quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Diga com quem andas e direi quem és

Conversão da Medida Provisória nº 519, de 2010
Autoriza o Poder Executivo a doar estoques públicos de alimentos, para assistência humanitária internacional.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o  A União é autorizada a doar, por intermédio do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA), ao Estado Plurinacional da Bolívia, à República de El Salvador, à República da Guatemala, à República do Haiti, à República da Nicarágua, à República do Zimbábue, à República de Cuba, aos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, à Autoridade Nacional Palestina, à República do Sudão, à República Democrática Federal da Etiópia, à República Centro-Africana, à República Democrática do Congo, à República Democrática Somali, à República do Níger e à República Democrática Popular da Coreia os produtos nos respectivos limites identificados no Anexo desta Lei, desde que não comprometa o atendimento às populações vitimadas por eventos socionaturais adversos no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 12.688, de 2012)
§ 1o  As doações serão efetivadas por meio de termo firmado pela Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB e correrão à conta de dotações orçamentárias da Política de Garantia de Preços Mínimos - PGPM e do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA. 
§ 2o  Caberá ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: 
I - caso haja necessidade premente, autorizar o beneficiamento dos produtos em alimentos prontos para consumo humano; e 
II - disponibilizar, por intermédio da CONAB, os produtos, livres e desembaraçados, dentro dos navios nos portos do Rio de Janeiro, no Estado do Rio de Janeiro, de Santos, no Estado de São Paulo, de Paranaguá, no Estado do Paraná, de Itajaí, no Estado de Santa Catarina, e de Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, por meios próprios ou de terceiros, correndo todas as despesas decorrentes, inclusive na forma de equivalência em produto, à conta de dotações consignadas no orçamento da União. 
§ 3o  O frete e demais despesas de transporte serão cobertos pelo PMA, que poderá ser ressarcido na forma de equivalência em produto. 
§ 4o  Em casos excepcionais, nas situações em que o PMA não puder arcar de forma integral com as despesas de transporte, os referidos custos deverão ser cobertos pelas dotações orçamentárias mencionadas no § 1o
Art. 2o  As despesas com as doações previstas no art. 1o desta Lei não deverão afetar a implementação eficiente da PGPM e do PAA. 
Art. 3o  Caberá ao Ministério das Relações Exteriores definir os quantitativos e respectivos destinatários dos produtos identificados no Anexo desta Lei, em coordenação com o PMA. 
Parágrafo único.  Atendida a demanda dos países previstos no art. 1o desta Lei, o Ministério das Relações Exteriores poderá destinar os estoques remanescentes a outros países atingidos por eventos socionaturais adversos ou em situação de insegurança alimentar aguda, observados os limites previstos naquele artigo. 
Art. 4o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.  
Brasília, 20 de junho de 2011; 190o da Independência e 123o da República. 
DILMA ROUSSEFF
Antonio de Aguiar PatriotaMilton Elias Ortolan
Afonso Florence
 
Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.6.2011  
ANEXO 
PRODUTOS A SEREM DOADOS
LIMITES
Arroz
Até 500.000 (quinhentas mil) toneladas
Feijão
Até 100.000 (cem mil) toneladas
Milho
Até 100.000 (cem mil) toneladas
Leite em pó
Até 10.000 (dez mil) toneladas
Sementes de hortaliças
Até 1 (uma) tonelada

Blog Diplomatizzando



Um Estado falido é, em primeiro lugar, um Estado que não consegue sequer administrar sua economia de maneira competente com vistas a assegurar o abastecimento alimentar adequado ao seu próprio povo. Uma outra característica de um Estado falido é o fato de não conseguir assegurar segurança quanto ao futuro ao seu próprio povo, tratando antes de assegurar a segurança dos aparatchiks do regime, o que aliás faz desse Estado um regime autoritário, antidemocrático e sem qualquer legitimidade política.
Cuba exibe ambas características: é um Estado falido. Tanto que precisa ser alimentada por amigos e aliados...
Paulo Roberto de Almeida


Blog do Orlando Tambosi
É isso: impostos extorsivos aqui e doações milionárias a Cuba, por exemplo, com a qual o governo brasileiro é um verdadeiro Papai Noel. A coisa é feita através de um órgão da ONU, esse elefante branco hoje dominado por tiranetes. A obsessão do lulismo é ter uma cadeira naquela assembléia de autoritários. Generosidade com o bolso alheio é fácil. No Brasil, ao que parece, só existem famintos no discurso de Dona Dilma, fiel seguidora do falastrão de Garanhuns:

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) anunciou na quinta-feira a chegada a Cuba de uma carga de 25 mil toneladas de arroz doadas pelo Brasil para apoiar programas de assistência social. Esta doação é parte de um fundo de 710 mil toneladas de alimentos que foi criado pelo Brasil em 2011 para apoiar as operações do PMA em nível mundial. A embarcação "MV Nahide" transportará a carga que será descarregada nos portos de Havana e da cidade oriental de Santiago de Cuba, detalha a nota divulgada pelo PMA na capital cubana. "Por meio de um eficiente processo de irmanação, o Brasil doa os alimentos enquanto Cuba cobre os custos de transporte e armazenamento dos alimentos, que para esta carga ascendem a US$ 2,7 milhões, sendo esta a primeira vez que o Governo cubano participa deste processo", explica. A nota também destaca que Cuba entrega ao PMA há mais de 12 anos uma contribuição anual de 2,5 mil toneladas de açúcar. "Estamos muito agradecidos ao Governo e ao povo do Brasil por esta contribuição.", disse o diretor regional do PMA, Gemmo Lodesani, durante uma recente visita à ilha. Também indicou que o Brasil vem desempenhando um papel cada vez maior na assistência humanitária e que esta nova doação "confirma seu compromisso com os quais mais necessitam. A generosidade de Cuba, compartilhando o que tem, é também admirável" acrescentou. A nota ressalta que o Brasil doou mais de 300 mil toneladas de alimentos a 35 países através do PMA desde 2011 e que suas contribuições aumentaram de US$ 1 milhão em 2007 para mais de US$ 82 milhões durante 2012, o que colocou o país entre os dez maiores doadores dessa agência humanitária. (Fonte).


