sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Masoquistas

Masoquista é quem se deleita com o próprio sofrimento. Tal conceito, diante de nossa frágil democracia, revela-se um perfeito ingrediente a colorir as relações sociais e políticas.
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Pois, de um lado temos aqueles cuja atitude a cada dia que passa se mostra autêntica tirania contra a multidão de apáticos viventes. São atos cruéis de total desconsideração ao bom senso. São as artimanhas arquitetadas com o único fim de abocanhar o patrimônio público. Dia após dia, surgem novas modalidades de burlar as regras e locupletar-se... não falta criatividade tampouco colaboradores se o objetivo é meter a mão! E dessa forma, tais sádicos se realizam em suas ambições pessoais de consumo, de status, de alegria, de poder, de enfim levar uma tranqüila vida dos sonhos.
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Na outra ponta uma multidão de contribuintes, em todos os sentidos, completa essa injusta relação. São os milhões de iludidos, milhões que acreditam em valores éticos e nas leis estabelecidas, milhões que diariamente só conseguem vislumbrar a simples sobrevivência e que diante desse desafio, anestesiados pelo esforço desprendido, creem que a realidade é isso e nada pode ser diferente.  Típico de quem aprendeu a gostar do sofrimento e com isso ignoram os benefícios de uma existência digna, dentro dos mínimos padrões de decência e qualidade. E assim transformam-se em simples massa a sustentar a oligarquia dos eleitos.
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Acreditar que avançaremos é nossa cota de esperança... no entanto, lutar, buscar, tentar, fazer e principalmente assumir a responsabilidade pelo bem comum é dever de todos, caso contrário a multidão não passará de simples masoquistas a serviço da outra parte...


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Figueiras da discórdia

Lá se vai um bom tempo sem que ocasionalmente não venha à baila a novela das figueiras. O enredo revela-se formidável, pois não faltam personagens para balançar a trama, tampouco espectadores torcendo para este ou aquele desenlace. Não dá para não esquecer.

São inúmeros programas de rádio e televisão a levantarem bandeiras, contra ou a favor, pouco importa se o assunto está rolando. Igualmente jornais impressos dedicam espaços para as mais variadas opiniões, desde aquelas cujas origens bem intencionadas é inegável até às temperadas com intenções de tirar uma casquinha. E assim vão surgindo inúmeras correntes de palpiteiros dentre os quais me incluo.

São tantas declarações que algumas até se contradizem, por exemplo: pessoas que reclamam do trânsito e do estado de trafegabilidade em determinadas ruas, defendem ardorosamente a permanência das árvores que atualmente contribuem para o caos da tão alardeada mobilidade urbana. Situação que tende a revelar-se uma constante e com isso exigir respostas rápidas, sem muita delonga para as costumeiras e extenuantes consultas gerais.

É muita vela pra pouco santo! Imaginem quantas horas de trabalho despendidas em audiências, programas e salas de redações para se chegar a lugar nenhum. Até parece que as tais frondosas representam uma espécie vegetal em extinção no município, pois ninguém ainda considerou que a menos de cem metros existe um morro com zilhões de pés de mato nativos que supririam com folga a demanda por verde tão propalada pelos adeptos ambientalistas.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, onde está o bom senso? Não vimos tanta dedicação para salvar o rio cachoeira, infinitamente mais relevante à cidade. Afinal, a quem caberia determinar o destino das figueiras da discórdia?

Ora, quando é de todos não é de ninguém ou onde todos gritam ninguém tem razão! leva-se com esses termos a solução para algo que em outras épocas bastaria um machado e iniciativa qualificada para tal - entenda-se a prefeitura. Pois a competência pela administração pública pertence aos eleitos, portanto lhes cabe degustar o filé, bem como roer o osso. Mas os tempos são outros, deve-se consultar a população (curiosamente quando há osso!) e desse modo permanecer com opiniões estapafúrdias tais como descobrir o sexo dos anjos, além de arcar com o dispêndio de recursos cuja carência em outras áreas é gritante. Todavia, como nem tudo é em vão, nos resta o aprendizado e torcer  para que semelhante desenrolar não atinja questões bem mais cruciais.
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Post scriptum: Artigo publicado no jornal A Notícia em 040909

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dicas contra telemarketing

Dicas para se vingar dos marqueteiros chatos...

Dicas Para NÃO Receber

Telefonemas / Correspondências Indesejadas

Um editor de notícias da CBS nos brinda com essas preciosas dicas sobre como lidar com as agressões de marketing que nos bombardeiam todos os dias.

1) Um método que realmente funciona: Ao receber uma chamada de telemarketing oferecendo qualquer coisa, diga apenas:

- "Por favor, aguarde um momento..."

Diga isso, deixe o fone sobre a mesa e vá cuidar de outras tarefas (ao invés de simplesmente desligar o telefone de imediato).

Isso vai fazer com que cada chamada de telemarketing que fizerem tenha uma duração muito longa, arruinando as metas do marqueteiro que lhe ligou.

Periodicamente verifique se o marqueteiro ainda está na linha e reponha o fone no gancho somente após ter certeza de que ele desistiu e desligou. Isso dá uma lição de alto custo para esses intrusos.

Se difundirmos esse método ajudaremos a eliminar ofertas indesejadas por telefone.

2) Alguma vez você já atendeu ao telefone, e parecia não haver ninguém do outro lado?
 
Esta é uma técnica de telemarketing onde um sistema computadorizado faz a ligação e registra a hora em que a pessoa atendeu.

Esta técnica é utilizada por marqueteiros para determinar a melhor hora do dia em que uma pessoa real deverá ligar, evitando assim que o "precioso" tempo de ligação deles venha a ser desperdiçado, caso você não esteja em casa.

Neste caso, ao receber este tipo de ligação, não desligue. Ao invés disso, pressione o botão "#" no seu telefone seis ou sete vezes seguidas, em rápida sucessão. Isso normalmente confunde o computador que discou seu número, fazendo registrar que seu número é inválido, e eliminando seu número do banco de dados. Ah, que pena, eles não têm mais seu número para ligar de novo...

3) Propaganda inserida em suas contas recebidas pelo correio:

Todos os meses recebemos propaganda indesejada inserida em nossas contas de telefone, luz, água, cartões de crédito, e outros. Muitas vezes essas propagandas vêm com um envelope de resposta comercial, que "não precisa selar; o selo será pago por..."

Insira nesses envelopes pré-pagos a propaganda recebida e coloque de volta no correio, COLOCANDO A PRÓPRIA COMPANHIA COMO DESTINATÁRIO. Caso queira preservar sua privacidade, remova qualquer coisa que possa identificá-lo antes de inserir no envelope.
 
