terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cálculo leviano

Reflitam comigo. É simples. Imaginem uma reunião de religiosos qualquer (pouco importa a denominação). Lá estarão cem, duzentas ou mais pessoas tentando de alguma maneira melhorar seus dias. Essa simples disposição de lá estar já é indício de que tais viventes procuram algo ou oportunidades de “mudar” de vida ou realizar algum “milagre” que as transformem de infelizes em felizes. Assim, ouvindo opiniões, depoimentos, testemunhos, se abrem algumas possibilidades até então “inimagináveis” e o vivente percebe alguma luz no fim do túnel. E o que parecia sem saída. Dias de tempestades. Dias de provação. Chega apontando a direção que transformará sua vida. E após três décadas de intenso trabalho na fazenda do senhor Rubião foram convidados a se retirar, pois a fazenda fora vendida para uma multinacional... chegaram na cidade... e após alguns meses de falta de moradia, de falta de emprego, de falta de oportunidades... os céus mandaram a resposta. Seu Rubião foi tocado pelas orações e da noite para o dia lhes deu uma casa na periferia da cidade e alguns trocados até arrumarem emprego... esse milagre foi testemunha a senhora Rosalva em total agradecimentos aos demais membros da igreja. Esse foi um caso entre as mais de duzentas almas que ali suplicavam por melhores dias. Mera questão matemática. É a lógica funcionando a contento, como diriam alguns. Se duas centenas se esforçam em busca de algo, é provável que algo acontecerá e de pronto terá o significado creditado ao imaginário comum. Talvez ninguém pergunte se o senhor Rubião havia pago pelos trinta anos de trabalho ao casal e mais alguns anos aos demais cinco filhos cuja responsabilidade pelos tratos no campo em nada diferia dos pais. Imagino eu que saiu barato para o granjeiro... pois se isto vai parar na justiça trabalhista...vixe... ele é quem estaria de joelhos implorando um milagre.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eleições 2012 - Joinville SC



POR GUILHERME GASSENFERTH

O Chuva Ácida foi um dos primeiros espaços a analisar e acreditar no fenômeno que foi a virada de Udo Döhler.

Além do mais, aqui criou-se um espaço democrático de participação do leitores, com praticamente todos os comentários liberados (à exceção dos ofensivos, caluniosos ou criminosos) e espaço (que continua) aberto ao envio de textos.

Não se pode também menosprezar o fato de que este blog foi unânime no combate ao Kennedy Nunes e suas promessas vãs, demagógicas e lunáticas. Daqui, saíram várias das armas de Udo e contra Kennedy ao longo do pleito – algumas forjadas ainda em 2011.

Foi o Sandro quem cunhou o termo KCT, que caiu nas graças do povo e foi pras redes sociais. Há um ano, o Charles escreveu sobre as diárias usadas pelo Kennedy para visitar a própria cidade, o que acabou tornando-se uma das principais armas de combate ao candidato deputado. Foi aqui no Chuva Ácida que o Baço alertou-nos da diferença entre o Udo gestor e o Udo político, e fez abrir os olhos para quem era o candidato do oba-oba. O Jordi escreveu o texto recordista em acessos, explicando motivos que levavam o eleitor a não escolher Udo Döhler – o que felizmente acabou por não acontecer. Amanda abriu os olhos dos leitores sobre os perigos da mistura da religião com política. Até mesmo a Gabriela, que escreve sobre esporte, conseguiu demonstrar que Udo era mais preparado e tinha propostas mais factíveis para o esporte. E eu consegui fazer a análise que se mostrou certeira: de que Udo sairia vencedor nestas eleições.

Devo confessar que me arrependo apenas de ter ajudado a contribuir para divulgar a canção A Jumenta Vai Falar. Foi um ataque ao Kennedy Nunes pessoa, não ao político. Ele tem o direito de acreditar no que quiser e criticar sua música foi algo que não considerei nobre nem bonito, pelo contrário. Mas são águas passadas.

Nestas eleições, atingimos a histórica marca de 70 mil visitas neste mês de outubro, marcado pelo período entreturnos. Sabemos que este número vai diminuir consideravelmente no pós-eleição, mas não podemos usar de falsa modéstia e ignorar a importante participação do Chuva Ácida como um novo player da política e cotidiano locais.

Na minha opinião, Udo não é o prefeito ideal, e o partido onde está abrigado é o pior do Brasil. Mas depositamos esperança em seu governo, principalmente se LHS se mantiver afastado das tetas (santa ingenuidade).

Agradeço a todos os nossos leitores pela visita e comentários, além dos convidados que enviaram textos. Continuem utilizando este espaço! E agradecemos também a quem acreditou em nosso improvável prognóstico de sexta-feira.

A Udo Döhler e Rodrigo Coelho, nossa saudação pela importante vitória e histórica virada. Saibam, no entanto, que este blog não deixará de fazer seu papel de crítica e haverá de posicionar-se contra quando entendermos necessário – para que sempre a grande vencedora seja Joinville e seu povo.

Eleições 2012 - Joinville SC


Joinville: as razões da virada

A eleição do empresário Udo Doelher para prefeito de Joinville transformou-se no principal e mais surpreendente fato politico das eleições em Santa Catarina. Produziu fenômeno relevante que tende a repercutir até na sucessão estadual. Consolida a tríplice aliança, fortalece a posição do senador Luiz Henrique da Silveira como a maior e mais consistente liderança do PMDB em toda sua história e pavimenta os caminhos da reeleição de Raimundo Colombo.
O acontecimento eleitoral de Joinville pode ser explicado pelos seguintes fatores:
1.Luiz Henrique identificou os clamores da população por uma gestão mais moderna, competente e ética. Apadrinhou Udo Doehler, um empresário vitorioso sem qualquer experiência politico-eleitoral, cacifou tudo dentro e fora do partido e trabalhou como um leão por sua eleição. Mais do que isso: acreditou como ninguém na vitória, reeditando a mesma experiência de 2002, quando enfrentou o favorito Esperidião Amin para o governo e virou o jogo de forma sensacional no segundo turno.
2.O acordão que Kennedy Nunes (PSD) celebrou com Carlito Mers(PT) foi rejeitado pelo eleitorado. Deu a impressão de que os petistas - que deviam estar com o PMDB até pela orientação dos Diretórios Nacional e Estadual - agiam fisiologicamente. Ou seja, procurando manter os cargos na Prefeitura.
3.O apoio na reta final dado a Udo Doehler por 30 sindicatos de trabalhadores pode ter sido mortal para as pretensões de Kennedy Nunes.
4.A exploração da foto da visita de Kennedy(evangélico) ao Bispo católico tirou votos do favorito.
Com larga folha de serviços prestados a Joinville, em atividades associativas e trabalhos de voluntariado, Udo Doehler conquistou o eleitorado com a campanha das mãos limpas.
Comemorou 70 anos com o melhor presente de sua vida pública.

INÍCIO
Postado por Moacir Pereira, às 6:49
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Comentários (5)

*Paulo Roberto Menezes diz:29 de outubro de 2012
Prezado Moacir,
Reeleição de Raimundo Colombo???!!!...Quase dois anos de mandato e até o momento não assumiu o Estado. Pensou que governar SC era o mesmo que ser prefeito de Lages, não há dinheiro pra nada.
Se nesses próximos dois anos não tomar uma postura diferente, não sei não, teremos surpresas.

*Angela diz:29 de outubro de 2012
BOM DIA SR MOACIR.
EU NÃO ACREDITO QUE FOI LHS, QUEM IMPULSIONOU O CANDIDATO E SIM A ALIANÇA QUE KENNEDY NUNES FEZ COM O PT DE MERS.
ONDE O PT SE ALIOU ,ESTRAGOU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ISSO É PARA OS FUTUROS CANDIDATOS ,NUNCA MAIS ALIAREM-SE COM ESSES DE MENSALEIROS!!!!!!!!!!!!!!!!!
SE VIRAM QUE O POVO ESTAVA QUERENDO TIRAR O PT DE LÁ, POR QUE,ALIARAM-SE????????????
QUERIAM PERDER!!!!!!!!!!!!!!