"Che Guevara" A Farsa!!!!!!!!!

Che Guevara Covarde, Assassino e Cruel

Ernesto Guevara de la Serna, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, nasceu em Rosário, Argentina, a 14 de junho de 1928 e felizmente foi morto no dia 8 de outubro de 1967 com 39 anos voltados a barbárie, ao assassinato e ao terrorismo. Infelizmente muitos jovens desinformados acreditam que Che Guevara foi um heroi.

Quem foi 'Che'? Uma maravilha, como "ensinam" alguns professores comunistas? Ou um assassino frio, como algumas pessoas comentam? Tire suas próprias conclusões...

Conheçamos Che Guevara, um homem retratado à feição de um Jesus Cristo mas que poucos conhecem sua verdadeira face. Examinemos seus mestres, seus ídolos e os países que admirava:

Lênin, o fundador do Estado Soviético, um dos ídolos de Che Guevara, disse em 1891: "A fome tem várias conseqüências positivas (...) a fome nos aproxima de nosso alvo final, o socialismo, etapa imediatamente posterior ao capitalismo. A fome destrói assim a fé não somente no Czar, mas também em Deus".

Depois, em 1921, por ocasião de uma grande fome, quando já era o líder máximo, Lênin reafirmou que "a fome deveria servir para ferir mortalmente o inimigo (Igreja Ortodoxa)". E foi mais além, proibiu ajuda aos famintos. Quem os ajudasse, poderia ser até preso. Pereceram nessa fome 6 milhões de pessoas.

Che Guevara estudou Lênin, admirou-o, e provavelmente leu também o seguinte discurso leninista: "É preciso lutar contra a religião", "o marxismo é incondicionalmente ateu, decididamente hostil a qualquer religião".

Stalin, uma das figuras mais perversas deste século. Responsável diretamente por milhões de mortos, pelos processos de Moscou, pela fome deliberada na Ucrânia, pelo Gulag. Seus crimes foram denunciados por Krushev a partir de 1956.

Foi essa figura a quem Che Guevara jurou: "diante de um retrato velho e prateado do camarada Stalin, jurei não descansar até ver esses polvos capitalistas aniquilados". Por ocasião de sua visita a Moscou, Che ficou bravo com o embaixador cubano porque este se opôs a depositar flores no mausoléu de Stalin.

A Mao Tse Tung, Che tinha grande admiração, e o conheceu pessoalmente numa viagem a China. Qual era o motivo da admiração? Talvez porque Mao tenha ordenado a invasão do Tibet nos anos 50, na qual 1 milhão de pessoas morreram (1 em cada 8 habitantes), e na qual monges foram enterrados vivos. Talvez por ter instalado na China uma das mais perversas ditaduras de que a história teve notícia ...

Che também admirava desde jovem os comunistas da Guerra Civil Espanhola. Esses comunistas ficaram famosos por torturar, esquartejar e matar padres durante a guerra. Um dos comunistas que participou da guerra civil, Angel Ciutah, ajudou Che a criar o serviço de segurança do Estado, para proteger o estado revolucionário cubano.

O serviço de segurança ficou famoso depois da morte de Che porque era um exemplo de eficiência na arte da tortura, das provas forjadas e dos assassinatos. Huber Matos, que lutou ao lado de Che e Fidel, foi a primeira das vítimas. Apenas porque discordou do "comandante", foi executado.

Che dizia que a solução para os problemas do mundo estava atrás da Cortina de Ferro. O que havia lá de tão excelente? Além do Gulag, da perseguição religiosa, dos massacres, da fome premeditada, das polícias políticas? E havia o Muro de Berlim na Alemanha Oriental... Quem quisesse escapar da miséria pulando o muro era fuzilado.

Em 1956 na Polônia a multidão, num protesto contra o governo totalitário, gritava "pão e liberdade". Foi reprimida a bala, o que ocasionou dezenas de mortos.

Em 1956, na Hungria, houve a revolução anti-totalitária, na qual a população resistiu com armas na mão contra a invasão soviética. Pereceram 3.000 pessoas; 200.000 fugiram.

Talvez a solução dos problemas do mundo estivesse com o camarada Enver Hoxa, que proscreveu a religião na Albânia, ou então com os expurgos internos de Tito na Iugoslávia, ou ainda com o governo corrupto de Ceaucescu na Romênia.

Por que Che escreveu: "Dos países que visitamos, a Coréia do Norte é um dos mais extraordinários" ? Talvez ele tenha gostado da Guerra da Coréia provocada pelo governo do norte, na qual 500.000 pessoas morreram; talvez tenha admirado o grande expurgo interno promovido por Kim Il Sung ocorrido algum tempo antes de sua visita, no qual o líder coreano perseguiu e matou milhares de opositores do regime.

Por que Che disse: "na China não se vê nenhum dos sintomas de miséria que se vêem em outros países" ? Deve ter-se referido ao "grande salto para frente" de Mao, projeto econômico na China, envolvendo entre outras coisas a coletivização forçada. O resultado do projeto foi a maior fome de toda a história. Mao chegou a exportar comida e impediu a aceitação de ajuda externa. Pereceram mais de dez milhões de chineses.

Che disse: "Cuba devia seguir o exemplo de desenvolvimento pacífico mostrado pela URSS". O que era "desenvolvimento pacífico" para ele? O racionamento de comida feito por Lênin? O Gulag? Os expurgos de Stalin? A política anti-religiosa de Krushev? A burocracia corrupta de Brejnev? Os inúmeros massacres e perseguições que o Partido Comunista impôs aos soviéticos?

Realmente, Cuba, a ilha-prisão, seguiu bastante o exemplo da URSS: corrupção, expurgos internos, assassinatos, repressão, campos de trabalho forçado (que Che ajudou a construir) etc. Mas o que mais caracterizou a revolução cubana foi o "Paredón", em que Che teve participação ativa, principalmente em La Cabaña. Quantos ele matou lá? 300, 400?

Junto aos seus ídolos Lênin, Stalin, Mao e companhia, Che contribuiu para a construção do regime que mais matou pessoas em toda a história, o chamado "socialismo real", responsável por mais de 100 milhões de mortos. Nada perde ele, portanto, diante do nefasto nazismo.

