segunda-feira, 14 de maio de 2012

A verdade de cada um

No. 280 - 20/2012 
A CULPA DE QUEM PRODUZ
Renato Holz (*)
A partir dos anos 60, os povos de países com maior poder aquisitivo - Alemanha, Estados Unidos, França - passaram a entender como trabalho menos nobres - limpeza pública, entrega de mercadorias e tantos outros, e que eram tarefas indignas para eles - os desenvolvidos - e passaram a estimular a vinda de imigrantes de países subdesenvolvidos para realizar estas tarefas. Bem lembro dos movimentos aliciadores alemães no sul do Brasil em busca de jovens de ascendência germânica para irem trabalhar na Alemanha.
Depois a maioria dos países ocidentais, um após o outro, passaram a entender que produzir ítens de pouco valor agregado - vestimentas, calçados, brinquedos - e por aí vai a relação, era tarefa para os países do terceiro mundo. Nos anos 70 a produção de calçado e confecções migrou para o Brasil, e depois para os países orientais.
Especular, vender direitos de propriedade, os famosos "royalties", e deter a primazia da distribuição e do comércio passaram a ser as atividades nobres nos países do ocidente. Produzir era coisa para países de mão de obra barata.
Entretanto, desde a revolução industrial no Século XVIII a grande geradora de locais de trabalho é a indústria. Assim, os países importadores passaram a enfrentar um problema social de difícil solução, pois uma parcela importante de suas populações se viu desempregada, e como tal, passou de um lado a ser um ônus para os governos com assistência social, e de outro lado deixaram de ser os consumidores que o mercado necessita, e pagadores de impostos, fonte de sustentação dos governos.

Ao mesmo tempo que isto começou a ocorrer no ocidente, os países de terceiro mundo investiram em educação - vide o caso de China e Coréia do Sul, só para citar dois exemplos - passaram a deter tecnologia e se tornaram produtores de bens de ponta como máquinas, computadores, "software", etc, etc . . . e passaram a se tornar indispensáveis, pois os países "desenvolvidos" desativaram e permitiram o sucateamento de suas indústrias, e a população destes países já não está preparada para produzir aquilo que importava a baixos preços.
Conclusão: desemprego nos Estados Unidos e na Europa, queda vertiginosa da poupança interna, a historicamente financiadora da produção, déficit orçamentários astronômicos na maioria destes países.
Aí passou a ganhar mais força a atividade de financiamento dos governos através do mercado de valores, que evoluiu a tal ponto que hoje em dia, inclusive no Brasil, a especulação com títulos de governo é premiada com isenções fiscais e/ou baixíssima tributação tudo para garantir a continuidade de financiamento dos gastos de governo. 
Ao mesmo tempo, as atividades de produção e distribuição são cada vez mais oneradas com encargos tributários.
Quem especula, e não gera empregos e nada produz, é premiado e quem produz e consome é penalizado com elevada carga tributária. 
Esta a inversão de valores em que nos encontramos, e o resultado destas práticas é o que vemos: crises, derrocada de governos e da economia de países anteriormente fortes economicamente ( Espanha, França, Itália, Estados Unidos. etc ).
A fragilidade atual é tão expressiva que uma tempestade no mercado imobiliário nos Estados Unidos originou uma crise mundial em 2008, e por efeito dominó repercute em vários países europeus nos dias atuais.
No Brasil, os recursos da Caderneta de Poupança financiam atividades de produção, e não o déficit do governo. Foi com o objetivo principal de garantir a continuidade do interesse dos investidores nos títulos da dívida pública brasileira que as regras da caderneta de poupança foram alteradas. Dizer que esta mudança foi para possibilitar a continuidade da queda de juros é falácia. O real é que, como as coisas andavam, e com a taxa Selic sendo reduzida continuamente, aqueles que aplicam em títulos que financiam a dívida do tesouro nacional passariam a aplicar na caderneta de poupança que remunerava melhor as aplicações como já estava acontecendo em abril último.

Economia é uma ciência com princípios simples e imutáveis:

- para ter mais renda é preciso a contrapartida do aumento da produção
- para aumentar a produção é preciso que haja poupança que financie este aumento
- o financiamento do consumo - dos gastos - só é salutar enquanto existir a real capacidade de pagamento desta antecipação de recursos.

Em outras palavras - só existe crescimento econômico salutar - de uma família, de uma empresa e de um país - com poupança, que financia a produção, a qual por sua vez gera as riquezas necessárias para sustentar o crescimento.

O enriquecimento de qualquer setor que provém do empobrecimento de outro setor é nefasto. Esta prática cobrará um preço alto das pessoas de qualquer entidade, desde o âmbito familiar - com o excesso de endividamento com prestações com altos juros embutidos - até a amplitude de um país que financia o seu excesso de gastos no " mercado financeiro " - especuladores.

Não devemos criticar quem trabalha duro, como é o caso, por exemplo, do povo chinês.

Devemos sim repensar a nossa realidade, e trabalhar duro para melhorá-la.

Concluo com uma frase lapidar do grande líder indiano Mahatma Gandhi

" O capital em si não é um mal; o seu mau uso o transforma em um mal." 

Pensem nisto enquanto desejo a todos
uma ótima semana
Renato Holz
Horizonte / Ce 14 de maio de 2012

(*) Renato Holz - bacharel em ciências econômicas, e articulista catarinense

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