*Almir Wagner diz:29 de outubro de 2012
Caro Moacir
Sua análise é simplista. O buraco e mais embaixo. A acensão de Kenedy é muito parecida com a de Russomano em SP. São os típicos cavalos paraguaios. Ambos são gente de mídia, fala bonita e tal, mas com projetos pouco consistentes e promessas absurdas. Para seu conhecimento, as promessas de Kenedy provocaram um movimento no facebook com sátiras ao seu slogan: dá pra fazer. Cito 2 exemplos: uma imagem de uma praia no centro de Joinville e de um estádio para sediar a copa 2014, ambas acompanhadas da frase: dá pra fazer. As alianças do Kenedy foram bem costuradas. Tanto Tebaldi como Carlito agregaram votos. O problema foi o próprio candidato e seu discurso.

Sig diz:29 de outubro de 2012
Não faço a leitura de que LHS elegeu o Udo em Joinville. Muitos votaram no UDO, lembrando da gestão de Freitag, APESAR de ser do mesmo partido de LHS, esperando que este não "meta o bedelho" na gestão de Udo ... LHS foi exepcional no "farejar" o que o povo anseia, mas, se ele apoiasse um candidato com currículum puramente político, não sei se ganhava... na última eleição, LHS perdeu ao apoiar o Mauro Mariane... foi uma cartada exepcional de LHS, mas não foi ele que definiu a eleição! Nas redes sociais isto transparece bem (muitos não gostam de LHS, mas votaram no Udo em favor de uma gestão eficiente na prefeitura).

*E o salário, óh! diz:29 de outubro de 2012
Os métodos que levam empresários a se elegerem não são os mais adequados à democracia! Sempre tenho um pé atrás com empresário. Vamos esperar o tempo falar.

domingo, 28 de outubro de 2012

Sardinha



Considerando sua condição de elemento central do tema abordado é fundamental que se exponham algumas considerações sobre ela.


A Sardinha é um peixe marítimo, da família Clupeidae (Clupeídeos), que vive em grandes cardumes. Sua inclusão na alimentação humana vem ocorrendo há muitos séculos. O nome é proveniente por sua captura outrora, junto à ilha de Sardenha, Itália, no Mar Mediterrâneo.

MATSUURA apresenta uma tabela emitida pela FAO (Roma) que demonstra, em relação à produção global de pescado, que a família dos clupeídeos, a que pertencem as espécies anchovetas, sardinhas e arenques, ocupa o primeiro lugar, vindo a seguir o grupo dos bacalhaus e depois os vermelhos, cavalinhas, chicharros e salmões. Informa nas páginas 17 e 18, ainda que "existem nove espécies que apresentam grande importância comercial, e todas são chamadas de sardinhas ("sardine" ou "pilchard"), a saber:

a) Sardina pilchardus (European pilchard) - ocorre na Europa e, por ocasião da "guerra da sardinha", os europeus queriam denominar esta espécie de sardinha legítima, enquanto os outros países também insistiam que as espécies encontradas em suas águas seriam sardinhas.

b) Sardinops caerulea (California sardine) - ocorre na região da Califórnia e Baja Califórnia. Atualmente a pesca desta espécie está proibida nos Estados Unidos, isto após a drástica queda de sua produção.

c) Sardinops melanosticata (Japanese sardine ou Maiwashi) - ocorre nos mares do Japão e a queda de sua produção foi observada no mesmo período em que ocorreu a queda de produção das sardinhas da Califórnia.

d) Sardinops sagax (Chilean pilchard ou sardina chilena) - ocorre na costa sul-americana do Pacífico.

e) Sardinops ocellata (South African pilchard) - ocorre no sul da África.
f) Sardinella aurita (West African pilchard) - ocorre no Mar Mediterrâneo e à noroeste da África.

g) Sardinella anchovia (Spanish sardine ou sardina) - ocorre no Golfo do México.



h) Sardinella brasiliensis (sardinha - verdadeira) – ocorre no sul do Brasil.



i) Sardinella longiceps (Indian sardine) - ocorre na Índia e nas Filipinas.

Acerca da Sardinella brasiliensis, nossa sardinha – verdadeira, VAZZOLER, ROSSI-WONGTSCHOWSKI e BRAGA lembram que Steindachner já havia descrito sua posição sistemática para a Zoologia em l879. Dada sua extensão não será apresentada esta posição sistemática.

O ciclo de vida da sardinha apresenta diversas fases: ovo - incubação de 20 horas na temperatura de 24 ºC; larva - duração de aproximadamente 45 dias, atingindo até 19 mm; pré-juvenil até o tamanho de 40 mm; juvenil - até 160 mm e adulto - a partir de 160 mm e a maturação sexual, geralmente, ao final do ano zero (início do primeiro ano).

Estudos realizados por Saccardo E Rossi-Wongtschonski [14] informam que: "A sardinha compõe cardumes que são encontrados em maior abundância ao longo da área compreendida entre os Estados do Rio de Janeiro (Cabo São Tomé, 22ºS) e de Santa Catarina um pouco ao sul do Cabo de Santa Marta Grande 28ºS". 

A preocupação com estudos e pesquisas desta importante fonte de alimento não é uma constante aqui no Brasil. Não fossem a dedicação e o interesse de alguns profissionais, ter-se-ia pouca ou quase nenhuma informação. Geralmente com um apoio economicamente escasso, ainda assim, conseguem-se realizar estudos que poderão evitar a extinção deste peixe, tal como ocorreu em outros lugares do mundo. Lamentavelmente não existe interesse governamental pois a limitação de recursos tem inibido, quando não interrompido, projetos e pesquisas. 

Técnicas modernas tem surgido tanto no setor de captura como de beneficiamento no setor pesqueiro mundial. A humanidade começa a preocupar-se com esta fonte de alimentos que parecia inesgotável. Apreensiva com o meio ambiente dedica-lhe maior atenção. Procura evitar o desperdício pois passou a dar ao peixe uma importância maior do que complementar a ração animal ou de adubo, como ocorre atualmente. 

A legislação brasileira prevê 17 cm de comprimento como tamanho mínimo para captura da sardinha, admitindo-se a tolerância de 5% no ato de fiscalização. A média individual de peso fica entre 45g e 55g. 



TABELA 1: VALOR NUTRICIONAL DA SARDINHA
BRASIL, 1985COMPOSIÇÃO
( 100 g ) SARDINHA
CRUA CONSERVA
Calorias 120 298
Carboidratos 0g 0,5g
Proteínas 18,37g 20,9g
Lipídios 5,26g 23,2g
Minerais (E,Cu,P) 0,4g 0,8g 
Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 1985 

Além dos elementos acima, convém acrescentar que a sardinha é também uma fonte das vitaminas A, B1, B2 e outras com menor participação. 

Considerando-se a tabela acima pode-se constatar que trata-se de um alimento de importante valor nutritivo pois é composto de proteína de alto valor biológico. NORT, cita o fisiólogo alemão Kühnan que afirma "ser o valor total da proteína do pescado tão alto que o classifica imediatamente depois do leite materno", isto é, possui todos os aminoácidos essenciais que o organismo humano necessita. 

A sardinha costuma ser comercializada de diversas formas, destacando-se: in natura, congelada, salgada e enlatada. Em qualquer uma das modalidades não podemos deixar de lembrar que o preço ao consumidor é bastante acessível. Outro aspecto positivo: latas de sardinhas são encontradas à venda em qualquer ponto deste imenso Brasil e sempre têm boa aceitação. 
2.2 Caracterização do Sistema de Pesca da Sardinha - SPS 
O Sistema de Pesca da Sardinha será apresentado na forma de um sistema de malha fechada, isto é, um conjunto de elementos que estão dinamicamente relacionados com objetivos comuns. Nele existe uma interação organizada das partes, cada qual com seus princípios básicos de funcionamento tornando-se, este sistema auto suficiente pela constante realimentação. Ele se caracteriza ainda, pelo seu comportamento totalmente determinístico e programado. É reconhecido, também, como Sistema Mecânico. 