Mas talvez nem esses 100 milhões de vítimas ainda não bastem para derrubar esse mito que transformou um criminoso arrogante e intolerante com sua ideologia mentirosa em um santo aos olhos daqueles com preguiça de aprender História.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Site Em direita Brasil

Gilrikardo disse: Diariamente nos defrontamos com pessoas que defendem com unhas e dentes esta pseudo-esquerda que aí está representada pelo PT. Partido que tenta de todas as maneiras reescrever a história dentro dos moldes que lhe sejam convenientes, além de monetariamente beneficentes.
Como nunca fui um maria-vai-com-as-outras, sempre procurei me informar sobre o mundo em que vivo, por isso transcrevo abaixo o outro lado da história, são fatos, conceitos, datas entre outros dados passíveis de serem pesquisados em qualquer biblioteca ou até mesmo em nosso famoso google... hoje em dia está cada vez mais difícil ignorar os acontecimentos à nossa volta, bem como nos eximirmos de nossa responsabilidade na construção do mundo. 



Revolução Democrática de 31 Mar 1964

1ª PARTE

ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS
ACADEMIA REAL MILITAR (1810)
DIVISÃO DE ENSINO – SEC ENS "A"
CADEIRA DE HISTÓRIA MILITAR

1. INTRODUÇÃO

A Revolução Democrática de 31 de março de 1964 foi um movimento que visava, acima de tudo, evitar que o Brasil fosse entregue nas mãos dos comunistas.

É muito simples para qualquer pessoa, nos dias de hoje, levantar argumentos que contrariem os fundamentos nos quais se baseiam os regimes ditos socialistas/comunistas. Com a queda do muro de Berlim em 1989, com a derrocada político-econômica-militar da ex-União Soviética e, em conseqüência, a realidade que surgiu das luzes lançadas nos porões dos governos comunistas é possível provar de forma sobeja e cristalina a contradição do regime dirigido por Moscou desde 1918 e imitado pela China e tantos outros países.

No entanto, se observarmos com atenção o passado recente do Brasil (1922-1964) e reagirmos os fatos ocorridos com a conjuntura mundial correspondente, veremos que a Revolução de 64 representou o clímax de um longo ciclo revolucionário que começou com a Rev de 1922 (tenentismo) no Rio de Janeiro e terminou com aquela que é considerada "a revolução para acabar com todas as revoluções" (31 Mar 64).

É importante salientar, ainda, que a chamada Guerra Fria, dividiu o mundo em dois pólos opostos fazendo com que o segmento militar brasileiro, de vocação legalista, mas acima de tudo, comprometido com os valores democráticos, se posicionasse nitidamente contra os regimes totalitários/ comunistas.

O trabalho a seguir apresentado tem por objetivos:

- Identificar os principais antecedentes da Revolução Democrática de 31de março de1964;
- Explicar a participação das Forças Armadas no movimento; e,
- Apreciar as conseqüências e repercussões da revolução para o Brasil.

2. DE MARX À GUERRA FRIA

a. A Revolução Industrial e o Socialismo Científico

A Revolução Industrial foi iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, estendendo-se para outros países da Europa, para o Japão e para os Estados Unidos durante o século XIX.

A Inglaterra, em meados do século XVII, possuía condições muito favoráveis para ser pioneira e líder do processo de industrialização, sendo, dentre outras, as que seguem abaixo:

- capitais acumulados durante a Revolução Comercial, transformando Londres, com seu sistema bancário e sua bolsa de valores , no maior centro financeiro da Europa;
- supremacia naval originada com os Atos de Navegação de 1651, associada com o declínio do poderio naval holandês;
- disponibilidade de mão-de-obra provocada pela grande migração do campo para as cidades fruto do fenômeno dos "cercamentos", o qual se caracterizou pela expulsão dos camponeses de suas terras comunais empreendida pelos nobres ingleses nos séc XVII e XVIII, transformando-as em pastagens para criação de ovelhas , cuja lã era vendida como matéria-prima para fabricação de tecidos;
- instauração da monarquia parlamentar, possibilitando à burguesia maior participação no governo e na vida política do país, impulsionado com isso o desenvolvimento do capitalismo inglês;
- inovações tecnológicas aliadas à sua posição insular e à existência de ricas jazidas de ferro e carvão.

A industrialização intensificou o processo de urbanização, pois estimulou a migração das populações rurais e sua concentração na periferia das cidades manufatureiras.A moderna sociedade urbana e industrial condicionou o processo de formação das duas classes fundamentais do capitalismo da época: a burguesia e o proletariado industrial.

Com a Revolução Industrial, a burguesia se tornou a classe economicamente dominante da sociedade européia e, a partir da Revolução Francesa, foi também conquistando poder político nos diversos países desse continente. O proletariado industrial, por sua vez, era submetido a extenuantes jornadas de trabalho, não era amparado por leis trabalhistas e não tinha representatividade política.

Nesse contexto, característico da primeira metade do século XIX, inúmeros pensadores e intelectuais ligados à burguesia e ao proletariado elaboraram novas doutrinas econômicas e sociais profundamente vinculadas ao processo de industrialização e urbanização: o liberalismo e o socialismo.

1) Características do Liberalismo

As teorias fundamentadoras do liberalismo foram desenvolvidas, principalmente, pelos chamados economistas liberais (ou clássicos), destacando-se Adam Smith, considerado o pai do liberalismo e o fundador da escola clássica.

Os princípios econômicos formulados por Adam Smith (1) em "A Riqueza das Nações", publicado em 1776, corresponderam à fase inicial da Revolução Industrial inglesa, sendo posteriormente desenvolvidos por seus discípulos, entre os quais se destacaram, Thomas Malthus(2), David Ricardo(3) e Nassau Senior.

2) O Socialismo Científico e seus princípios fundamentais

A Revolução Industrial criou, como já vimos, condições para o desenvolvimento do pensamento socialista, ligado à nascente classe operária. Se a Inglaterra foi o berço das idéias liberais, a França foi a pátria das idéias socialistas. Surgindo nos primórdios da industrialização e correspondendo à infância da classe operária, o socialismo pregava reformas que, em vez de programas reais de transformação da sociedade da época, propunham projetos ideais para a construção da sociedade futura, daí denominarem-se seus seguidores de socialistas utópicos.