Isso funciona excepcionalmente bem para ofertas de cartões, empréstimos, e outros itens "pré-aprovados" . Não jogue fora esses envelopes pré-pagos. Devolva-os com as propagandas recebidas. Faça essas companhias pagarem duas vezes pela propaganda enviada.
 
Aproveite para inserir anúncios da pizzaria local, de lavanderias, supermercados, ou qualquer outro item inoportuno que esteja à mão.. Algumas pessoas já estão praticando isso e devolvendo esse lixo de volta a essas companhias. Mas, veja bem, temos que dar nosso recado. Precisamos ter números expressivos de pessoas aplicando essas técnicas eficazes de protesto.

Por isso talvez este e-mail seja um que você realmente queira repassar aos seus amigos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fragmentos

Chove, estamos no outono, é quando os dias parecem transformar minhas sensações em melancolia ou será apatia? ou porcaria? ou cacofonia?
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Nesse clima de total conspiração, caminho por entre becos estreitos e ruas alagadas, procurando pisar nas pedras mais salientes – pareço brincar de amarelinha. Rumo ao encontro do amigo que há tempos não confabulo - o Fernando. Mora sozinho em um pequeno quarto. Espaço suficiente para uma cama, uma mesa, duas cadeiras e um pequeno armário. Leva a vida entre a solidão e as letras, há muito que seu mundo mesclou-se entre o imaginar/sonhar e a rotina anestesiada de um simples mortal. Perambula na tênue divisa entre o aqui e o acolá.

Será em que lado insiro-me?

Talvez o velho Pessoa me tenha uma forma imaginária de relacionamento ou quem sabe, de verdade verdadeira, reconhece-me como um amigo que pouco importa-se a que destino a vida nos encaminhou. Quando em sua presença, trocamos idéias, questionamos conceitos, tentamos reinventar a roda. É um excitante roda moinho vicioso: pensar o quê e por quê pensar? Assim passamos tardes e às vezes até noites entretidos entre uns e outros dramas existenciais.

- A que categoria de seres pertencemos Fernando?
(Fernando) - ... a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida ? (*)
- Puxa! Como sempre, és um dúbio provocador. E por que literar não inclui-se em um ato de viver, se viver são as emoções tanto satisfeitas quanto reprimidas, compreendidas ou não. È a busca do prazer ou desprazer que a poucos manifesta-se através dessa ignorância.
(Fernando) - Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. [...] Tornei-me uma figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que eu queira) sentido para se escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com  imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto recompor-me destruí-me. De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu. (*)

Entre um diálogo e outro ele acendia um cigarro cuja fumaça flutuava descrevendo figuras aleatórias que prendiam sua atenção. Ficava absorto, como se viajasse junto com aquelas construções ilegíveis que subiam até sumirem por entre as frestas do forro carcomido pelo tempo.

Eu ali, querendo decifrar onde nossos mundos tocavam-se. Ao tempo que a presença dele de maneira insistente provocava em mim devaneios que alimentavam meus sentimentos antagônicos aos semelhantes.

Era um paradoxo existencial, quanto mais aproximava-me de Fernando como pessoa, mais distanciava-me das pessoas como Fernando. Parecia que éramos fronteiras de um mesmo território. Seria muita pretensão de mim à parte?

Pouco a pouco o breu da noite invadiu nosso ambiente e junto trouxe a sensação de que havíamos esgotado nossa saudade. Já era tempo de voltarmos cada um ao seu destino, despedimo-nos como grandes amigos: aperto de mão, grande abraço e um até breve. E lá fui-me, próximo da esquina mirei a janela de seu quarto e pude ainda registrar a silhueta daquele a quem ... tudo vale a pena... se a alma não é pequena. (**)

Continuei em minha caminhada imaginando que roda moinho era a melhor definição para as emoções despertadas após as confidências de nossas ignorâncias ao ato de viver. Segui e em minha reflexão os fragmentos da conversa embalava o ritmo de meu passos por entre aquele bando de viventes que nem sequer notavam minha presença, quanto mais minha existência... “De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu” (*)

*Livro do Desassossego (trechos 116 e 193)
**Mar Português > Fernando Pessoa (1888/1935) Poeta e Escritor Português.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vítimas da guerra pela audiência

É difícil para o cidadão comum manter-se calado, e o pior, não ter a quem recorrer quando se depara com situações constrangedoras como a que emergiu dum programa televisivo nesta semana cujo tema era abuso sexual.

Todos sabem o que isso significa e de que maneira acontece, mas a pretexto de bem informar "entre aspas" a entrevistadora de uma criança vítima, parte para uma série de perguntas recheadas de mínimos detalhes que levam facilmente qualquer um imaginar uma cena de pedofilia.

Isso descrito com minúcias nojentas e desnecessárias... serviu, em minha opinião, somente para constranger os telespectadores. Eu, como adulto, tenho o discernimento e a liberdade de mudar de canal. Assim, continuei o suficiente para "quase vomitar" ao imaginar que milhares de crianças estariam expostas àquilo gratuitamente. Sofrendo assim, abalos em suas crenças e idéias, além da falta de respeito a sua integridade psíquica e moral.

Diante de tal situação, o que me causou ainda maior perplexidade é que ninguém, nem um advogado ou membro do ministério público tenha se dado ao trabalho de contrapor tais imagens com o  que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Capitulo II artigos 17 e 18. Lá está claro...  respeito à inviolabilidade física, psíquica e moral das crianças... preservação dos valores, idéias e crenças... além do dever de pô-las a salvo de qualquer tratamento vexatório ou constrangedor.

E porque mais vexatório e constrangedor para uma criança do que assistir à descrição detalhada de atos "libidinosos" praticado por pedófilo. Não basta o sofrimento da vítima, em nome da audiência, deve-se popularizar a chaga...

Desculpem-me leitores pela indignação, mas não dá para fingir que ninguém sabe, que ninguém viu. Alguém tem que pelo menos "gritar"... esse é meu grito pelo dever de todos de velar pela dignidade da criança e do adolescente (Vide Lei 8069 ECA Art. 18).

domingo, 25 de setembro de 2011

Domingo de leituras e livros

Se o silêncio é uma prece, ler deve ser uma espécie de religião, que nos anima, conforta, emociona e seduz. Deixe-se seduzir…


sábado, 24 de setembro de 2011

Devaneios

A quem interessar possa

Em expectativa vive-se. Destino. Sem chances de voltar. Ainda assim, desejos fortes de rever, reencontrar, refazer, reviver... Destino. Rumo certo. Incertezas que atormentam ao imaginar que tudo continua... menos eu! Destino. Diante de finitude passageira, as vaidades soam correntes a dolorir a jornada. Quem sou eu? Quem és tu? Quem somos nós? Que mundo é este? Caos. Destino. Pensamentos vão. Vão pensamentos. A quem interessar possa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Convidado > Ramon Ventura Jr.