2.2.1 Composição No Sistema SPS é composto pelos subsistemas: Captura, Beneficiamento, Distribuição/ Comercialização, Consumo e Feedback, interligados como mostra a figura 2. 

2.2.2 Descrição dos Subsistemas De forma sucinta serão apresentadas algumas informações básicas sobre os subsistemas: 

a) Subsistema Captura - é o responsável pela obtenção da matéria prima. No Brasil existem apenas 3 centros pesqueiros de sardinha, em razão da localização dos cardumes. Pelas informações obtidas junto às empresas e das estatísticas disponíveis (vide tabela 2), observa-se: 

– o mais antigo centro pesqueiro está localizado no Rio de Janeiro, pois está em atividade desde os anos 30 com uma frota pesqueira numerosa, mas com barcos menores e antigos, equipamentos mais simples, redes menores. Com exceção do ano de 1996, é o responsável pela menor captura de sardinha e pelo maior número de barcos clandestinos; 

– o segundo centro pesqueiro é o de São Paulo, que possui uma frota não tão antiga e que tem sido o segundo em captura dos anos de 1979 a 1995. Considerando que neste estado existe apenas uma empresa de beneficiamento, a maior parte da sardinha capturada desembarca no Rio de Janeiro ou em Santa Catarina; 

– o terceiro e mais importante centro pesqueiro é o de Santa Catarina, com uma frota mais moderna, maior capacidade de armazenamento equipamentos mais modernos, adotando técnicas e aparelhos próprios para a pesca e captura e, em conseqüência, aqui se verifica o maior volume de sardinha capturada. 

Além das características das frotas pesqueiras convém observar, também, a estatística dos volumes de sardinha desembarcados de 1964 a 1995, elaborada pelo IBAMA-CEPSUL. Do mesmo órgão de controle e pesquisas, IBAMA-CEPSUL existe um Relatório, apresentado pelo Grupo Permanente de Estudos sobre Sardinha, reunido em Itajaí de 22 a 26 de outubro de l990, que nas páginas 16-17, esclarece as razões dos decréscimos de captura, naqueles períodos: 

® " ... o declínio da produção da sardinha nos últimos três anos baseia-se nos seguintes fatos: 

– pesca intensiva sobre indivíduos jovens, em toda a área de ocorrência, em qualquer época do ano; 
– condições oceanográficas adversas; 

– falha na desova constatada no verão 1987/88 ( Projeto EPM/88 ); 

– aumento do poder de pesca, observado através de características físicas da frota, que mostraram um aumento em cerca de 50% no comprimento das redes de cerco (400 para 600 braças), bem como aumento de número de barcos, desde 1985, que se utilizam de sonar na busca de cardumes; 

– aumento do esforço de pesca em número de barcos atuantes: em 1980 a frota era constituída por cerca de 300 barcos e em 1990 por 574 barcos; 

– tamanho médio do estoque de 57 mil toneladas, estimado durante prospeção acústica ( outubro/88 ), e estoque restrito e concentrado em duas regiões; 

– agrupamento de barcos em cima de cardumes concentrados, o que tornam estes cardumes mais acessíveis à frota e, portanto, mais vulneráveis a pressão de pesca; 

– não observação, através de dados biológicos, de indícios mostrando que o estoque tenha sofrido alterações sensíveis em seus parâmetros denso - dependentes (fator de condição, idade de primeira maturação e taxa de crescimento) e, portanto, possível utilização do habitat da espécie por outra (por exemplo, a anchoita)". 

Quanto às atividades de captura de sardinha em outros países, sabe-se dos fornecedores que o procedimento é bastante diverso. Exemplificando, a frota pesqueira russa em atividade na costa da Mauritânia, na África, é composta por barcos de pesca de sardinha que após a captura transladam a carga diretamente para um barco frigorífico. Este, por sua vez, congela as sardinhas em placas que serão transferidas para um barco cargueiro. Em média, após 12 dias, as sardinhas estão sendo descarregadas no Brasil. Ressalte-se que a Sardinella aurita que aqui aporta chega em ótimas condições para a industrialização.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

EDITORIAL O ESTADÃO

Crime e Castigo

O Estado de S.Paulo - 26/10

Perto dos lenientes padrões penais brasileiros, no caso dos chamados crimes de colarinho branco, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de condenar o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do mensalão, a um total de 40 anos, 1 mês e 6 dias de prisão e ao pagamento de multas que somam, em valores não corrigidos, R$ 2,783 milhões, chama a atenção por seu caráter literalmente excepcional. Mas não deveria surpreender. Em primeiro lugar, porque - sempre por unanimidade - o publicitário havia sido condenado três vezes por corrupção ativa, duas vezes por peculato, uma vez por lavagem de dinheiro e uma vez por evasão de divisas. Foi ainda condenado, dessa vez por 6 votos a 4 - por formação de quadrilha (ao lado de nove outros acusados, entre eles o trio José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares). Não é pouca coisa.

Em segundo lugar, as penas são compatíveis com a enormidade dos delitos cometidos. A cada rodada do julgamento, não só o relator Joaquim Barbosa, mas ministros como Carlos Ayres Britto, presidente da Corte, o decano Celso de Mello e seus pares Cármen Lúcia e Marco Aurélio Mello revezaram-se em expor o que a singularidade do mensalão representou em termos de agressão à sociedade, à ordem republicana, ao Estado Democrático de Direito e à Constituição que os consagra. O STF, no entender de quase todos os seus integrantes, não se pronunciava apenas sobre o "conjunto probatório" que levaria à condenação por ilícitos diversos 25 dos 37 réus da Ação Penal 470. Os fatos falavam também, de forma ainda mais ensurdecedora, da fria determinação dos seus principais protagonistas de corromper o sistema político nacional, em escala sem precedentes, para promover a perpetuação do PT no poder. Impossível deixar de ouvi-los e tirar as consequências inexoráveis na esfera judicial.

Em terceiro lugar, dando a medida do cuidado da Corte em deixar claro perante a opinião pública que as penas aplicadas não constituíam uma extravagância jurídica nem um transbordamento punitivo, ministros procuraram explicar com argumentos o quanto possível ao alcance do público leigo por que estavam condenando Valério a tanto ou quanto tempo de cadeia, conforme a natureza dos seus ilícitos e as prescrições do Código Penal. Independentemente disso, as penas por corrupção ativa a que foi sentenciado o provedor do mensalão ainda poderão ser modificadas se o tribunal entender que, no caso dos seus contratos com a Câmara dos Deputados e o Banco do Brasil, não foram dois os crimes, mas a repetição de um mesmo - "continuidade delitiva", em linguagem técnica. Por fim, é certo que o empresário não mofará, como se diz, no cárcere. Nem esse é o cerne da questão.

O célebre jurista italiano Cesare Beccaria (1738-1794) ensinou que o tamanho do castigo conta menos do que a certeza da punição para coibir a reincidência do crime e a difusão de sua prática. Ainda mais quando não podem pairar dúvidas sobre a legitimidade das sentenças proferidas. O mensalão foi julgado pelo corpo da mais alta instituição do Judiciário, em sessões que podiam ser acompanhadas por todos os brasileiros, sob a égide da pluralidade e do contraditório. As desavenças entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski talvez tenham ido além do que as suas togas haverão de tolerar, mas foram eloquentes como exemplo da independência da Corte. É um escárnio, portanto, o mentor e mandante do esquema, José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha - pelo que poderá pegar de 3 a 15 anos de reclusão -, declarar-se desde logo "prisioneiro político de um tribunal de exceção".