Os três principais representantes do socialismo utópico forma Henri de Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen.

No que concerne ao Socialismo Científico, pode-se conceituá-lo como sendo o nome que receberam todas as teorias desenvolvidas, em meados do séc XIX, por Karl Marx e Friedrich Engels, que com a publicação do "Manifesto Comunista" de 1848 assinalaram o seu surgimento.

Marx e Engels, fruto de seus estudos de economia, história e filosofia, chegaram à conclusão de que seria possível construir , a partir do capitalismo bastante desenvolvido ou industrializado e sob direção do proletariado, uma sociedade socialista ou sem classes. Nela o Estado, a princípio controlado pela classe proletária, iria desaparecer com o tempo, dando lugar ao comunismo, a etapa final do socialismo.

A expressão socialismo científico foi criada por Marx e Engels para diferenciar suas idéias das de outros autores, principalmente os teóricos do socialismo utópico, os quais, como já vimos, estariam direcionados para a sociedade do amanhã.

Os fundadores do socialismo científico, ao contrário, estavam preocupados com a evolução histórica da sociedade, visando entender seu presente, desejosos em descobrir as forças que nela provocariam a modificação para a sociedade do futuro.

O Socialismo Científico, preconizado por Marx e Engels, possuía os seguintes princípios fundamentais:

- as transformações da sociedade como resultado das forças econômicas;
- a luta de classes como força motriz imediata da história;
- o proletariado como agente de transformação da sociedade capitalista;
- fim da exploração do homem pelo homem;
- propriedade social dos meios de produção (fábricasd-terras-bancos)
- construção de uma sociedade sem classes;
- desaparecimento gradual do Estado;
- o advento do socialismo como fase de transição para o comunismo.
- liberdade de contrato (empregador-empregado);
- livre concorrência e o livre-cambismo (ñ-protecionismo).

3) O Comunismo no Brasil

a) Surgimento

O comunismo surge no Brasil como influência da Revolução Bolchevista de 1917, a qual implantou o comunismo na Rússia.

Em março de 1922 é fundado o Partido Comunista no Brasil que aceita, em 1924, as 21 condições de admissão à Terceira Internacional (ou Komintern – fundado por Lênin em 1919).

O Komintern tinha por objetivo difundir e apoiar a implantação do comunismo em escala mundial.

A título de exemplo da total submissão exigida pelo regime soviético, cujas exigências incluíam a negação de valores fundamentais como o patriotismo, transcrevemos a seguir a 6ª condição de admissão ao Komintern:

"Todos os partidos comunistas devem renunciar não somente ao patriotismo como também ao pacifismo social e demonstrar sistematicamente aos proletários que sem a derrubada revolucionária do capitalismo não haverá desarmamento e paz mundial".

b) A Intentona Comunista de 1935

Ultrapassados os movimentos revolucionários e as revoltas de 1922 no Rio de Janeiro, de 1923 no Rio Grande do Sul, de 1924 em São Paulo, da Coluna Prestes entre 1925 e 1927, vamos desembocar na Revolução de 1930, que consegue o que os outros movimentos não conseguiram: por um fim à política do café-com-leite fundamentada no poder das oligarquias paulista e mineira que lideravam a política nacional determinando o resultado das eleições, indicando, inclusive, o presidente da república.

Com a vitória na Revolução de 30, Getúlio Vargas implementa um governo forte e centralizador que contrariava vários segmentos que haviam apoiado sua ascensão ao poder. Particularmente, o Estado de São Paulo clamava por um tratamento digno de suas lideranças e por uma Constituição.

Tal crise originou, como já foi estudado anteriormente, a Revolução de 1932 que teve como conseqüência principal a elaboração da Constituição de 1934 que,, influenciada pela Constituição alemã de Weimar, apresentava características liberais e centralizadoras.

O período do governo constitucional de Getúlio Vargas foi uma fase marcada pelo choque entre duas correntes ideológicas, influenciadas pelas ideologias de origem européia: a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL).

A AIB, nascida em São Paulo, fundada e liderada por Plínio Salgado caracterizou-se por ideologia e métodos fascistas. Pretendia a criação de um "Estado Integral", ditatorial, com um só partido e chefe único.

A ANL, por sua vez, surgiu como um movimento de Frente Popular, de composição variada contra o fascismo.

Desde sua fundação, a Aliança Libertadora Nacional, contava com a ativa participação de comunistas (Luís Carlos Prestes era seu presidente honorário) e propunha a reforma agrária, constituição de um governo popular, cancelamento das dívidas externas e nacionalização das empresas estrangeiras.

Os violentos choques entre integralistas e comunistas eram habilmente utilizados por Getúlio Vargas, que mostrava à classe média e aos militares os perigos de uma política aberta.

O medo à subversão vermelha e os discursos inflamados de Luís Carlos Prestes levaram o Congresso Nacional a promulgar uma Lei de Segurança Nacional, concedendo ao governo federal amplos poderes para reprimir a ação da ANL.

Em 13 de julho de 1935 o QG da ANL é invadido por forças do governo e com base nos documentos achados em seu interior a organização é acusada de ser financiada pelo comunismo internacional.

A prisão de alguns líderes, o fechamento da ANL e a impossibilidade, agora, de chegar legitimamente ao poder levaram a ala mais radical da Aliança a uma frustrada tentativa (intentona) de implantação do comunismo no Brasil pela força das armas, liderada por Luís Carlos Prestes, que termina no Rio de Janeiro, em 27 Nov 35, com a prisão dos insurretos.

c) O breve retorno à legalidade – 1945/47

Em fins de 1943, cresce a pressão contra a ditadura do Estado Novo de Vargas (instituído com o golpe baseado no Plano Cohen em 1937).

A participação do Brasil na II Guerra Mundial, através de sua Força Expedicionária (FEB), lutando contra o nazi-fascismo, deixava à mostra as contradições da ditadura Vargas.

É importante ressaltar que o PCB, seguindo disciplinadamente a orientação de Moscou, aceitou a diretriz segundo a qual deveria apoiar o governo, agora aliado à luta antifascista.