Este espaço é para o leitor opinar. No caso do Ramon, simpatizante de meus escritos, gostei do texto publicado em 26/10/2010 no seu blog POUCOS CONTRA MUITOS. Abaixo meu comentário e na sequência o texto propriamente dito.

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Olá Ramon, é uma pena que tenhas parado de escrever. Acredito que deves continuar, sem te importares com os outros, penses naquilo que significa algo para ti, aí então desenvolva o texto. Quem primeiro deverá gostar és tu. Se agradar alguém mais, melhor ainda. Um dos motivos que me levam a escrever é incentivar que outros façam o mesmo. Precisamos exercitar as "idéias", e para isso só nos expressando. E quanto à opinião de outras pessoas, dê uma olhada em meu post: O TUDO E O NADA.

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Pessoal primeiro gostaria de agradecer a todos que tem lido meus posts e conversado comigo a respeito de idéias para melhoria ou simplesmente dizendo que gostou.
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Hoje estou aqui para falar de uma frase que ouvi sábado a noite. Quando cheguei em casa após uma festa me deparei com um vídeo na televisão, de mais ou menos umas 13 pessoas espancando um cara. Após isso começou um programa religioso o tema era: Há se eu pudesse voltar atrás.
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É exatamente sobre esse tema que quero discutir hoje. Aquele que nunca disse essa frase que me atira a primeira BOMBA! Todos nós já falamos pelo menos 3 vezes na vida... Seja por motivo de amor, amizade, alguma briga, escola...
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Bom pessoal lembram-se dos detalhes que uma vez falei? Vamos aprofundar mais um pouco neles.
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Ao atirarmos uma pedra no rio ou mar, por menor que seja ela, ela pode aumentar o volume do oceano. Uma simples pedra pode mudar o curso de um rio inteiro, e uma simples pedra pode mudar toda uma vida.
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Qual o efeito de uma simples folha de árvore sobre uma fileira de formigas? Todas as formigas organizadamente dão a volta no obstáculo assim fazendo com que demore mais o alimento para chegar ao formigueiro. A mesma coisa acontece conosco.
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Uma simples pedra em nosso caminho para muitos pode não significar nada, mas para aqueles que imaginam aqueles que têm o hábito de pensar em todas as conseqüências de determinado ato, aquela simples pedra pode muito bem destruir uma vida.
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Imaginem vocês andando pela rua e chutam uma pedrinha para a rua. Ao fazer esse ato você pode fazer uma reação em cadeia que pode nem imaginar... Imagine está pedra que você chutou na rua, e um pedestre a caminhar tranquilamente, até que um carro em uma situação de emergência (ou não) passa com uma velocidade alta e pega de raspão a pedrinha... A pedrinha vai adquirir uma alta velocidade e dependendo por qual parte o carro passar, e da inclinação da pedra ela pode ser lançada em direção do pedestre. Ao ser lançada ela poderá atingir qualquer parte do pedestre desde a cabeça até os pés, enquanto o coitado nem "se toca" do perigo que está correndo...
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Agora imaginem vocês em uma situação totalmente diferente... Uma situação que vocês já desejaram voltar atrás... Pensem em tudo o que aconteceu naquela situação, pensem em todas as pessoas que vocês conheceram ou brigaram, e pensem em como vocês estão hoje em relação a isso o que aconteceu... Imagino que muitos de vocês após pensarem nisso tudo não desejariam não ter feito o que fizeram, mesmo que a ocasião foi extremamente ruim.
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Tudo na vida é um eterno aprendizado, desde que nascemos até o dia em que morrermos estamos aprendendo. Aprendemos com os nossos acertos, com as pessoas ao nosso redor, aprendemos com a imaginação e principalmente aprendemos com nossos erros e enganos.
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Aquele amor de verão que quando acaba ficamos tristes e chorando é um aprendizado, aquela pessoa que só nos trata mal é outro aprendizado, quando nossos pais falaram algo e nós não darmos ouvido estamos aprendendo, mas muitas vezes aprendemos da pior forma... kkk...
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Enfim a vida é uma só, não perca seu tempo lamentando-se por erros! Se pararmos de lamentar e começar a viver teremos muito tempo para dizer: Gostei muito de fazer aquilo que fiz, ao invés de dizer: O que poderia ter acontecido se eu tivesse feito aquilo? Os erros podem ser concertados de uma forma simples ou difícil, mas a experiência não pode ser ganha se não for vivida.

Abraço a todos. Até a próxima.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Mi$éria$ (rascunho de uma idéia)

Liga-se a tevê e lá vem a miséria humana como atração principal. Nos ditos programas jornalísticos, nada mais exibem do que provocar constrangimento através das cenas de drogados saciando seus vícios. Para bem ilustrar não faltam as imagens de pais, mães e parentes desesperados clamando em nome dos céus algum milagre curador. 


E o repórter com pinta de paladino torna o espetáculo ainda mais deprimente ao enfatizar as péssimas condições de vida de tais seres, nada diferente do conhecimento da maioria. Não apresenta alternativa que nos leve a encontrar algum conforto. Ficamos com a impressão de que o show era apenas pela audiência, pelos míseros números da planilha destinada aos anunciantes. 

Muda-se o canal e nova tática é utilizada. É um pastor dirigindo-se genericamente a multidão. Utiliza as facilidades para vender a felicidade. Tudo é curado num simples passe de mágica. Desde os empresários falidos até os que não podem andar encontrarão ali o milagre. E ao fim de cada pregação, uma centena de produtos anunciados. 

Poderia continuar citando mais programas cuja tônica é a mesma. Anunciar para a massa. Isso mesmo. Somos tratados como um bando de números. Nada mais do que isso.

Dificilmente encontraremos programas voltados à individualidade ou nos tratando como personas livres de amarras. Pois seria contrariar os dogmas do marketing advindo da maior religião de todos os tempos: o capitali$mo. 

Não importa a crença, haveremos de joelhos implorar sempre pelas graças do capitali$mo (lucro, dinheiro, bens, consumo, propriedade, status, conforto, etc.), além de fugirmos alucinados da sua ira se pecarmos contra os princípios do lucro (falência, execução, spc, serasa, cobrança judicial, sem cartão, sem talão, dívidas, renda insuficiente, baixa produção, etc.). E aos incrédulos, uma viagem à Cuba para conhecer um paraíso proibido aos crentes capitali$ta$. 

Post scriptum: "Este assunto inspirou-me, voltarei em breve com subsídios para melhor desenvolvê-lo."

PS:

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pelas gerações vindouras

Para a melhoria da educação qualquer discurso que não releve em primeiro plano a questão salarial é vazio. Não há como contestar que a qualidade tão almejada só será alcançada com o empenho de pessoas bem remuneradas. Longe da banal ladainha que escuto há décadas, principalmente próximo a pleitos eleitorais, de políticos clamando em nome daquilo que muito lhes falta: instrução e conhecimento. 