Cinicamente, quer que o vejam reencarnado no papel do líder estudantil de oposição que um regime de força baniria do País, cassando-lhe a cidadania. Quer também que se esqueça que oito dos ministros do STF foram indicados pelos presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dirceu não vê a hora de as eleições municipais chegarem ao fim para desencadear uma campanha de descrédito do Supremo Tribunal. Faça o barulho que fizer, o processo de autodepuração da jovem democracia brasileira seguirá adiante, renovando suas forças a cada nova vitória como esta que acaba de conquistar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CÚba

NEM CASTRO ACREDITA MAIS EM FIDEL CASTRO
por Janer Cristaldo
Nada como um dia depois do outro para rirmos um pouco. Mentira alguma foi mais prejudicial à América Latina que o mito da revolução cubana. Instalou-se na ilha uma ditadura comunista que levou os cubanos a um nível de miséria desconhecido nos dias de Fulgencio Batista. Castro alegava na época que a Cuba de Batista era um bordel dos Estados Unidos. Com Castro, o bordel internacionalizou-se. Virou bordel do mundo todo. A tal ponto que, interrrogado porque as universitárias se prostituíam em Cuba, defendeu-se: “Nada disso. É que em Cuba até as prostitutas têm nível universitário”. Não estou fazendo piada. Isto foi dito pelo ditador.
Em 59, intelectuais do mundo deram apoio logístico e de mídia a Fidel e Che, para instalar a mais longa ditadura da América Latina. De Paris, um filósofo feio, baixinho e confuso veio dar seu aval ao tirano do Caribe. Uma foto da época é das mais emblemáticas: Sartre, de pescoço espichado para o alto, adorando Castro como um Deus. Em La Lune et le Caudillo (Gallimard, 1989), Jeannine Verdès Leroux nos relembra este momento de extraordinária poesia.
- Todos os homens têm direito a tudo que eles pedem - pontifica Castro. - E se eles pedem a lua? - pergunta Sartre. O ditador retoma seu charuto e se volta para o filósofo baixinho: - Se eles pedem a lua, é porque têm necessidade dela.
Pediam a lua no bestunto do ditador e do filósofo. Em verdade, os cubanos queriam dólares, pão e liberdade. Da mesma forma que a Espanha, em 36, foi um campo de treinamento para a Segunda Guerra, a América Latina era laboratório de experimentos sociais para os filosofadores europeus que, no dizer de Camus, assestavam suas poltronas no sentido da História.
Também dos salões de Paris vinha o apoio teórico a Che Guevara e seus celerados, através de Régis Debray, mais tarde ministro de Mitterrand. Che morreu em odor de santidade e hoje é cultuado na Bolívia, como San Ernesto de la Higuera. Danielle Mitterrand, a viúva enamorada pela figura romântica do guerrillero, deu apoio a guerrilha zapatista em Chiapas, comandada por um agitprop branco travestido de líder indígena, o subcomandante Marcos. A mulher de Debray criou a biografia fictícia da guatemalteca Rigoberta Menchú, embuste que mereceu o prêmio Nobel da Paz de 92.
Nos anos 60, os comunistas que tentaram reeditar no Brasil a Intentona de 35, foram treinados na China, União Soviética, Argélia ... e Cuba. Fracassados e escorraçados em 64, os sobreviventes migraram ao Chile para assessorar Allende e ao Uruguai para dar apoio aos tupamaros. De Cuba, vinha o brado de guerra: "un, dos, tres, mil Vietnãs". O mito da revolução cubana inspira até hoje os homens que detém o poder no Brasil, entre eles Lula, José Dirceu e Tarso Genro, que adoram posar abraçados ao mais antigo ditador da América Latina. Claro está que Dona Dilma tampouco jamais dirá qualquer palavra contra o administrador da Disneylândia das esquerdas. Muito menos morena Marina ou Serra. Político algum no Brasil que queira eleger-se ousa criticar Castro.
Conheço não poucos cubanófilos em meu entorno. Em geral, assistentes sociais. Assistente social, por definição, é petista. (Você nunca vai encontrar uma assistente social que não defenda Lula). E, lá no fundo, comunista. Claro que jamais leram Marx ou Lênin e muitas vezes nem sabem o que seja comunismo. Mas defendem todas as idéias que Cuba ou a finada União Soviética defendiam. Nosso mundinho está cheio de comunistas que sequer sabem que o são.
Se você conversar com qualquer destes cubanófilos, mesmo os que jamais estiveram na ilha, eles afirmarão com a convicção dos justos que Castro resolveu os grandes problemas de qualquer sociedade, saúde, alimentação e educação. Pior ainda. Mesmo os que lá estiveram dirão a mesma coisa. Visitam os hotéis e restaurantes de Varadero, onde cubano não pode entrar, e hospitais diplomáticos, onde algum cuidado existe pela saúde. Cuba é então um paraíso.
Falar nisso, lembrei uma antiga historinha. Uma galinha surge nas ruas de Havana e é perseguida por um bando de cubanos famintos. A galinha descobre um bueiro e nele se esconde. Em seguida, um ovo surge rolando na esquina e é logo perseguido. A galinha o chama para seu esconderijo. Aparece então na calçada um filé. Antevendo o perigo, a galinha e o ovo chamam o filé para o esconderijo. Mas o filé, sem se apressar, responde calmamente: "não se preocupem, não há nenhum problema. A mim, eles não reconhecem mais".
É sabido, desde há muito, que os cubanos viviam em regime de fome, com os alimentos racionados por “la libreta”, enquanto Castro se dava ao luxo de mandar soldados para a África e exportar sua "revolução" para a América Latina. Com todo seu messianismo, o Líder Máximo não conseguiu livrar seu feudo da fase da monocultura. Cuba, durante décadas, só subsistiu graças aos cinco bilhões de dólares anuais fornecidos por Moscou. Trocados por açúcar vendido por preço acima da cotação de mercado. Morta a União Soviética, Cuba começa a morrer.
Por outro lado, só crentes podem acreditar que em um país faminto alguém possa gozar de boa saúde. Da mesma forma, haja fé para crer que em um país com um só jornal alfabetização adiante alguma coisa. É espantoso constatar como um país – hoje o mais pobre do continente depois do Haiti – ainda seja bandeira dos velhos comunistas do Brasil.
Leio nos jornais que o decrépito ditador, em entrevista a Jeffrey Goldberg, articulista da revista Atlantic Monthly, admitiu que o modelo econômico de Cuba não funciona mais. “Nem para nós”. Foi preciso mais de meio século para que Castro admitisse seu fracasso. Admitiu ainda sua grossa mancada durante a chamada Crise dos Mísseis, em 1962, quando aceitou a instalação de ogivas nucleares soviéticas na ilha e tentou convencer Moscou a atacar os EUA. Na entrevista a Goldberg, disse que aquele impasse "não valeu nada a pena".
Longa é a jornada de um comunista até o entendimento. Castro já não acredita nem em si mesmo. Quando seus seguidores deixarão de acreditar nele?
NIEMEYER, A ÚLTIMA ESPERANÇA
por Janer Cristaldo
Mas nem tudo está perdido. Quando o infame Fidel trai seu próprio regime, ergue-se no Brasil uma voz mais castrista que a de Castro. Os órfãos de Havana ainda têm um ombro amigo junto ao qual consolar-se. Leio na Folha de São Paulo que, ao ser informado da declaração de Fidel Castro de que o modelo cubano está superado, o arquiteto Oscar Niemeyer, 102, um dos artistas brasileiros mais radicais na defesa do comunismo, disse não acreditar. A informação foi dada à Folha pela mulher dele, Vera Lúcia. "Quando comentei com ele sobre isso, disse que não acreditava."
Imagine Jeová chegando ao Vaticano e sussurrando ao papa: “Cara, vamos parar com isso. Eu não existo”. É claro que o Sumo Pontífice não vai acreditar. Dedicou então toda sua vida ao serviço de quem não existe? Vai trabalhar agora em quê, ele que fora de sua crença de nada entende? Este é o grande drama dos comunistas. Como admitir que lutaram a vida inteira por uma causa errada? Significa destruir a própria biografia.
A mesma coisa aconteceu em 1956, quando Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de seu antecessor, Josef Vissarionovitch Diugatchvíli, mais conhecido como Stalin. Comunista nenhum acreditou nas denúncias do secretário do PCUS. Intriga da CIA, disseram então. Até hoje, ainda há quem não acredite nas denúncias de Khruschov. Niemeyer é um deles.
O mesmo ocorreu dia 05 de março de 1953, quando morreu Stalin. Intrigas da CIA, repetiram os devotos. Stalin não pode estar morto. Porque um Deus não pode morrer. Conheci em Porto Alegre velhos comunossauros que choraram na época, indignados com as mentiras dos serviços de informação ianques.
O mesmo aconteceu em 1949, quando Victor Kravchenko denunciou em Paris os crimes de Stalin. Alto funcionário soviético que havia trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.
Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.
A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo. Sessenta anos depois, Niemeyer continua stalinista convicto.
Isso sem falar nas denúncias dos anos 30, de escritores como Sábato, Gide, Camus, Arthur Koestler, Ignazio Silone, Louis Fischer, Stephen Spender. Ninguém acreditou. Stalin era intocável.
Niemeyer não acredita que Castro tenha proferido tal bobagem. Provavelmente nem o Ariano Suassuna. Muito menos Zuenir Ventura ou Chico Buarque. Seria interessante ouvirmos a opinião de Luis Fernando Verissimo. Castro é um canalha. Devia estar na mesma prisão dos dissidentes que enviou à prisão por afirmarem que o regime cubano não funcionava mais.
O tempora! O mores! Não se pode confiar em mais ninguém. Ainda bem que Niemeyer resiste.

