e fanfarrões de circo, prontos a se enquadrar no figurino, mas na maior parte das vezes o fascismo é insidioso, tão sutil que poucos o percebem.
Na área econômica, por exemplo, o Brasil é um país perfeitamente fascista, e mesmo os empresários não tomam consciência desse fato, e até o aplaudem, como se pode ver pela matéria abaixo.
Capitalismo de livre mercado é quando o governo se ocupa da infraestrutura e coloca as regras gerais, válidas para todo mundo, e apenas assegura que o ambiente de negócios é estável, transparente e propenso a gerar riqueza, emprego e renda pela mão dos agentes econômicos normais, que são os empresários e trabalhadores.
Fascismo é quando o governo, sem deter o comando direto da economia, pretende ditar aos empresários o que eles podem ou não podem fazer.
Quando se substitui o risco empresarial, a busca pela inovação no plano microeconômico, e quando se pretende que um bando de burocratas dite os rumos pelos quais deve caminhar a atividade empresarial privada, já se está no fascismo econômico.
Os empresários não estão percebendo que estão alienando a sua soberania decisória a um ente estatal, e visam apenas alguns favores que os livrem da concorrência e os habilite a serem mais produtivos: ou seja, querem que alguém decida em seu lugar.
Isso é fascismo econômico. Isso é stalinismo industrial, ou seja, a mesma coisa que fazia Stalin na Rússia e os militares no Brasil dos anos 1970: achar que o Estado sabe melhor que os próprios empresários o que é melhor para a indústria.
Como os decisores vivem no mundinho de Stalin (e dos militares planejadores bismarckianos), eles acham que vão poder reproduzir a história bem sucedida da Embrapa. Estão pelo menos 40 anos atrasados. O Brasil dos anos 1970, quando a Embrapa foi criada, era um país quase socialista no seu planejamento industrial, mas era tremendamente atrasado na agricultura, o que a Embrapa (e outras forças sociais) se encarregou de reduzir. Hoje a agricultura do Brasil é pujante não mais graças à Embrapa, e sobretudo devido à sua própria modernização empresarial, às forças de mercado, à concorrência internacional, ao tino dos capitalistas agrários, que não precisam de um burocrata no MAPA para lhes dizer o que plantar, quando plantar, como vender.
O governo quer ser babá de empresário industrial, situação que eles parecem aceitar com naturalidade. Eles acham que vão estar melhor com burocratas lhes dizendo o que inovar, quando inovar, para quem vender, em lugar de acharem por si sós a solução dos seus problemas. Claro, desde que o governo tire a mão pesada de cima deles.
O que eles estão fazendo é pedindo mais mão pesada... 
Isso vai terminar de enterrar a indústria no Brasil.
Quando é que os empresários vão aprender?


Governo cria nova estatal para gerar soluções à indústria nacional

Terra Mobile Brasil, 15 de março de 2013

O governo federal anunciou nesta quinta-feira a criação de uma nova estatal que deverá fomentar processos de cooperação entre empresas nacionais e instituições tecnológicas. Chamada Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o governo promete uma estrutura enxuta e gestão compartilhada entre os setores público e privado, mas ainda não revela o número de funcionários que serão contratados. Na prática, a empresa deverá criar soluções para indústria nacional.
Para 2013 e 2014, a estatal tem investimentos previstos de aproximadamente R$ 1 bilhão provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de parceiros envolvidos. "Eu tenho certeza de que a Embrapii terá um papel fundamental (na inovação). Vai ser um local de articulação das nossas relações e isso fará muita diferença para todos nós", disse a presidente Dilma Rousseff em reunião com o grupo de empresários e representantes do meio acadêmico. 
"Temos que pegar nossa estrutura de conhecimento científico e técnico para atender o chão da fábrica", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. No projeto da Embrapii, o Mercadante era ministro da Ciência e Tecnologia e estava envolvido na gestação do projeto. Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel fez uma analogia sobre a funcionalidade da empresa: "estamos mudando de modalidade, de corrida com obstáculos para salto com vara", disse nesta quinta-feira no evento. 
A criação da Embrapii faz parte do Plano Inova Empresa, que tem investimentos iniciais de R$ 32,9 bilhões com o objetivo de tornar empresas brasileiras mais competitivas no mercado global. 
Na semana que vem o governo vai fazer uma reunião para instituir a Embrapii, que vai contar com representantes da comunidade empresarial, científica e do próprio governo. Pelo governo, os ministérios envolvidos são os ministérios: Casa Civil, Ciência e Tecnologia, Educação, Indústria e Comércio Exterior, Desenvolvimento, Fazenda e a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa - o projeto da secretaria foi aprovado pelo Congresso e aguarda sanção presidencial.
O Senado finalizou na semana passada a votação do projeto de lei que cria a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa, que terá status de ministério. O projeto é de autoria do Poder Executivo e não sofreu alterações no parlamento.