Caso contrário estariam sensíveis à causa de promover em primeiro lugar o padrão de vida dos professores. Com certeza isso criaria o efeito cascata, pois aumentaria a disputa pelas vagas tanto em vestibulares quanto em concursos onde se classificariam os melhores. Elevando dessa forma o padrão da categoria, além de fornecer ao mercado de trabalho mais uma atraente opção profissional. Status bem distante da atual realidade onde a quase totalidade vive lutando para sobreviver, seja lecionando de manhã a noite ou vendendo bugigangas quando deveria estar focada na missão maior: educar.

Para contribuir com o caos, o governo detona bilhões em propagandas e programas para nos convencer de que tudo está além do que imaginamos. Isso recorda-me aquele filme "Dormindo com o inimigo", isto é o que tem sido nossa participação frente ao estado soberano guiado por interesses distantes daquilo que melhor construiria a dignidade do cidadão.

Dormir com o inimigo é estar sob a tutela do Estado verdugo cujas ações abalam nossa crença num futuro alvissareiro, além de podar as asas daqueles que desejam alcançar as estrelas imbuídos da simples e boa formação.

Dormir com o inimigo é estar diante de um gigante estatal cujas tetas parecem tão infinitas quanto àqueles que procuram esse meio de vida sem se preocuparem com a origem dos recursos.

Até quando iremos suportar essa relação doentia é uma incógnita, entretanto se houver mínima disposição da outra parte, haveremos nalgum dia conquistar o direito de dispor duma categoria de professores à altura de nossos legítimos sonhos e que passa incondicionalmente pela excelente remuneração. Recursos não faltam. Desejos não faltam. Falta somente um pouco mais de visão e menos egoísmo da infame classe dos dirigentes. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Num dia qualquer

--Puxa! Tu não acreditas em nada?
--Não entendi. Por que dizes isto?
--Ora, meu caro, és ingênuo? Como não entendestes? Se tu ages contra deus e todo o resto...
--Calma lá! Queres dizer que minhas opiniões devem ser desqualificadas pelo simples fato de não acompanharem a maioria. Tenho manifestado-me de acordo com a lógica de meus pensamentos. Nada de escolher lado. Nada de estar com a maioria ou com a minoria. E sim dentro daquilo que meu discernimento determina.
--Não estás entendendo. É o seguinte, tu tens a mania de duvidar de qualquer assunto que nos leva a dialogar, assim fica difícil.
--Que mal há nisso? Duvidar em minha opinião é o primeiro passo que nos leva a refletir. Em meu caso este duvidar é o sinal de que estou analisando a questão, estou dando tempo ao tempo, para então demonstrar o meu respeito a ti com uma autêntica manifestação do que penso. Sem "achismos" como facilmente se agrada a maioria.
--Nunca vi alguém gastar tantas palavras para justificar a falta de crença. Tu precisas acreditar mais. Se um milhão acredita e tu não, o certo és tu?. Tu precisas praticar mais a fé... é isto que te falta... fé.
--Creio que deves estar equivocado comigo. Não imagino a que tipo de fé me aludes. O que posso te garantir é que essa confiança absoluta às vezes nos torna temerários. Por exemplo, dizer que não vou mudar de opinião, se as opiniões advêm dos fatos que nos cercam e que tais acontecimentos ocorrem numa dinâmica em constante evolução, leva-me fatalmente reavaliar meus conceitos.
--Tá vendo, isso que eu disse agora, estás duvidando de novo.
--Acredito que você nem escuta mais o que digo, simplesmente aguarda eu terminar de falar para novamente atacar minha forma de opinar.
...........
--Toc, toc, toc... paiêeeeeee, abre a porta que estou apurado, rápido...
--Tá bom, hoje tá difícil até fazer a barba em paz!

sábado, 17 de setembro de 2011

Memórias dum diletante

Capítulo II – Hoje é sexta-feira


--Juremaaaa? Netinhooo?
--O que foi seu Portuga? - respondeu Jurema.
--Venham até aqui para eu contar uma novidade.
--Já estamos aqui!
--Pois bem, desde ontem à noite, após observar um cliente passando o guardanapo na mesa e logo em seguida levá-lo à lixeira, fiquei cheio de idéias. Estou ansioso para pô-las em prática.
--O que é ansioso - pergunta Netinho.
--Diria que é querer muito... que estou desejando muito.
--Vamos lá, conta logo - apartou Jurema.
--Qual o ingrediente mais importante que você utiliza na cozinha Jurema?
--Humm.... acho que é o sal?
--Sal pode faltar, utilizamos outros temperos. Portanto?
--Ah! Gás... não posso cozinhar sem o gás.
--E para que serve o microondas, o forno elétrico e como são feitas as saladas?
--Já sei, água, sem água não podemos cozinhar.
--Chegou perto?
--Como assim?
--Ontem percebi que o único ingrediente que nunca poderá faltar, tampouco ser utilizado com economia, em nosso ambiente de trabalho é a higiene.
--Tá me chamando de relaxada seu Portuga - gritou a Jurema.
--Pelo jeito eu também - resmungou Netinho.
--Não é isso pessoal, é que estamos fazendo essa tarefa de maneira automática, muitas vezes nem imaginamos para que serve aquilo.
--Não entendi - falou Jurema.
--Devemos limpar para eliminar aquilo que enxergamos e também aquilo que está ali sem o alcance de nossa visão. E evitar as possíveis contaminações ou que os alimentos sejam alvo das bactérias.
--Seu Portuga quer ser o Dr. Bactéria - sorriu Jurema
--Doutor não, mas quem sabe um enfermeiro... eheheh
--Então seu Portuga o que devemos melhorar a partir de agora? - diz Jurema.
--Quase nada, é só dar maior importância para o ato da limpeza, e cada vez que a gente estiver realizando esse trabalho imaginar que é o único ingrediente que nunca poderá faltar, principalmente na cozinha - entenderam?
--O que é bactéria seu Portuga? - timidamente perguntou Netinho.
--Putz Grilo! Você fugiu da escola garoto, isso é matéria do primeiro grau, até que série você estudou?
--Acertou - disse Netinho - fugi da escola na terceira série, para ajudar lá em casa.
--Não acredito que você tenha só a terceira série, tem boa caligrafia e desenvolve bem as contas matemáticas... Isso precisa mudar, dê um jeito de voltar para a escola se deseja continuar trabalhando comigo. Vou estender-lhe a mão para que tenhas condições de obter uma melhor formação. Concorda?
--Sim senhor, farei a minha parte.
--Agora todos aos seus postos que a pedrera vai começar.

Que conversa mais esquisita - imaginava - enquanto conferia o troco no caixa, vejam o que um simples gesto pode provocar, o cliente de ontem limpou a mesa com o guardanapo e hoje o Netinho volta a estudar. Isso leva-me a quando iniciei neste trabalho há quase vinte e cinco anos, com a mesma idade do Netinho. Parece que foi ontem.