CASTRO NEGA CASTRO E CONFIRMA NIEMEYER
por Janer Cristaldo
E não é que Niemeyer tinha razão? Fidel Castro veio a público para dizer que não disse o que disse. Não nega a entrevista concedida ao jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic. Mas acha que Goldberg foi longe demais. "Me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra. Sigo pensando que Goldberg é um grande jornalista. Não inventa frases, as transfere e as interpreta", disse, segundo o site oficial cubadebate.cu, sem trocadilhos.
- Minha idéia – continuou o tiranete – como todo o mundo conhece, é que o capitalismo já não serve para os Estados Unidos, nem para o mundo, ao qual conduz de crise em crise, que são cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não consegue escapar.
Ah bom! Não falava do socialismo. Quando disse que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba, não queria dizer que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba. Pura interpretação do jornalista. O que queria dizer era que o capitalismo não serve nem mais para os Estados Unidos. Hugo Chávez, Chico Buarque, Ariano Suassuna, Luis Fernando Verissimo, Lula, dona Dilma, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e Tarso Genro podem respirar aliviados. A utopia continua viva. Niemeyer, o decano do stalinismo no continente, tinha razão. Castro não poderia ter dito tal bobagem.
Só não deve ter convencido os cubanos, que há meio século sabem que o regime cubano não serve para Cuba. (Do Blog do Fonte: Janer Cristaldo - Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O PT que a maioria não vê

A última fatura

Prestes a deixar seus cargos, prefeitos se apressam em fechar convênios que extrapolam a atual gestão. Ministério Público investiga a onda de contratos firmados no apagar das luzes

Izabelle Torres
 
O comportamento já virou praxe na política. Às vésperas de deixar o poder, prefeitos se apressam em fechar contratos que extrapolam seus mandatos atuais. Embora eles aleguem que estão defendendo o interesse da população, essas iniciativas, muitas vezes, visam garantir o repasse de dinheiro público para  parceiros dos políticos que se despedem dos cargos. A ousadia tem chamado a atenção do Ministério Público. A tentativa desesperada de manter contratos em vigor já resulta em pelo menos 17 ações em andamento. Em Campo Grande, o prefeito Nelson Trad (PMDB) assina nas próximas semanas contrato com um consórcio formado por duas empresas para a coleta e tratamento de resíduos sólidos na capital sul-mato-grossense. A empresa LD é uma das vencedoras e pode receber mais de R$ 1,8 bilhão para prestar os serviços por 25 anos. Seria apenas mais um caso de terceirização a preços elevados, não fosse o fato de o dono dessa empresa ser Luciano Potrich Dolzan, sobrinho da primeira-dama do município.

Além do parentesco, a pressa com que Nelson Trad comandou a licitação alertou o Ministério Público. Os procuradores dizem que a prefeitura agiu para impedir que concorrentes tivessem acesso a informações sobre os serviços e detalhes das obras. “A prefeitura inviabilizou a participação de outras empresas”, resume o engenheiro Thiago Verrone, responsável pela denúncia que resultou na investigação.

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MAIS DUAS GESTÕES
Prefeito de Joinville, Carlito Merss (PT)
prorrogou o contrato de lixo por 10 anos
O filão milionário dos serviços de coleta e descarte do lixo também levou o atual prefeito de Joinville, em Santa Catarina, Carlito Merss (PT), a assinar no mês passado a prorrogação do contrato com a empresa Ambiental Limpeza Urbana. O convênio vai durar dez anos. A iniciativa fez com que vereadores pedissem abertura de investigação para apurar o caso. “Isso aumentou a desconfiança de que há uma relação promíscua entre o contratante e empresários”, disse em plenário o vereador Adilson Mariano, do mesmo partido do prefeito.

Em São Paulo, quem suceder Gilberto Kassab (PSD) terá de dar continuidade ao processo de contratação para a recuperação das orlas das represas Billings e de Guarapiranga. A obra está orçada em R$ 3,3 bilhões. O MP quer saber por que Kassab se apressou em homologar a licitação, apesar de nem haver data para as obras começarem. Diante disso, procuradores ouvidos por ISTOÉ disseram que vão acompanhar com lupa todas as fases desse processo. Em Maceió, o prefeito demissionário Cícero Almeida (PTB) autorizou prorrogações de contratos com empresas investigadas por falhas na prestação de serviços à prefeitura. É o caso da Oscip Tocqueville,  que presta serviço à Secretaria de Assistência Social da capital alagoana e é suspeita de fraudar prestações de contas para distribuir dinheiro entre políticos.

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http://www.istoe.com.br/reportagens/paginar/247276_A+ULTIMA+FATURA/2

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Professor Janer Cristaldo

Para ser honesto, não é preciso ter fé nem ideologia. Basta julgar indevido meter a mão no bolso alheio. Disse alguém que o sucesso da Inglaterra era devido ao fato de os homens honestos serem tão audazes quanto os canalhas.