Ao entrar na guerra o Brasil estabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética pela primeira vez em sua história.

Até Luís Carlos Prestes, ainda preso por sua participação na Intentona Comunista de 35, demonstrando total submissão a Moscou, dizia que era preciso "estender a mão ao inimigo da véspera, em nome das necessidades históricas".

Cumpre ressaltar que o governo Vargas fora responsável por manter Prestes cerca de dez anos na prisão e pelo envio para um campo de extermínio nazista, em 1936, de sua mulher, Olga Benário Prestes, em fase final de gravidez.

Olga Benário era uma judia-alemã que bem jovem (16anos) começara a militar no partido comunista alemão, participando, inclusive, de ações armadas, e que fora encarregada de acompanhar Prestes quando de seu retorno de Moscou para liderar a revolução comunista no Brasil.

Neste momento, é interessante tomarmos uma pausa para reflexão:

Que estranho desígnio, que misteriosa força, que delírio ideológico faz com que um homem (Prestes) venha a apoiar publicamente e venha, inclusive, a apertar as mãos daquele (Vargas) que fora responsável por sua prisão por dez anos e que deportara sua mulher, grávida de sete meses, para a Alemanha nazista onde foi, posteriormente, morta num campo de concentração?

No início de 1945 Vargas, fruto das pressões recebidas, resolve tomar as seguintes medidas:

- liberar a criação de partidos políticos (dando origem à formação das siglas UDN-PSD-PTB-PSP;
- reabilitar o Partido Comunista Brasileiro ( PCB);
- estabelecer as eleições presidenciais para Dez 45; e,
- libertar presos políticos, dentre eles Luís Carlos Prestes.

Teve, então, início o movimento queremista assim chamado em função do slogan "Queremos Getúlio", composto por partidários de Getúlio Vargas, dentre eles, os comunistas.

As relações de Getúlio com os comunistas e a decorrente possibilidade de um novo golpe de Vargas, provoca sua queda.

Vargas é destituído pelos Generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra.

O Gen Dutra é eleito presidente e assume em 1946.

Em 1947 tem início a Guerra Fria com a colocação em prática da Doutrina Truman.

Em 1947 o Brasil alinha-se com os EUA (vide TIAR), o PCB é colocado na ilegalidade e o governo Dutra rompe relações diplomáticas com a URSS.

3. ANTECEDENTES (55-64)

a. A crise de novembro de 55

b. O governo de Juscelino e Goulart (1956 – 1960)

A espinha dorsal do governo de Juscelino era o Programa ou Plano de Metas que resultou na construção de Brasília e em outras grandes obras como usinas hidrelétricas, estradas, indústrias (automobilística) etc...

Esse plano tinha por objetivo o desenvolvimento de cinco pontos básicos: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação.

Com a meta de atingir cinqüenta anos de progresso em cinco de governo, a administração Juscelino efetuou vultosos gastos que elevaram a inflação/custo de vida e provocaram, como reação, diversas greves.

No campo político o governo Juscelino caracterizou-se pela habilidade em manobrar em meio as pressões da esquerda e da direita.

No caso do Partido Comunista, por exemplo, observa-se que teve uma relativa margem de atuação, publicando o semanário "Novos Rumos", o qual tinha venda livre nas bancas, apoiando abertamente o rompimento do governo com o FMI.

Com relação aos militares comprou novos equipamentos, como o porta-aviões Minas Gerais, e contornou com êxito as rebeliões de Aragarças e Jacareacanga, lideradas por oficiais da Força Aérea.

c. O governo Jânio Quadros ( UDN –1961)

Eleito com 48% dos votos, Jânio Quadros tornou-se presidente do Brasil, e João Goulart, mais uma vez, foi empossado na vice-presidência.

Governando de maneira personalista e folclórica, as atitudes de Jânio despertaram a preocupação da sociedade brasileira como um todo e, em particular, do segmento militar.

No campo econômico, Jânio implementou medidas estabilizadoras e antiinflacionárias que geraram um grande custo político pois provocaram o descontentamento tanto de empresários quanto de trabalhadores.

Sua política externa, que pretendia ser independente e neutra, causou comoção em uma época onde a sensibilidade da comunidade internacional exacerbava-se, no auge da guerra fria, ante a possibilidade de um conflito nuclear.

Provavelmente, Jânio renunciara, esperando que a popularidade que o conduzira ao poder o fizesse, desta feita, voltar nos braços do povo e com as mãos livres para exercer o governo do país conforme lhe aprouvesse, plenamente independente.

O erro de avaliação cometido por Jânio ao renunciar em 25 Ago 61, mergulharia o país em uma crise que quase o conduziu a uma guerra civil.

É importante destacar que a conjuntura mundial, no início da década de 60, também apresentava graves focos de tensão cujos reflexos se faziam sentir no cenário nacional e que bem justificam a preocupação do segmento militar com a manutenção dos valores democráticos e com a preservação das instituições.

Como exemplo, podemos citar a construção do muro de Berlim e o início da fase americana da Guerra do Vietnã em 1961 e a crise dos mísseis em Cuba, que quase conduziu o mundo a uma guerra nuclear em 1962.

d. O governo João Goulart (07 Set 61 – 30 Mar 64)

Por ocasião da renúncia de Jânio Quadros, João Goulart encontrava-se na China comunista em viagem oficial.

Os ministros militares receosos de que "Jango" tentasse estabelecer no Brasil uma república sindicalista, ou pior ainda, um governo comunista, vetaram a volta de João Goulart ao Brasil, alegando razões de segurança nacional.

A situação tornou-se mais tensa quando o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, partidário e cunhado de "Jango", deflagrou a campanha pela legalidade, utilizando uma cadeia de rádio para insuflar a população contra a decisão de vetar a posse de João Goulart.

Conseguindo o apoio do Cmt do então III Exército (atual CMS), comandado na época pelo Gen Machado Lopes, criou-se um impasse que poderia levar o Brasil a uma situação de guerra civil.

Graças à proposta apresentada pelo Congresso Nacional, que previa a instauração do parlamentarismo, houve o acordo com os ministros militares, evitando-se o perigo de uma confrontação armada (guerra civil).