Entrei para pedir emprego, mas a timidez era tão grande, a vergonha de falar levou-me a pedir um copo d'água. O português que atendia gentilmente perguntou-me se desejava com ou sem gelo. Respondi-lhe que aceitava sem gelo, pois não desejava dar trabalho. Eu ali bebericando e com o coração a mil, não conseguia expressar-me, como pedir emprego, era a primeira vez que enfrentava tal desafio, só imaginava que precisava trabalhar. Foi o copo d'água que custou-me minutos intermináveis, a cada gole ensaiava mentalmente o que diria; será que devia dizer que morava com o tio e que ele estava próximo de partir para a morada final, assim não teria como sustentar-me ou dizer que só desejava trabalhar para ajudar em meus estudos - continuei nessa ginástica mental até que o velho interrompeu-me perguntando se eu queria mais alguma coisa. Sem vacilar, respondi-lhe que precisava de um emprego. Sorrindo simpaticamente, disse-me que ali era uma lanchonete e não uma agência de empregos.

Minha reação foi ficar ruborizado, totalmente sem jeito e sem graça, não conseguia falar. Só observá-lo e imaginar se estava falando sério ou brincando. Percebendo minha timidez, disse que era brincadeira e que talvez dali alguns dias, para minha sorte,  abriria uma vaga, já que o atual ajudante seguiria para serviço militar. Aquilo acertou-me em cheio, será verdade, será possível que eu venha trabalhar aqui. Despedi-me cheio de euforia e prometi que na próxima semana daria uma passadinha por ali.

Não suportei esperar, já no outro dia, estava do outro lado da rua a observar meu primeiro emprego, era um pequeno bar e lanchonete muito simpático, o nome que estava na fachada dizia Bar & Lanches Do Portuga, numa esquina, quase em frente ao ponto de ônibus. Perambulei aquele quarteirão o dia todo, imaginando que já estava a trabalho, fazendo o quê, não sabia, mas sentia-me empregado. Assim passei uma semana, até que voltei lá e conheci com maiores detalhes o seu Domingos, após alguns esclarecimentos, deu-me um jaleco e pediu-me que providenciasse os ajustes necessários para eu usar. Saí pulando de alegria, ao chegar em casa corri para o quarto onde meu tio convalescia de uma doença cujo diagnóstico nunca soube, simplesmente acompanhava seu estado terminal. Muitas vezes havia chorado, pois era a única pessoa da minha família neste mundo e pelo jeito que as coisas andavam, muito em breve estaria sozinho.

Mostrei-lhe o uniforme e que amanhã começaria a trabalhar, olhou-me e com enorme dificuldade esboçou um minúsculo sorriso. Estendeu-me os braços, timidamente segurei-lhe as mãos junto ao meu peito, em sinal de amor e gratidão. Naquele instante não contive-me, lágrimas rolaram e cada vez mais quando vi o abatimento em seu rosto. Dei-lhe um abraço e corri para o tanque lavar meu uniforme, pois desejava estar bem arrumado em meu primeiro dia.

Pela manhã ao entrar no quarto, surpreso percebi que estava na mesma posição da noite anterior, estava imóvel, com as mãos abertas, um semblante de paz, ou até que enfim o fim, ao tocá-lo senti o que nunca desejei, havia "partido" dessa para a melhor. E agora meu Deus! Chamei a dona da pensão e corri para falar com a única pessoa que me surgiu durante o desespero, seu Domingos. Após ouvir meu relato, ligou para seu filho e pediu-lhe para ficar tomando conta dos negócios, pois tinha coisas mais importante para resolver. Ao ouvir aquelas palavras coisas mais importantes; surpreendi-me, que coisas seriam mais importantes do que ele cuidar da lanchonete. Entendi quando deu-me um abraço e disse-me que iríamos providenciar a última morada para meu tio. Sem muito entender, simplesmente o segui durante as tratativas que envolveram o funeral até o final da tarde, hora em que nós de mãos dadas rezamos enquanto o caixão era encoberto pela terra. Saímos dali e eu ainda confuso, totalmente perdido, pois via-me sozinho, sem ninguém para sustentar-me, sem ninguém para conversar, não tinha casa para voltar. Momentos em que sentimo-nos desamparados, ao léu, então a providência se faz presente na figura de um estranho que como um velho amigo nos estende a mão. Nesse astral, seu Domingos e sua generosidade acompanharam-me até a velha pensão, lá adiantou três meses de aluguel do quarto onde eu morava, e disse para a dona que seu inquilino era a partir daquele instante o ajudante geral do Portuga.

Assim foi meu início, ajudante geral, mesma função do Netinho, só que em tempos e circunstâncias diferentes. Mas muita coisa em comum, o meu desejo em retribuir ao meu ajudante o muito que recebi do seu Domingos, atenção, companheirismo, disciplina e principalmente levar uma vida digna, além da constante busca de valores acima da "mera" sobrevivência.

--Acorda vivente? - o Jordão batendo palmas em minha frente.
--Puxa, as lembranças às vezes nos transportam para outras dimensões, estava viajando em algumas do meu passado.
--Isso é bom, mas agora me serve uma gelada.
--Aquela famosa ou vai a marca diabo?
--A mais gelada, tô com a goela pegando fogo.
--Beleza, senta lá, vou pedir para o Netinho dar uma geral naquele canto.

Enquanto o Jordão se ajeitava em nosso recanto, conferia se estava tudo preparado para o final de semana, dias de maior movimento. Dei uma olhadinha nas carnes, nas bebidas e se a cozinha estava de acordo com nossa última conversa bacteriológica. Aumentei a carga de cervejas no freezer e pedi para a Jurema lavar os limões que eram muito utilizados pelos palpiteiros.

Hoje é uma sexta-feira, melhor dia da semana, pelo menos essa é a impressão que tenho, é quando meus clientes chegam aliviados da jornada semanal, e numa euforia sem limites põe-se a deixar a vida rolar. Observo-os, o semblante daqueles que chegam às segundas-feiras em nada se aproximam daqueles que chegam hoje; parecem até outras pessoas, vindas de outro mundo. Com a cara de alma lavada, dever cumprido ou com atitudes de agora sim, vou levar do meu jeito. E desejando ou não, acabo entrando no clima, por isso hoje eu vou levar do meu jeito..