Isto é o que falta ao Brasil. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Não era golpe, eram fatos

DE SÃO PAULO
A mídia internacional, no noticiário ontem publicado sobre a condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares pelo Supremo Tribunal Federal, desnuda por completo a tese da conspiração golpista, esgrimida pelos hidrófobos do lulo-petismo.
Tome-se, por exemplo, o texto de Juan Arias para "El País" (jornalista e jornal que jamais hostilizaram os governos Lula e Dilma): "O que mais se estranhou na condenação de Dirceu (...) é que tenha sido consumada por um tribunal no qual, dos 11 magistrados, oito foram designados por Lula e pela atual presidenta, Dilma Rousseff".
Acrescento que tanto o procurador que fez a denúncia inicial como o atual, Roberto Gurgel, foram igualmente designados por Lula.
"Não se trata, pois, de uma condenação levada a cabo a partir das fileiras da oposição, mas de magistrados amigos todos de Lula", conclui Arias.
Desmascara completamente a teoria da conspiração golpista que blogueiros, a mídia e intelectuais chapa-branca inventaram safadamente. Era a maneira calhorda que acharam de, apanhados com a mão no bolso alheio, gritar "pega ladrão" para desviar a atenção.
Não funcionou. Para Arias, o que funcionou foi "catarse de tipo ético levada a cabo internamente por simpatizantes do partido condenado".
Catarse que, de certa forma, faz o ator Odilon Wagner, petista de toda a vida, para quem o julgamento foi "exemplar". E lamentou: "Um partido que realizou avanços sociais impressionantes não precisava disso [do mensalão]".
Catarse que faz também o governador gaúcho Tarso Genro, igualmente petista de toda a vida, que disse a Lisandra Paraguassu, do "Estadão": "Que tem pessoas que cometeram ilegalidades, não tenho dúvida. Seria debochar da Justiça do país e do processo dos inquéritos achar que todo mundo é inocente".
Ao contrário de debochar, a mídia internacional de qualidade louva o Judiciário brasileiro. Do "Financial Times", por exemplo: "A condenação de Dirceu é um grande passo para o Brasil, onde as cortes têm sido tradicionalmente tímidas em punir corrupção".
De Simon Romero, o excelente correspondente do "New York Times": "O fato de que o julgamento está avançando até a fase de atingir congressistas, membros do partido governante e funcionários graduados que trabalharam diretamente sob um dos presidentes mais populares aponta para um raro avanço em `accountability' política e uma marca crucial de independência do sistema legal".
"Accountability" não tem tradução precisa nem em português nem em espanhol. A mais próxima é "prestação de contas", mas fica aquém da força em inglês.
Não sou entusiasta da teoria, muito disseminada, de que o julgamento do mensalão mudou o Brasil. Quando da campanha das "Diretas Já", parecia também que o país levara uma baita sacudida, só para que, quando as diretas de fato chegassem, quatro anos depois, a maioria votasse em Fernando Collor de Mello, um baita retrocesso. Veremos agora se, pós-mensalão, a impunidade será de fato desterrada.
crossi@uol.com.br
Clóvis Rossi  
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.

sábado, 20 de outubro de 2012

Eleições 2012 - Joinville SC

Clarikennedy Nunes "A Farsa"

Kennedy sempre afirmou que é CONTRA fazer coligações e queria o governar sozinho, com a sua equipe. E agora, o que ele vai dizer depois de se aliar aos políticos que ele sempre criticou de forma dura e até mal educada ?


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Assistir novelas

Confesso não entender a real motivação, pois esse assunto é polêmico e longe, muito longe de ser contra ou a favor, gostar e não gostar. É em meu entendimento conscientização. Foi assim que eu e minha mulher abandonamos a carreira das novelas lá pelo meio dos anos oitenta. De maneira consciente. Sem pressão ou sugestão alguma concluímos que era muita perda de tempo numa atividade sem retorno algum... era uma fantasia inútil... e em certos momentos inconveniente, pois não foram poucas as vezes que abrimos mão de certos eventos (festas com amigos, churrascos, passeios, etc.) para plantados em frente ao televisor ingerirmos lixo intelectual. Sim lixo... e dos piores, pois não serve nem para reciclagem. Assim, sem nenhum drama e sem dar explicações a ninguém estamos há quase trinta anos simplesmente ignorando esses programas entre outros da mesma estirpe. Concluindo, televisão é audiência, enquanto existirem milhões assistindo, pode ser a atração que for, continuará no ar. É simples matemática. SE passa é porque DÁ audiência... e audiência significa propaganda, assim o círculo se fecha: propaganda, programa, audiência - milhões aprovando e assistindo. Por fim, aí está um grande exemplo do que representa a opinião da maioria... Para quem gosta de refletir, este é um bom tema.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Renato Holz

A VERDADE DE CADA UM
No. 302 - 42/2012 

O que é “ Vencer na Vida “?

Renato Holz (*)

            Hoje, dia dedicado aos professores, abordo a questão do vencer na vida, uma das principais razões, se não a principal do esforço de todos os mestres.
A ciência econômica ensina que necessidade econômica é o desejo de possuir um bem, e que bem econômico é aquilo que atende à necessidade econômica.
            Na atualidade nos vemos frente a tantas necessidades sociais geradas pela constante evolução tecnológica, pelo efeito de demonstração – idiossincrasia - , pela ânsia de ter o mais novo e o mais moderno, que nos esquecemos de viver.
            Quando se observa a educação, vemos esta tomar proporções além do natural, transformando os jovens que a ela tem acesso, em excepcionais competidores deles mesmos, pois, para os conceitos atuais, necessário é, além de ser melhor que o próximo, ser mais importante e melhor que a si próprio para “vencer” na vida.
            Esse vencer na vida não é mais algo a ser conquistado, mas sim algo a ser disputado entre as pessoas no mercado de trabalho e, para tal, a cultura atual está embriagada na educação descomunal como solução.  As crianças já não tem tempo para brincar, os jovens deixaram de frequentar clubes e praticar esportes, pois seus compromissos, além da escola, com cursos de línguas, informática, etc, etc tomam todo o seu tempo.
            Não me entendam mal, nada tenho contra a educação. Mas, se educar é preparar alguém para a vida, não devemos esquecer que além de ensinar a crianças e jovens todos os conhecimentos científicos, profissionais e de mercado, faz parte da educação o ensino de valores  morais, de ética, de civismo.  Educar também é mostrar que não devemos deixar nos escravizar pelo consumo desenfreado, pela “obrigação" de ter, ter e ter; ensinar que desejo econômico e bem econômico são assuntos da ciência econômica, que não é a razão principal da vida.
            Todos nós, se fizermos um levantamento dos objetos que temos espalhados pela casa, que não usamos, e dos quais na verdade não precisamos, e avaliarmos quantas horas de trabalho foram necessárias para adquirir tudo isto, vemos quanto tempo para fazer coisas de que realmente gostamos desperdiçamos, sim, desperdiçamos correndo atrás do que nem queríamos. .
            Quantas vezes você aproveitou uma manhã de domingo para ir com  seus filhos observar o trabalho e a organização social das formigas, ou a contemplar um casal de pássaros construindo seu ninho?  São só dois exemplos da riqueza de ensinamentos que a natureza nos proporciona para passar sadios conhecimentos a nossas crianças e jovens.
            Devemos educar para a vida,  e não somente para uma parte dela que são o aspecto profissional e satisfação de necessidades econômicas.
            Meus parabéns a todos os professores pelo dia a eles dedicado, especialmente àqueles que aprenderam e ensinam que vencer na vida não é fruto de ter, mas sim de ser.

Pensem nisto enquanto desejo a todos
           uma ótima semana
                   Renato Holz                                                                                               Horizonte / Ce 15 de outubro de 2012

             < renatoholz31@gmail.com >                                                                                                             (*)Renato Holz
bacharel em ciências econômicas, articulista e consultor em planejamento estratégico

P.S. – Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a autoria.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia da professora - 15 outubro

Lá se foram mais de quatro décadas, e em minha memória as marcas da professora Rejane ainda permanecem. Foi a primeira mulher a me impressionar. Foi a primeira a me tratar muito além do que poderia imaginar. Com atenção. Carinho. Além da enorme simpatia e alegria que de pronto irradiava. Eram dias de rei. E ela era a minha rainha. Aliás, permanece rainha em meus pensamentos. Que a vida lhe tenha premiado com a mesma felicidade que soube compartilhar comigo e meus colegas. Salve professora Rejane! Eternamente em meu coração.

sábado, 13 de outubro de 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sina

Diante de fatos que envolveram o PT, ficou evidente a vocação equivocada de gentes em conluio se arvorar privilégios além do bem e do mal. (gilrikardo)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

-Brasil, mostra tua cara!

