domingo, 20 de maio de 2012

Volando con el viento - V

Crescer era minha missão, desde que recebi a carta de libertação, isto é, desde que a família motivou-me a seguir em frente. Mesmo sem a mínima ideia do processo ou a quem recorrer, entusiasticamente enfrentei os primeiros passos com euforia similar a de um cão que foge da coleira, corre para um lado, para outro, se atrapalha todo, sem direção ou noção alguma. Era minha vida em início de alforria.
Faltaram momentos para sentir saudades dos tempos em que ainda morava numa pacata cidade do interior com seus vinte e poucos mil habitantes. Lá onde os dias, as noites são previsíveis, sobretudo o destino das pessoas as tornam previsíveis. Ao nascer, o bambino chega com um “carimbo” na testa, quase que profetizando seu futuro dentro daquela sociedade. E dessa maneira teremos uma existência determinada não pelos sonhos ou ambições pessoais, mas sim pelo papel que o meio já traçou. Dificilmente se escapará de dita sina, pois em tais lugares o estrato social permanece intacto geração após geração. É o consagrado filho de peixe peixinho é.  
Assim, aos raros e inconformados desejosos de outro destino, resta-lhes a saída pela porta da frente ou dos fundos. Pela da frente fatalmente retornará a maioria dos peixinhos diplomados, sempre ao aconchego do seguro aquário da família cuja tradição se mantém há muito tempo. Aqueles que saem pelos fundos raros voltarão, e somente em ocasiões especiais, falecimentos, casamentos entre outros ...mentos. A mim coube a porta dos fundos, ser filho de peixe não seria meu destino. (... continua)

Vide Prefácio
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