--Falando sozinho Portuga? - interrompeu-me Jordão novamente.
--Hehheh... é que deixei alguns pensamentos em voz alta.
--Arrê... "cê" tá viajandão hoje... tomou alguma coisa... - sorriu Jordão.
--Jordão você já me conhece de longa data, o suficiente para saber que não sou dado a bebidas e outros estimulantes... sou um idealista que acredita na força dos pensamentos e nas emoções que alcançamos através deles...
--Arrepia Portuga, conta tudo, não me esconda nada... - Jordão pondo a mão em meu ombro.
--Em outras palavras, existe viagem melhor do que viver a vida, temos dias de intensa euforia variando para melancolia... em seguida, através dos pensamentos, descobrimos em nossas memórias que tudo resume-se em momentos partilhados, alguns tristes outros alegres, e que somos os responsáveis, através de nossas escolhas, em determinar que  momentos deveremos viver. Hoje determinei que a alegria será compartilhada entre meus amigos, dentre os quais você.
--Agora você me pegou pelas orelhas, deu algumas chacoalhadas, atirou-me no teto, e antes que eu chegue ao chão, chuta de primeira... lá do outro lado da rua, levanto-me, volto e digo... por que será que este lugar é minha segunda morada. Agora vê se economiza algumas palavras e me dá mais uma marca diabo bem gelada...
--Puxa! Pelo jeito você aprovou essa marca?
--Já que esta vida é um inferno... a cerveja tem que ser marca diabo... eheh... já criei até um slogan...

Após servir a cerveja, olho para a porta e quem vem lá:

--Boa noite Pedroso, como vai o nosso brilhante radialista.
--Boa noite Portuga, pelo jeito hoje você está radiante, algo especial?
--Sim, estou vivo e na presença de vocês, acredito que não preciso de mais nada para brindar a vida, que tal?
--É meu caro, hoje você promete, aproveita e traz uma cervejinha acompanhada de algumas azeitonas pretas, ok!
--Tá bom! Pergunta pro Jordão se ele deseja algum petisco.

Após receber o pedido do Jordão, queijo e salaminho, rumei para a cozinha, queria dar uma conferida na Jurema... isso mesmo, em dias de euforia eu dedicava alguns minutos para admirar aquela negra cujos dotes físicos não encantavam somente a mim, já testemunhara vários clientes arrastando as asas para o lado dela, sem no entanto obterem qualquer receptividade. A faz parte do jogo, eles sabem e ela mais do que ninguém. E eu, sem asas para a Jurema, pelos princípios platonicamente cultivava somente admiração pela sua magnífica beleza escultural.

Voltei para o atendimento e passei as últimas orientações ao Netinho, instante em que surgia mais um componente da mesa, o Bigode nosso publicitário e crítico ferrenho do sistema, mas nada de revoluções ou atos insanos, lutava pelas idéias, era fã ardoroso do ato de pensar. Acreditava que através de idéias inteligentes era possível revolucionar sem grandes tragédias, evitando-se assim repetir muitos erros que a história mostra. Em outras palavras, diria ser ele um livre-pensador, lutava contra os (pré)conceitos e bravamente pelo direito de todos terem uma opinião, assim como mudá-la por livre vontade a hora que entendessem por bem. Isso é que é ser democrático - imaginava eu.

Apesar de admirá-lo, confesso que era difícil compartilhar certas idéias, como a de ser ateu; era assim que ele se definia, sem no entanto atacar ninguém, respeitava a crença e a descrença de todos, inclusive a minha fé sem muita prática. Essas diferenças nunca foram empecilho para a harmonia de nossos encontros, ali naquela mesa, sentavam o católico, o ateu, o evangélico, o gnóstico, o espírita, e eu, crente em Deus e descrente das religiões. O fumante, o não-fumante, o bebedor de cerveja, o bebedor de soda, o bebedor de chimarrão, o bebedor de pinga... enfim diria que éramos uma pequena e eclética comunidade de sonhadores desejando maior brilho a condição humana.

--E aí Bigode, o de sempre?
--Tô com vontade de tomar um cafezinho, você tem?
--Sim, senta aqui no balcão para eu te confidenciar.
--Qual é o assunto?
--É que ao iniciar o expediente de hoje, deu-me um estalo e cheguei a conclusão de que o único ingrediente que não pode faltar nesse local é a higiene.
--Puxa Portuga! Isso tá na cara. Não é preciso nem comentar.
--Sim, sim! Sei da obviedade. Mas é que eu desejo fazer dessa tarefa evidente uma bandeira ou um slogan do meu estabelecimento. Assim, meu compromisso será diário e maior, revertendo um certo "marketing".
--Nossa! Pelo jeito você esta querendo mudar de ramo, por acaso quer concorrer comigo na publicidade? Gostei muito da tua sacada. Vou ver o que posso fazer para incrementar a tua idéia.
--Desde já agradeço, e tem outra, se estou tendo certas idéias a culpa não é minha, mas daquela mesa, é lá que personas como você ficam vendendo idéias, assim como um humilde ignorante tenho comprado muitas, agradeço-lhes de coração.
--Aíiiiiii meu parceiro! Gostei dessa. Para finalizar, não existe ignorante que não tenha algo a ensinar como não existe sábio que não tenha algo a aprender... é a vida... nada mais natural. Vou lá fora tomar o café e fumar meu cigarrinho, pois já vi que o Pedroso está na mesa e ele detesta cigarro.

Enquanto o pessoal deixava o papo rolar na mesa seis, eu atendia a clientela que na sexta-feira a noite parecia multiplicar-se por três, em determinados horários, a Jurema deixava a cozinha de lado e partia para o atendimento, era quando os gaviões abriam as asas e em vôos rasantes lançavam-se na ventura que conquistá-la, eram os mesmos de sempre, e sempre os mesmos insucessos, pois a nossa negra tinha atitude, e sem nunca dizer-me nada a respeito, acredito que partilhava do mesmo princípio que aprendi com o velho Domingos: onde se ganha o pão, não se come a carne. Assim, nunca a vi em situação que eu precisasse intervir; desdobrava-se em duas para bem atender, simpática e sorridente, ria das piadas, não dava corda para malícias, enfim estava muito satisfeito com a Jurema, essa satisfação era traduzida pela caixinha que eu distribuía entre ela e o Netinho semanalmente.

--É, essa sexta está memorável, vejam quem apareceu, puxa achei que tivesse batido com as dez graaandeee DaCosta. - gritei para todos ouvirem.
--É que perdi mais uma, aí aproveitei para dar uma boa descansada, além de fugir dos cobradores. Pois não há verba para pagar todos. Assim, dando tempo ao tempo e algumas fugidinhas, vou recompondo-me e aliviando os débitos.
--Puxa! Como você é teimoso, por acaso você não sabia que perderia novamente, você imaginava que havia chances para ganhar essa?
--Claro né! Posso ser louco, mas não sou burro. Tudo estava a meu favor, os números estavam do meu lado; mas quem decide é o eleitor e no dia da votação. Acato a soberania do voto. E aprendi mais uma estratégia que não dá certo. Já estou reparando-me para a próxima, daqui a dois anos....heheheh
--Vamos parar por aqui, lembra-se de nosso combinado, nada de intimidades entre os componentes da mesa?
--Acredito que sou caso a parte, já que ao tornar-me candidato, tornei-me um pretenso homem público. Mas tudo bem, vamos manter nossa cautela e praticarmos os princípios de palpiteiros que o velho Domingos nos legou.
--Vai pedir o quê?
--Tô com saudades daquele bife com presunto e queijo, coberto com um suculento molho de tomate com cebola que só você sabe fazer. É possível...
--Claro, vou pedir para a Jurema ficar aqui, enquanto preparo teu bauru ao prato, já levo o vinho lá na mesa, ok?
--E a Jurema cada vez mais Ju-re-ma... eheheheh... fui.