Gustavo Franco
A Sociedade do Privilégio

"Só uma bem urdida Sociedade do Privilégio consegue o prodígio de alijar a Economia de Mercado do sistema político-partidário e nos impor quatro candidatos a desancar o que chamam de 'o modelo neoliberal'."

Passando em revista nossas origens, um tema comum a muitos historiadores é a formação de uma Sociedade fundada sobre o Privilégio. No começo, quando se forma o que Jorge Caldeira chamou de a Nação Mercantilista, não havia capital, nem trabalho, tampouco Sociedade, mas apenas o Estado, criador de todos os Privilégios, dentre os quais, inclusive, o direito de propriedade sobre outros seres humanos.

No Brasil, nunca tivemos luta de classes de verdade; a tensão social sempre foi entre o Estado, ou seus donos, e a Sociedade, especialmente os brasileiros desprovidos de Privilégio. Direita e esquerda pareciam atores de um enredo menor num país onde o Estado sempre soube definir-se como um fim em si mesmo, como uma encarnação falsificada da Nação. O Estado sempre foi propriedade privada de poucos, e por isso o Brasil nasceu e cresceu desigual. A Maioria, ou o Povo, essa entidade sem rosto, multidão silenciosa e amorfa, sempre foi coadjuvante da Sociedade do Privilégio e, basicamente, é gente demais para dividir a pouca riqueza existente.

A Democracia de Massa no Brasil é fenômeno muito recente, e seu aparecimento em meados dos anos 1980 tem a mais inesperada conseqüência: a hiperinflação. O leitor já parou para pensar por que a inflação vai de 100% anuais para 84% mensais de 1984 a 1990, durante os primeiros anos de Democracia, depois de mais de duas décadas de Ditadura?

A resposta para esse enigma é simples: o Povo quis participar da Sociedade do Privilégio, anseio absolutamente legítimo, pois, se as políticas públicas eram dirigidas a setores "especiais" ou "estratégicos", por que exatamente alguém, qualquer pessoa, deve ser excluído dessa categoria? Por que apenas alguns e não todos são merecedores das benesses do Estado?

Os primeiros anos da nossa Democracia de Massa produziram a hiperinflação porque a dinâmica política foi a de "incorporar" todo mundo que aparecesse, todos os que quisessem poderiam ter sua Emenda no Orçamento, sua "Conquista" consagrada na Constituição, seu programinha de apoio no contexto da "Política Industrial", todo o país passou a ser "estratégico" e, por força do Princípio da Isonomia, todos passaram a merecer o direito a algum pequeno Cartório pelo menos igual ao do vizinho. Todos se tornaram Credores do Estado, e portanto cobradores implacáveis da Dívida Social.

O novo Estado Democrático, diante desses anseios, adotou um modelo de "Clientelismo de Massa", cujo espírito ainda permanece muito vivo, e que consiste em estender a todos os brasileiros algum Privilégio, via orçamento, ou via regulação, porque todos têm direito. É o Espírito (da Constituição) de 1988.

Todavia, como o Estado não é criador de riqueza, apenas um veículo de transferência, o modelo rapidamente se revelou impraticável. O nobre propósito de "incluir os excluídos" a qualquer custo acabou corrompido pelo fato de que o dinheiro advinha da tributação do próprio "excluído" através da inflação. Ou das futuras gerações através de dívidas crescentes.

Todos têm direito, mas simplesmente não é possível conceder tantos Privilégios a tanta gente; não vamos acabar com a Sociedade do Privilégio multiplicando Direitos e Privilégios de forma irreal.

Com efeito, quem vai terminar com a Sociedade do Privilégio é a Economia de Mercado, e não é outro o motivo pelo qual a Estabilização, a Abertura, a Desregulamentação e a Privatização geraram tantas tensões.

A Economia de Mercado é subversiva numa Sociedade do Privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a Meritocracia e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios.

Só uma verdadeira e bem urdida Sociedade do Privilégio consegue o prodígio de alijar a Economia de Mercado do sistema político-partidário e nos impor quatro candidatos a desancar o que chamam de "o modelo neoliberal", cada qual propondo, em diferentes vestimentas, a extensão de novos Privilégios e o crescimento do Estado.

Gustavo Franco é economista da PUC-RJ
e ex-presidente do Banco Central

Blog do Políbio Braga


- A carta a que se refere Maria Helena (abaixo) é de Miruna Genoíno, a filha do mensaleiro do PT que foi condenado à prisão por corrupção pelo STF. A carta de Miruna fez o cabotino senador Eduardo Suplicy chorar no Senado. As manifestações da filha do mensaleiro demonstra que não é apenas o pai quem perdeu o eixo e o pudor. Essa gente estranha, que passou a vida toda trabalhando com a lógica de que os fins justificam os meios, desde que a causa seja nobre, não percebeu que a corrupção é incompatível com as práticas políticas dentro de uma sociedade democrática. Miruna precisa compreender esta lição, que não lhe foi ensinada pelo pai, e recolher-se dignamente à posição de familiar recatado diante da desgraça familiar inevitável. Seu pai não é herói de nada, porque não passa de um reles bandido político condenado.


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Carta aberta aos brasileiros da filha de José Genoino

A coragem é o que dá sentido à liberdade

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.
Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas...

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?
E sigo...

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...
Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?
Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.
Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino

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Resposta de uma brasileira à Miruna Genoíno

Embora solidária com seu sofrimento, como uma das cidadãs a quem sua carta é dirigida, não posso me furtar a respondê-la com muita franqueza.


Estranho seria se você, que teve um pai amoroso e que vê esse pai ser um avô dedicado e apaixonado por seus netos, não o defendesse.

Mas pare e pense: você acredita mesmo que nossa Imprensa odeia o governo Lula apenas porque esse cidadão era um operário? Você realmente acha que todos os membros da Imprensa nacional são aristocratas que odeiam a plebe? Será que você não se lembra da força e da torcida da maior parte da Imprensa pela anistia e do prazer com que ela relatou a volta dos exilados?
É à Imprensa, aos seus jornalistas e repórteres, que devemos, em grande parte, a maior parte, aliás, a queda da Ditadura. Se nossos jornalistas não encampassem a luta contra os militares, nós ainda estaríamos sob seu jugo.
Ainda há alucinados que gritam Selva! Mas veja você que a grande Imprensa não lhes dá guarida.
Seu pai cometeu um grave erro: seguir cegamente uma ideologia e acreditar que o PT seria o partido certo para implantar essa ideologia. E não perceber que estava seguindo dois homens que tinham um interesse apenas: o poder pessoal. A qualquer preço.
Você já se perguntou para que eles queriam esse poder? Convive com eles? São homens probos tal qual seu pai? Vivem vida simples e regrada como seu pai e sua família? Eles se dispuseram a inocentar seu pai, confessando, em juízo, que ele foi vítima de um esquema tenebroso?
Não lhe passa pela cabeça que seu pai foi muito ingênuo?
Sinto muito pelo seu sofrimento. Mas penso que sua carta deveria ser destinada ao Lula e ao José Dirceu.

Atenciosamente,

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa



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OUTRA RESPOSTA PARA A CARTA 


Bom, como a carta aberta da filha de Genoíno é endereçada À TODOS OS BRASILEIROS, e eu, como carioca da gema, filho agradecido de nordestino cabra da peste e de uma mineirinha de 1,57 cm, enfezada feito uma capeta menstruada, tenho, por óbvio, o direito de responder.

Querida Miruna, me solidarizo, sinceramente, com sua dor. Um filho ou filha, agradecidos ao pai que lhes trouxe ao mundo, funciona como um advogado, quando da defesa de um réu.

Lamentavelmente o fato de ser avô, ter dois filhos e 3 netos, por si só, não garante que um cidadão que se enquadre nesta condição seja elevado à condição acima de quaisquer suspeitas.

