quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Monalisa

Um momento! Tocou o telefone, vou atender, ........, era uma pessoa que ultimamente vive enchendo o saco. Liga com umas conversas estranhas, parece esquisito, mas é o que tem ocorrido. Estou em qualquer lugar, toca o telefone e aquela pessoa vem torrar minha paciência. Não adianta desculpas e dizer-lhe que não estou entendendo, na primeira oportunidade volta com todo blá... blá... blá...

Voltemos ao início, estava na estação rodoviária aguardando o ônibus para Curitiba. Nesses minutos de espera a gente fica rodando de um lado para outro, sem destino, somente controlando o relógio. Numa dessas voltas pelo saguão esbarrei em uma moça?! Digo moça para amenizar o impacto. Aquilo era uma coisa, era muito feia, um canhão! Deveria estar com dezenas de quilos além do ideal, mancava e para piorar tinha o rosto coberto de espinhas, daquelas de dar inveja. Eram bolhas e bolhas, algumas inflamadas... nojentas!

Após o leve esbarrão, desculpei-me e fui agraciado com um sorriso indescritível. Aquela moça começou a tomar outra forma, aquele sorriso mostrou-se mágico e encantador -  como é possível isso, imaginei. Fiquei sem jeito diante daquilo e apressei o passo para ficar longe o mais rápido possível, acreditem!  num impulso vindo não sei de onde, voltei e corri atrás dela. Queria vê-la novamente, como era um dia daqueles em que todos resolvem curtir o feriadão, o saguão estava além da conta, mal dava para caminhar sem tropeçar. Mesmo assim, fui empurrando uns e outros, esbarrei em um, dois, sei lá quantos. Fui atropelando tudo na ânsia de vê-la novamente.

Aquele sorriso enfeitiçou-me, logo eu que não acredito nessas mandingas, feitiço... Meu Deus! Será que aquela mulher ou seja lá o que for é uma bruxa. Não! Parece que perdi o juízo, essa de bruxaria não existe - balbuciava eu.

Passados alguns minutos, ainda em seu encalço e nada. Já estava próximo de embarcar e ainda correndo de um lado para o outro. Até que avistei o ônibus encostar no local determinado ao meu horário. Para minha surpresa, em frente ao portão de embarque, ela. Suspirei fundo, ajeitei os ombros e a passos largos me aproximei perguntando se embarcaria naquele ônibus. Olhou-me e com aquele sorriso eletrizante acenou que sim. Fui às alturas. Voltei ao chão com o motorista pedindo a passagem e documentos para conferir o embarque; novamente ela sumiu. Será que estou vendo coisas. Não! Eu não acredito em visões e coisas do tipo, existe alguma explicação. Estava ansioso por admirar aquele sorriso mais uma vez. O ônibus roncou e o alto falante anunciou: passageiros com destino a Curitiba às dezenove horas queiram se dirigir a plataforma de embarque, box cinco, e boa viagem.

Dentro do ônibus, segui em direção à última poltrona, ao me aproximar vi uns cabelos esquisitos e à medida que avançava aqueles cabelos deixavam transparecer um rosto. Será? E o sorriso! Era ela. Nossa! Como explicar, ninguém vai acreditar! Pedi licença, o lado da janela era meu, e sentei-me. Louco para novamente curtir aquele sorriso arrebatador.

Rodados alguns quilômetros resolvi puxar conversa e tentar descobrir o encanto daquela pessoa. Perguntei-lhe o nome, sua resposta foi o silêncio total. Mais uma vez apenas um olhar que de novo paralisou-me. Não sei por quanto tempo viajei, pois aquele sorriso transfigurava-me. Sentia-me além de mim. Aquilo era fantástico. Nunca tivera uma sensação tão perturbadora, tão real. Estava sentindo, então, já que tá, que fique - pensei!

Aí tudo escureceu, o motorista desligou as luzes internas, só percebia que a meu lado havia um vulto estranho cuja presença me incomodava, deixava-me inquieto e por outro lado concectava-me ao paraíso. Credo! fui profundo agora, mas era o que sentia. Através daquele sorriso  aterrisava direto no Éden... essa era a sensação.

Até que ao passarmos por uns solavancos ela resolveu apresentar-se e disse que seu nome era Consciência. Achei esquisito aquele nome. Ainda assim respondi-lhe que seu sorriso era a coisa mais linda que havia visto. Ela novamente sorrindo... deixou escapar que aquele sorriso era a minha esperança. Depois dessa?!?, sem entender nada, adormeci....

Ao desembarcar em Curitiba não a vi. Discretamente comentei com o motorista se havia percebido o canhão de mulher que viajou a meu lado. O motorista olhou-me de uma maneira esquisita e disse-me que não havia mulher alguma no ônibus, tampouco passageiro a meu lado. "Plimmmmmmmmmm.................plimmmmmm...........

Não respondi, fui-me e à medida que afastava-me da rodoviária os fatos ocorridos, desde minha decisão de viajar, ecoavam em minha mente, enfim algum sentido, aquela coisa desengonçada, manca, feia, nojenta, era minha consciência abalada com meu fraco desempenho nos últimos dias e que apesar de tudo trazia o conforto de um sorriso encantador: a esperança em dias melhores. Ah!, A pessoa que fica ligando e enchendo o saco é uma cliente insatisfeita com o meu trabalho.

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