Esse é o DaCosta, o eterno candidato, já participou de uma dúzia de pleitos e nem perto. Mesmo assim não desiste, é seu sonho e com todo o direito deve perseguí-lo. É um camarada muito honesto, gosta de fazer política, qualquer evento lá está tentando vender seu peixe. Tem boas idéias, nunca soube ou pelo menos nunca deixou transparecer que era motivado por ambições econômicas que por ventura refletissem de algum cargo. Homem de palavra, sem muitas delongas para decidir-se em qualquer questão, aquilo que era sim era sim... ou aquilo que era não era não... talvez por isso tenha enfrentado dificuldades em angariar votos, pois sabemos que os eleitores, em grande maioria, acreditam mais facilmente em promessas mirabolantes do que numa confissão genuína de que certos desejos são inviáveis.

--Ei Jurema, onde você escondeu as cebolas?
--Lembra que o senhor determinou um novo local para guardá-las?
--Tá bom.

Estou a preparar o prato para o DaCosta que pede para eu fazer porque sabe que este prato é o meu favorito. Assim não tem como dar errado, pois pelo menos uma vez na semana, pratico essa culinária, bife (patinho, coxão mole ou alcatra) que é frito em separado com sal a gosto, enquanto preparo o molho com a polpa de dois tomates, uma cebola, alho, molho inglês, pimenta do reino e uma colher de sopa de extrato de tomate. Quando o molho já está no ponto, acrescento uma pitada de sal, após retiro o bife da frigideira e coloco uma ou duas fatias de presunto com uma ou duas de queijo, após uma leve gratinada, então, no prato que irei servir, coloco o bife coberto pelo presunto e o queijo, cubro com o molho... e pronto. Para acompanhar, queijo ralado, vinho, pão francês e conferir a reação do DaCosta...

--Portugaaaaaaa! - grita DaCosta.
--Faltou alguma coisa?
--Pa-ra-béns... dizer que ficou uma dilícia é muito pouco... está sensacional, onde você aprendeu fazer este quitute"?
--Começamos ao acaso, nos tempos do velho Domingos, a pedido de um cliente que nos passou aquilo que desejava degustar... desde então incorporamos no cardápio.
--Huuumm... tive uma idéia... a partir de hoje vou chamar de Prato do Portuga, já que é você quem faz, além de tê-lo como preferido.Topas?
--Vou pensar e se aprovar você verá no cardápio.

A noite corria animada, o pessoal da mesa seis reunido, eu e minha dupla de escudeiros nos desdobrando para atender as dezenas de clientes avulsos que surgiam aos bandos.  Um dos grandes motivos desse entra e sai nos finais de semana é pelo ponto de ônibus estar a cinco metros e o roteiro desta linha as baladas, então a turma aproveita para retocar a maquiagem, fazer um xixizinho, comprar um "halls", outros mais irados engolir umas doses de pinga, conhaque, vodka ou uma simples cervejinha. Todos recebem atendimento de primeira, não dou espaço para folgados e bagunceiros, inclusive recuso-me atender aqueles que já chegam turbinados. Ainda assim, com todo esse cuidado e com toda a diplomacia, há os encrenqueiros cuja missão parece única: arrumar confusão. Como um trio de travestis que vez por outra por ali aparecia; já havia pedido para elas baixarem em outro terreiro, sem no entanto ser ouvido, pois retornavam e em cada retorno o barraco se armava. Chegavam altas do chão e começavam a mexer com as garotas e garotos... eu possuía um cabo de machado, um daqueles de rachar qualquer um ao meio, que deixava embaixo do caixa, ao lado de um trinta e oito, heranças do seu Domingos, nunca soube que foram utilizados, mas era minha sensação de segurança, se preciso for, sem vacilar apelarei - imaginava. Até que um dia os travecos me tiraram do sério e pela primeira vez peguei o cabo e parti para cima deles; quando perceberam que eu estava além do limite, não retrucaram, baixaram a guarda e se foram, sem antes, qualificar-me com inúmeros palavrões indescritíveis. Fora esporádicos casos de rebeldia, o resto a gente leva na esportiva, sem muito estresse. Cultivo e semeio a paz. Não sou o único, assim como há os da rota contrária... é a vida de bodegueiro. (Fim do capítulo II)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Momentos para lembrar



Mais que mil palavras.
 

Momentos de eleitor

Promittere*

Quase todos sabem que trabalhamos cinco meses por ano para contribuir com a parcela de impostos. Esse dado absurdo para alguns parece não produzir o mesmo efeito aterrador à maioria da população, talvez pela forma paulatina que tais compromissos são inseridos na agenda dos contribuintes. Se tal cobrança fosse efetuada em cota única, isto é, trabalhar os primeiros cinco meses do ano sem levar nenhum centavo para o bolso, aí talvez as pessoas sentissem o impacto.

Pois facilmente perceberiam o volume de dinheiro que vai para os cofres públicos e como nossos gestores o administram. É muita grana, confesso que não tenho a mínima idéia da quantidade absoluta em Reais que isso significa, mas deve ser muita coisa mesmo, já que os administradores da estrutura estatal falam em salários de 35mil com naturalidade que não se vê na iniciativa privada. Imaginem que estrutura um pequeno empresário deverá movimentar para conseguir ganhar tal salário. Quantas horas de sono, suor e trabalho deverá sujeitar-se?

É com essas comparações que consigo entender porque nossos candidatos a homens públicos prometem como uns alucinados, talvez visando tão-somente uma renda sem muito suor. Esse raciocínio não é regra geral, cometeria uma injustiça com aqueles que em suas vidas tiveram uma trajetória genuína de homens públicos. É fácil perceber a diferença entre aqueles que fazem e os que prometem... descobri-la é a parte que cabe ao eleitor comprometido.

*Promittere: [Do lat. promittere, ‘atirar longe’; ‘propor’; ‘prometer’.]

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Movimento Eu Voto Distrital



O Voto Distrital é um sistema eleitoral que permite fiscalizar de perto o político eleito e assim podemos realizar as mudanças que desejamos ver no Brasil. É o cidadão com mais poder de decisão. Conheça. Assine. Mobilize.