Fernandinho Beira Mar é pai. Tem 4 filhos (reconhecidos) e também é avô de dois netos e isso, convenhamos, não serve de passaporte para a impunidade.

Infelizmente Você teve a CONSCIÊNCIA do que seu pai fez durante o REGIME MILITAR. Eu, ao contrário de você, vivi todos os piores momentos daquela época.
Não estranhe o fato: MAS MUITOS BRASILEIROS COLOCARAM SUAS VIDAS EM RISCO, ACIMA DO CONFORTO E DO BEM ESTAR INDIVIDUAL, para resgatar nossa democracia. Eu estava nesse meio, como outros milhares de brasileiros. E comecei a fazer isso, com apenas 16 anos de idade.

Seu pai, ao contrário do que afirmas, causou mais dor do que tenha sentido. Basta que você leia sobre a guerrilha do Araguaia, motivo de orgulho de seu pai, para saber o que realmente ali se passou. Os justiçamentos, os sequestros, os assaltos, tudo registrado nos arquivos com ambas as visões: a fantasiosa e a verdadeira. A de bandidos que queriam se transformar em heróis e heróis que foram transformados em bandidos pelos filósofos à soldo do petralhismo, por jornalistas engajados e historiadores que fraudaram a história.

Você, com acerto, diz não ter as respostas para as perguntas que se faz, ao contrário dos que vivenciaram cada frame negro daquele filme. Hoje, quem viveu aquele momento, sabe as respostas de todas as perguntas, e sabem que faltam perguntas para tantas respostas.

Por exemplo:

Que “forma de resistência” é essa que falas? Os justiçamentos ocorridos no Araguaia pela SIMPLES DESCONFIANÇA DE QUE UM COMPANHEIRO ESTAVA TRAINDO O GRUPO? O assassinato a marteladas de um jovem tenente que acreditou nas promessas dos guerrilheiros e resolveu se entregar? Uma bomba deixada no aeroporto de Guararapes que deixou 17 vítimas e dois inocentes mortos? Ou a que matou um jovem soldado de apenas 19 anos de idade?

São mais de 40 anos de vida política, diz você. Excetuando-se todas as falsas glorificações dos heróis bandidos, o que sobra de vida de seu pai, se é que cometeu algo de louvável, restou findo no dia de hoje e de forma DEMOCRÁTICA, LEGAL, SEGUNDO O ORDENAMENTO JURÍDICO DE NOSSA NAÇÃO e ONDE LHE FOI DADO TODO O DIREITO À AMPLA DEFESA que, diga-se, centrou na mais cínica mentira que seu próprio texto, nas entrelinhas, conclui.

E aí, Miruna, chegou a hora de você apresentar respostas para as perguntas sobre as respostas que temos:

1) Sendo seu pai tudo o que você descreve com esse belo amor de filha, como pode eLLe não saber de nada do que era feito bem debaixo de seu nariz?

2) Sendo esse HOMEM PRESUMIDAMENTE, POR VOCÊ, CORAJOSO COMO SEMPRE FOI, segundo diz você, POR QUE ELLE NÃO DISSE NÃO AO QUE OUTROS FAZIAM E AINDA COLOCANDO SUA ASSINATURA PESSOAL EM EMPRÉSTIMOS FRAUDULENTOS?

3) SENDO ESSE HOMEM TÃO COMBATIVO QUE SEU AMOR FRATERNO DESCREVE, POR QUE ELLE NÃO IMPEDIU QUE SE COMETESSE UM CRIME NOJENTO, BEM DEBAIXO DO SEU NARIZ, QUE PODERIA CHEGAR AO QUE CHEGAMOS HOJE?

4) SE ELLE LHE DISSE, AOS 8 ANOS: “MIMI, QUERO MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS”, então por que permitiu que uma quadrilha roubasse a grana de milhões de brasileiros que trabalham diuturnamente para pagar impostos escorchantes que foram roubados em nome de uma causa?

5) Suponhamos, Mimi, que seu pai soubesse de tudo o que aconteceu nesse episódio tenebroso que atentou contra a nossa democracia, pergunto: Então, por que não saiu do partido? Por que comemorou várias vezes com muitos integrantes do bando as “vitórias” do governo, compradas com dinheiro sujo?

6) E a pergunta final Mimi: POR QUE, TENDO TODAS AS CHANCES DE SE DEFENDER, NÃO O FEZ DE FORMA CABAL, ONDE NÃO RESTASSEM DÚVIDAS SOBRE SUA ATUAÇÃO? POR QUE MENTIU TANTO? POR QUE, CORAJOSO, NÃO OPTOU PELA VERDADE?

Ah, Mimi, não recrimine “os meios de comunicação” desta nossa nação. Muitos jornalistas se esmeram em produzir e divulgar as farsas aprontadas por LuLLa e sua quadrilha. Mas ela, Mimi, ainda é livre. Na Argentina, cujo governo da doida que seu pai defende, a imprensa está sendo cassada. Em Cuba ela só existe para falar bem do governo assassino que seu pai defende. Na Venezuela, as versões que prevalecem, são as oficiais. As poucas que falam a verdade, ou foram “estatizadas” ou “foram eliminadas”. Todos estes exemplos de democracia, são defendidos pelo seu querido pai.

Seu pai terá, como preza nossa democracia, o pleno direito de espernear o quanto quiser. Faz parte.

Da mesma forma, temos o direito de torcer para que a pena que lhe seja imposta seja suficientemente grande, para que não retorne como falso herói novamente.

Seu pai Miruna, com toda a razão e compreensão que nos cabe ter neste momento difícil que vives, pode ser o HERÓI que sua visão enxerga. É o seu papel de filha e lhe admiro por isso.

Mas para nós brasileiros, que cansamos de impunidade, que cansamos das mentiras contadas por LuLLa e amplamente defendidas por seu pai, que cansamos do cinismo com que fomos tratados, que quase desistimos de lutar por esta nação, ao constatarmos todos os dias que os bandidos de sempre impunham à milhões de brasileiros uma pauta sobre a qual não nos cabia o direito de defesa, seu pai não passa de um bandido covarde que ajudou a roubar o dinheiro que poderia construir escolas, creches, hospitais, comprar medicamentos para quem não tem como pagar, dar casas para quem não tem onde morar e realmente, como eLLe lhe disse aos 8 anos: “que a única coisa que queria, era melhorar a vida das pessoas”.

Sinto muito Miruna pela sua dor e pelo momento difícil que estás passando.

Mas não nos tire o direito de sentir uma alegria esfuziante por ver resgatada a justiça que parecia nos ter abandonado. Não nos tire a alegria de poder constatar que um Brasil mais justo e mais honesto, mais verdadeiro e menos cheio de farsantes e mentirosos esteja, finalmente, renascendo.

Lamento te dizer Miruna,

Mas a sua dor é do tamanho exato da alegria das pessoas decentes. Do simples carteiro que encontra uma mala de dinheiro e devolve, ao invés de escondê-la nas cuecas, como fez seu tio, das pessoas que trabalham incansavelmente para dar um futuro melhor para seus filhos, sem praticar qualquer tipo de crime. Do policial que prende quem tenta lhe subornar. Do juiz que julga de forma imparcial um réu, seja ele quem for. Do político que honra os votos que recebeu.

A sua tristeza, Miruna, é a compreensível tristeza de filha.A minha alegria, ao ver seu pai preso, pagando pelos crimes que cometeu, é a de um brasileiro que quer deixar para os netos, um país LIMPO – JUSTO – HONESTO e COM PLENO EXERCÍCIO DA MAIS LIVRE E RESPONSÁVEL DEMOCRACIA.

Por fim Miruna, não "É A CORAGEM QUE DÁ SENTIDO À LIBERDADE", como você disse nas primeiras linhas de sua cartinha, mas o medo de perdê-la. A CORAGEM, querida e competente filha, só é necessária para se defender a verdade como norte, quando todos defendem a mentira como método.