1) A antecipação do plebiscito

Tão logo assumiu a presidência, João Goulart começou a articular a antecipação do plebiscito popular sobre a permanência do regime parlamentarista, prevista para 1965.

Conseguindo o fim do parlamentarismo em plebiscito popular em 6 de janeiro de 1961, Jango assumiu plenos poderes como presidente da república, porém os problemas político-econômicos continuaram :

- inflação e eclosão de conflitos políticos;
- reforma agrária sem nenhum acordo; e,
- influência de Brizola, que organiza o "Grupo dos Onze", verdadeiras células comunistas para a difusão da luta armada.

2) Expansão comunista no governo Goulart

a) Janeiro de 1962

- Comunistas dominam a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Petrobrás e os sindicatos de transportes, agora unidos em comando único através do Pacto União e Ação (PUA);
- Dominam a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Indústrias e outros sindicatos; e,
- Realizam a publicação diária da "Voz Operária", jornal do PCB.

b) Fevereiro de 1962

- Leonel Brizola encampa empresa telefônica no RS (início da campanha de naionalização/estatização);
- Exército constantemente atacado pela imprensa infiltrada por comunistas; e,
- pregação comunista torna-se aberta, sendo que Luís Carlos Prestes, com apoio oficial, traz exposição soviética para o Rio de Janeiro.

c) Maio-Junho de 1962

- Partido Comunista, mesmo na ilegalidade, realiza comícios ostensivos e campanhas populares;
- Movimento de Cultura Popular do Min da Educação, com o pretexto de combater o analfabetismo realiza doutrinação comunista;
- intensifica-se a tensão social com a ameaça de greve geral da CGT; e,
- saqueados aproximadamente 300 estabelecimentos comerciais em Caxias, com um saldo de 25 mortos e 1000 feridos.

d) Setembro de 1962

- Movimento grevista paralisa quase toda a nação; e,
- PCB estabelece seu programam de 11 pontos, um dos quais previa um expurgo nas Forças Armadas.

e) Outubro de 1962

- Eleições levam vários comunistas infiltrados nos partidos legais ao poder (Miguel Arraes – PE);
- CGT passa a assessorar o ministro do trabalho tendo livre trânsito no palácio do governo;
- eleição de sargentos, contrariando a lei eleitoral, provoca a passeata de 6000 Sgt, Cb e Sd em favor da posse dos eleitos ilegalmente;
- alguns militares aliaram-se à subversão e procuraram levá-la aos quartéis.

f) Setembro de 1963

- Sargentos da Aeronáutica e da Marinha revoltam-se em Brasília contra a decisão do Supremo Tribunal Federal que denegara a elegibilidade dos sargentos, assumindo o controle de instalações militares, fazendo reféns oficiais e seus familiares;
- chegam a prender o Presidente da Câmara dos Deputados e um Ministro do STF;
- o Presidente da República se ausentara da capital federal, retornando somente após a rebelião ter sido controlada.

g) As Ligas Camponesas

h) O envolvimento de João Goulart

(1) Ações do PCB

- Lança forte campanha pela encampação das refinarias particulares, pela moratória da dívida externa e pela anistia aos sargentos de Brasília.

(2) Ações do Presidente

- Participa de comício comunista na Cinelândia (Set 63);
- solicita ao Congresso a decretação de Estado de Sítio (retirado por pressões recebidas da esquerda e da direita – Out 63);
- negocia diretamente com o PC;
- concorda com a formação de uma Frente Popular (unificação das esquerdas);
- envia projetos radicais ao Congresso – reforma constitucional, encampação de refinarias, reforma agrária radical e outros...; e,
- vislumbrava Goulart que o poder legislativo em decadência não teria como reagir.

O Presidente julgava as Forças Armadas sem condição de oposição devido aos seguintes fatores: Grandes comandos estariam afinados com ele; e, a oficialidade estava seria neutralizada pelos sargentos, já submetidos à doutrinação e aliciamento.

- tudo indicava a instalação de uma "República Sindicalista".

(LEIA MAIS...)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Bem-vinda à direita

Uma universitária cursava o sexto semestre da Faculdade. Como é comum no meio universitário, pensava que era de esquerda e estava a favor da distribuição da riqueza. Tinha vergonha do fato de seu pai ser de direita e, portanto, contrário aos programas e projetos socialistas que previam dar benefícios aos que não mereciam e impostos mais altos aos que tinham mais dinheiro.



A maioria dos seus professores tinha afirmado que a filosofia de seu pai era equivocada.

Por tudo isso, um dia, decidiu enfrentar o pai.

Falou com ele sobre o materialismo histórico e a dialética de Marx, procurando mostrar-lhe que estava errado ao defender um sistema tão injusto como o da direita.

No meio da conversa o pai perguntou:

- Como vão as aulas?

- Vão bem, respondeu ela. A média das minhas notas é 9, mas me dá muito trabalho consegui-las. Não tenho vida social, durmo pouco, mas vou em frente.

O pai prosseguiu:

- E a tua amiga Sônia, como vai?

Ela respondeu com muita segurança:

- Muito mal. A sua média é 3, principalmente, porque passa os dias em shoppings e em festas. Pouco estuda e algumas vezes nem sequer vai às aulas. Com certeza, repetirá o semestre.

O pai, olhando nos olhos da filha, aconselhou:

- Que tal se você sugerisse aos professores ou ao coordenador do curso para que sejam transferidos 3 pontos das suas notas para as da Sônia. Com isso, vocês duas teriam a mesma média. Não seria um bom resultado para você, mas convenhamos, seria uma boa e democrática distribuição de notas para permitir a futura aprovação de vocês duas.

Ela indignada retrucou:

- Por quê?! Eu estudei muito para conseguir as notas que tive, enquanto a Sônia buscava o lado fácil da vida. Não acho justo que todo o trabalho que tive seja, simplesmente, dado a outra pessoa.

Seu pai, então, a abraçou carinhosamente, dizendo:

- Bem-vinda à Direita!