PARTICIPE!


POR QUE EU VOTO DISTRITAL

1 Quero um representante que defenda os interesses do meu distrito e que não esteja no Legislativo para defender interesses próprios ou de corporações.

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2 Quero ter o poder de fiscalizar de perto a atuação do meu representante e de cobrar o seu desempenho.

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3 Quero ajudar a reduzir o gasto de campanhas, combater a corrupção e o caixa-2.

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4 Quero que meu voto sirva apenas para eleger meu representante. Não quero que meu voto sirva para eleger candidatos que não conseguem o número de votos necessário para se elegerem pelos seus próprios méritos.

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5 Quero um Legislativo forte e democrático, que recupere a credibilidade para legislar em prol do interesse público e não em causa própria.

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6 Quero votar no candidato de minha própria escolha. Não quero o voto em lista fechada, dando às oligarquias partidárias o direito de escolher quem será eleito.

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7 Quero ter orgulho do meu representante pelo trabalho que presta ao meu distrito e ao país. Não quero ser um eleitor que esquece em quem votou em um mês após as eleições.

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8 Quero que as lideranças locais tenham capacidade de disputar as eleições, com chances reais de vitória.

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9 Não quero dinheiro público financiando campanha eleitoral. Quero o dinheiro público financiando serviços públicos de qualidade para o povo brasileiro.

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10 Quero um sistema eleitoral que ajude a formar novas lideranças.

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Las tempestades

    
Las tempestades del oceano... no són nada delante las del alma...

Aqui está um ótimo exemplo para o que sejam minhas modas. Alguém perguntou-me  se eram roupas ou se eu era estilista ou costureiro. Nada disso. Modas é um termo que utilizo desde criança. Quando algum adulto perguntava por onde eu andava, respondia-lhe "inventando moda", isto é, brincando. Concluindo, modas dum diletante, nada mais singelo que brincadeiras dum apaixonado.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Três amigos, dois destinos

A história que relato a seguir é um clássico exemplo da facilidade que é tornar-se um alcoólatra.

Todos jovens adolescentes, cheios de gás e ávidos pela aventura. E assim fizemos, como andarilhos, cada um com sua mochila, rumamos a pé em direção aos dias de agito. Na bagagem somente o possível, uma barraca, duas peças de roupas, algumas latas de sardinhas e salsichas. No bolso, uma pequena soma de trocados, não tínhamos para esbanjar em besteiras, tais como salgadinhos, refrigerantes, entre outros. Foi um dia de caminhada e lá estávamos. Montamos o acampamento e fomos as compras, foram alguns pães para acompanhar os enlatados em nosso rango. Em seguida, saímos sem destino.
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Rodamos de um lado a outro, a orla estava lotada, uns bebendo cerveja, alguns comendo, outros tomando sorvetes e picolés. Eu olhava para todas aquelas bocas e imaginava quando voltaria a um lugar daqueles, mas com dinheiro para enfim deliciar-me. Seguimos em frente, em direção às peripécias marítimas.
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Entre o mar e a areia ficamos boa parte da tarde, de vez em quando bebíamos água para amenizar o gosto de sal. Ao anoitecer detonamos um pacote de refresco e pão. Após, planejamos o que seria a diversão noturna, restava-nos alguns trocados cujo valor era insuficiente para qualquer atividade disponibilizada aos turistas com dinheiro - bares, parques, boates, etc. Foi quando alguém sugeriu cachaça e assim faríamos a nossa balada.
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Só dois litros de pinga e iniciamo-nos na arte, o dono do bar ainda nos presenteou com  o gelo. Descobrimos ali, naquela bebida barata, a fonte do prazer e diversão. Tomamos como se fosse refrigerante, as conseqüências vieram depois, a ressaca no alvorecer, eu não podia mexer a cabeça, parecia que tudo estava frouxo. Passamos um bom tempo nos recuperando daquela doideira para no anoitecer, sem muitas opções, partirmos em busca da “marvada”.  Embarcamos novamente na bebedeira madrugada adentro; eu ficava muito zonzo, sentia-me horrível, não achava graça no primeiro trago, mas aprendi que o bom era depois do segundo e do terceiro, aí ninguém me segurava. Dá-lhe cana gelada, que refrescante, descia macio como fosse “di” veludo.
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Uieeeeêêê.......... Até que enfim descobrimos as delícias daquela poderosa água de fogo, tudo se transformava em minha volta, tudo ficava “as mil”, não nos faltava nada. Estávamos na praia, entre camaradas e tudo em alto astral. O resto que se exploda. Ficamos dez dias naquela dieta de pão, enlatados, água e muita, muita cachaça mesmo. Iniciamos com dois litros, e lá pelo final já estávamos consumindo quase o triplo. E não era só a noite, pois já acordávamos querendo molhar o bico. Assim continuamos até o retorno.
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Segunda-feira, após dez dias de intensas ressacas, perambulava próximo à praça Rui Barbosa. Lá pelas dez horas da manhã, uma coceira na goela começou a incomodar-me, lembrei-me da cachaça, que coisa terrível... vontade incontrolável... será que é isso mesmo -  indaguei-me. Atendendo o impulso, entrei no primeiro boteco e pedi um martelinho (copo pequeno), neste meio tempo, olhei para o sol brilhando lá fora, pessoas andando de um lado a outro pelas calçadas, ali no balcão outras com atitudes de quem estava trabalhando, assumindo seus compromissos, e eu pedindo cachaça, “pliiiiimm” naquele instante meu anjo da guarda cobrou-me uma atitude e gritou tão alto que escuto até hoje:
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“o que é isso companheiro! em plena segunda-feira, dia de São Pega e você querendo beber, logo de manhã, aonde você pensa que vai chegar com isso, consegue imaginar, então imagine-se numa trajetória de borracho*.
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Quando o rapaz trouxe o pedido, minha garganta ainda coçava. Estava com a boca salivando, em desespero para avançar naquele copo. Mesmo assim, dei ouvidos à minha consciência, levantei-me e saí apavorado, imaginando como é terrível lidar com essa vontade. Como é fácil deixar-se abater pelo álcool. Será que todos que são alcoólicos iniciam de maneira tão simples como a que se apresentou a mim. Senti-me muito assustado, pois foram meses com aqueles delírios pela falta da danada; fiquei um bom tempo longe de qualquer bebida temendo alguma recaída.
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Hoje, após décadas, ao relembrar o acontecido aos dois amigos que me acompanharam, lamentam porque não compartilharam também a segunda-feira e assim, quem sabe, o rumo de nossas vidas teria sido outro. Ambos são alcoólatras e sofrem internações constantes sem lograr êxito em suas recuperações.

*borracho > alcoólatra, adicto, viciado, ébrio, bêbado, pinguço...