O PT é o partido que tira de quem trabalha para distribuir para quem não trabalha'

Entendeu, ou quer que desenhe?


sábado, 22 de dezembro de 2012

Um presente

Nesta época de final de ano, dias de festa e promoções, é difícil fugir da idéia (não aderi à reforma ortográfica, assim mantenho o acento "éia") de dar / ganhar presentes. Eu há muito não pratico esse "marketing capitalista", isto não significa que sou contra, muito pelo contrário, sou adepto dos meios alternativos de se agraciar alguém. Entre os quais redigir uma longa carta descrevendo momentos de nossa convivência, ou com martelo, serrote, pregos, parafusos, cola e demais parafernálias produzir um trabalho artesanal cuja assinatura traduzir-se-á no esforço de alguém marcado pela convivência com outrém. Desta forma, neste ano e nestes dias de presentes, encontrei aquele que darei ao meu filho de quinze anos... acreditem.... vou imprimir o texto abaixo em papel "couchê" e pronto. Um presente e tanto em minha humilde opinião.

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AUTOMÓVEL TEM DE SER IMPORTADO,
LITERATURA SÓ PODE SER NACIONAL * 
 
Bruno Bolson Lauda me pergunta:

“E se coubesse a ti fazer uma lista de leituras para crianças e adolescentes no ensino fundamental e médio, quais livros escolherias e em que ordem? Incluirias algum autor brasileiro?”

Claro que incluiria. Esta pergunta me foi feita há oito anos, por Lisa Sedrez, doutoranda gaúcha na universidade de Stanford, Califórnia. Queria saber quais seriam as minhas dez obras escolhidas - entre autores nacionais, bem entendido - que um jovem brasileiro deveria ter lido ao fim do seu segundo grau, de forma a entender a literatura brasileira. Me restrinjo a leituras para jovens. Não vou entrar na área de literatura infantil.

Eu começaria pelo Quixote. Continuaria com as Viagens de Gulliver. Mais Crime e Castigo. Depois, A Montanha Mágica. Mais contemporaneamente, 1984. Para não ficar só em ficções, eu ajuntaria Assim Falava Zaratustra. E aí surge um problema, pois não me desagradaria juntar mais alguns de Nietzsche, que poderiam ser o Anticristo ou O Crepúsculo dos Deuses. Mas deixemos estes de lado. Em matéria de História: A Cidade Antiga, de Fustel de Coulanges, que nos mostra o mundo pagão, antes de ser contaminado pela peste cristã. E, para ter uma idéia de Ocidente, Um Estudo de História, do Toynbee. 

Para manter firme a crença das gerações futuras no gênero humano, eu indicaria Fernão de Magalhães, do Stephan Zweig, e Schliemann, História de um Buscador de Ouro, do Emil Ludwig. E aqui já se foram os dez. Mas não me desagradaria ainda acrescentar O Julgamento de Sócrates, de I. F. Stone e alguns dos Diálogos de Platão, para contemplar o nascimento do pensamento ocidental.

Como esqueci de pôr um pouco de poesia em minha listinha, lá vai: José Hernández e Fernando Pessoa. Lidos estes autores, o estudante brasileiro estaria apto a fazer um juízo de valor da literatura brasileira. Só comparando se pode valorar. Depois deste confronto, se sobrar espaço para os Machados e Clarices da vida, até pode se pensar no assunto.

Ora, direis, de nacionais estes autores nada têm. Pois têm, digo eu. No momento em que uma literatura é traduzida ao brasileiro, ela passa a fazer parte do imaginário nacional.

Quixotesco ou platônico são palavras que pertencem ao vernáculo, enquanto diadorinesco ou brascubano ainda não encontraram lugar em nossa língua. Machadiano existe, é verdade, mas é conceito exclusivamente literário. Muito antes de saber quem é Bentinho, temos uma idéia bastante precisa do que seja o Quixote. Muito antes de existir Machado, Cervantes já fazia parte de nosso acervo. E muito antes de Cervantes, Platão. Estes autores faziam parte da literatura brasileira, antes mesmo que literatura brasileira existisse. O Brasil não nasce na floresta. Nasce na Europa.

Me perguntou então a doutoranda gaúcha:

"Quantos dos títulos que citaste podem ser lidos (e entendidos) pela massa dos adolescentes? Sem que eles cometam suicídio no segundo livro?"

Vou repetir aqui, sucintamente, o que respondi em 2002. Minha interlocutora subestimava os adolescentes. Exagerei no Toynbee, confesso. Ocorre que, ao citá-lo, eu não tinha em mente os dez volumes do ensaio original. Mas uma excelente síntese em 600 páginas, da Martins Fontes. Em papel A3, é verdade, mas o tamanho de um livro não deveria assustar um jovem. O ensaísta é claro, como deve ser todo bom escritor, nada dessas interpretações marxianas que exigem um glossário para serem entendidas. O mesmo diga-se de Fustel de Coulanges, que adoro ler no original. Tem uma frase enxuta e elegante, nada do francês confuso e quase gongórico dos autores contemporâneos. 

Por outro lado, é mais fácil para um adolescente seguir a lógica límpida de Sócrates em Teeteto do que encontrar norte no mar enevoado de um Guimarães Rosa. Se uma pessoa já na adolescência sabe distinguir doxa e episteme, jamais será, quando adulta, presa fácil das falácias de padres, políticos, psicanalistas e demais vendedores de vento. Não era para os jovens que Sócrates falava? Seriam os jovens de Atenas mais atilados que os contemporâneos? Que mais não seja, O Julgamento de Sócrates nada tem de hermético e nos mostra uma tragédia muito mais grandiosa que a do judeu aquele, inculto e conformista, crucificado pelos judeus.

Lendo Swift, um adolescente tem uma visão mais lúcida da sociedade hodierna do que visitando os sociólogos e historiadores ideologizados dos dias atuais. As Viagens de Gulliver, obra tida erradamente como literatura infantil, é a mais fagedênica denúncia da estupidez humana e não pode faltar ao conhecimento de qualquer pessoa medianamente culta. Se os adolescentes de hoje tivessem lido 1984, saberiam que Big Brother não é exatamente uma câmera que vigia o dia-a-dia de pobres de espírito. O personagem de Orwell é muito mais. É a Stasi, é a KGB, é o Estado totalitário, é o mais perfeito retrato das tiranias comunistas do século passado, mas isto os senhores formadores de opinião preferem calar, pois remete a uma história recente, dolorosa e ainda não remida. 

Há livros que você lê na adolescência. Inútil lê-los mais tarde. Nietzsche, por exemplo, deve ser lido antes dos vinte anos, quando o jovem ainda não perdeu seu potencial de sonho. Ler Nietzsche aos 50 é tão trágico como conhecer Paris aos 50: "meu Deus, como é que fui perder isso em minha juventude?" 

Se alguém quer comprar um carro, prefere o importado. Quando queremos um bom vinho, buscamos vinho importado. Uísque, idem. Por que razões literatura tem de ser nacional? Por que eu, brasileiro, tenho de ler literatura brasileira? E seu eu fosse ugandês, teria de ler literatura ugandesa? Em que tábuas sagradas está escrito isso? 

Nem só a Petrobras deve ser privatizada. A Livrobrás também. Abaixo o livro estatal!
 
* 25/03/2010
Janer Cristaldo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Paulo Freire

SÍNTESES – O LEGADO DE PAULO FREIRE

Autoajuda marxista


“Paulo Freire: Rousseau do século 20.” Quem faz essa afirmação, em um alentado livro de 324 páginas publicado em 2011 na Holanda e que leva justamente esse título, é o indiano Asoke Bhattacharya, professor da Universidade de Calcutá. De fato, Paulo Freire é a versão atual do autor de Emílio, ou Da Educação (1762), que muita influência teve na pedagogia. Mas, como ironiza Émile Durkheim, quem confiaria a educação de uma criança ao desnaturado Rousseau, que abandonou a própria prole?

Essa pergunta cabe em relação a Paulo Freire, que prega a liberdade, mas cultua totalitarismos. Pedagogia do Oprimido, uma espécie de manual de autoajuda marxista, idolatra a “linguagem quase evangélica” do “humilde e amoroso” Che Guevara, enaltece sua “comunhão com o povo” e, valendo-se de um jogo vazio de palavras, justifica as execuções sumárias que ele perpetrava sem piedade: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”.

Essa frase assassina inspira Moacir Gadotti, discípulo predileto do mestre, que, em Pensamento Pedagógico Brasileiro, despreza o grande pedagogo escola-novista Lourenço Filho, mas se rende a Lenin e Mao Tsé-tung. Ambos são tratados por Gadotti como “grandes pedagogos da humanidade”.

Pedagogia do Oprimido, que deu fama mundial a Freire, é menos um tratado que um panfleto. Até seus discípulos são obrigados a reconhecê-lo. Ao observar que Paulo Freire “foi saudado como um dos fundadores da pedagogia crítica”, Bhattacharya observa que isso “não é errado, mas também não é muito preciso”, pois vários filósofos educacionais antes dele foram críticos em relação à pedagogia tradicional. “Portanto, não é a atitude crítica de Freire, mas seu ativismo político que o diferencia de alguns (mas não de todos) os filósofos canônicos educacionais”, diz o professor indiano.

O “Método Paulo Freire”, com mais propaganda que resultados, foi uma ferramenta populista de João Goulart financiada com dinheiro norte-americano do acordo MEC-Usaid. E nem era inédito: o uso de palavras geradoras na alfabetização já estava presente em outras propostas pedagógicas, como o “Método Laubach”, muito disseminado no Brasil. O que Paulo Freire fez foi carregar as palavras de ideologia revolucionária, a pretexto de falar da realidade do aluno. É como se o pedreiro tivesse de se restringir ao tijolo; o lavrador, à enxada; o carpinteiro, ao serrote. O que seria da cultura brasileira se Machado de Assis fosse obrigado, em sua alfabetização, a tartamudear sobre o morro em que nasceu?

O reducionismo pedagógico é o grande legado de Paulo Freire. Juntando-se ao “construtivismo pós-piagetiano”, ele inspirou o “preconceito linguístico”, que vilipendia a norma culta do idioma; a “geografia crítica”, que mistura bairrismo com economia marxista; a história em ação, que eterniza o presente; a matemática étnica, que cria analfabetos em tabuada. Paulo Freire relativizou o conhecimento, anulou a autoridade do professor e, sobretudo, assassinou o mérito – inviabilizando a possibilidade de educação. O ranking global divulgado no fim de novembro que o diga.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Despedida

Nestes últimos dias de dezembro, em uma perfeita romaria pelos meios de comunicação locais, é lamentável e deprimente assistir a despedida do senhor Carlito Merss - Prefeito de Joinville SC. Primeiro pelo desfile de auto-elogios e auto-avaliação, dando-se inclusive nota 7,5 pelo mandato. Nem considerou a não reeleição que por si só representa a verdadeira avaliação. Fã incondicional do Lula, tanto que também se utiliza de forma arrogante a famosa "nunca na história dessa cidade" blá...blá... Diríamos até que o Brasil surgiu em 2003 com a eleição de Lula, e Joinville começou existir quando o senhor Carlito Merss assumiu a prefeitura a partir de 2009. Esse é o jeito PTralha de governar, se achar o rei da cocada preta, defender os interesses do partido a qualquer custo, e imaginar que é unanimidade... Com certeza, enquanto o poder estiver na mão deles, os companheiros serão sempre solidários, assim essa "pseudo-tristeza" pela perda da eleição, logo será premiada com alguma "boquinha criada em Brasília DF"... esse sim é o jeito petista de governar. Manter a boa e tranquila sobrevivência dos "cumpanheiros" sob as asas do generoso patrocínio do patrimônio público arrestado para uso e benefício vil. Esse é o Brasil. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tabacaria - Fernando Pessoa

Sabe-se lá quantas vezes já li e reli tal escrito, sei lá quantas ainda haverão de ser lidas, e a cada olhadela uma redescoberta... encantei-me pelo poeta ao ler simplesmente a primeira estrofe publicada em alguma embalagem de pão, não resisti e corri em busca do autor cujas poucas palavras abalaram minha imaginação. Imagina! Feliz daquele que sentir a brisa..... Gilrikardo dezembro 2012
 

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Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chama, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!

Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando
. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928