domingo, 22 de fevereiro de 2015

Continuamos "povinho", aliás colônia

Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

O que o Brasil tem a aprender, de imediato, com a Alemanha? A resposta simples é: Muita coisa! Até o inesquecível vexame dos 7 a 1 na Copa do Mundo da Fifa de 2014, já cai, devagarzinho, no esquecimento cínico dos fracassados torcedores tupiniquins. Continuamos apáticos, burros e reacionários. Não demonstramos coragem e competência suficientes para mudar o modelo errado, implantando soluções corretas. Usando a imagem futebolística, continuamos prontos para tomar a próxima goleada.

Sabe quem é o terceiro exportador de café no mundo? A Alemanha. Por enquanto, perdem para o Brasil e para o Vietinã. Curioso é que eles revendem a maior parte do café produzido onde? No Brasil. Os espertos alemães, que nunca plantaram por lá um pezinho sequer de café, pagam uma média de R$ 400 reais pela saca de 60 Kg do café brasileiro que revendem pelo dobro: R$ 800. Trata-se de café puro, sem industrialização, do jeito que sai da fazenda.

Como ocorre este milagre alemão? A resposta é um de nossos defeitos econômicos fundamentais: alta capacidade logística e seriedade nos negócios. Em média, os alemães importam 18 milhões de sacas de café e reexportam 12 milhões. Das 6 milhões de sacas que sobram, são transformados nas caríssima cápsulas de nexpresso. Um quilograma de capsulas, se fosse vendido, valeria R$ 400 reais. O valor é 70 vezes o preço do café que sai cru daqui. Na conta da turma do "Fato Interessante", que fez a conta em uma videoreportagem, a goleada representa 70 a 1 - e não aqueles 7 a 1 para Alemanha que a gente vai chorar eternamente.

A Alemanha não joga apenas um futebol excelente - que a credencia como campeã do mundo. Os alemães formam cidadãos em suas escolas -inclusive as centenas especializadas em esportes -, com qualidade educacional comprovada. Têm indústria de base. Economia estável. Políticas públicas sociais focadas em poupança e produtividade, com recompensa para quem produz e trabalha. Conta com carga tributária mais justa. Tem um Judiciário que julga sem delongas e pune quem merece no tempo certo, impedindo impunidades e compensações criminosas. O alemão tem espírito de autodeterminação, que vai do pessoal ao nível do Estado Nacional.

Neste final de semana, uma reportagem de O Globo chamou a atenção sobre a maneira alemã de fazer política, temer dívidas e fazer poupança produtiva, diante do risco que a crise na Grécia oferece para a Zona do Euro. A matéria começa lembrando que o nada fácil idioma da quarta economia do mundo tem uma raiz semântica parecida para tratar do termo "dívida". O economista Tobias Hentze, do Instituto de Pesquisas Econômicas de Colônia, ensina: “Schuld”significa culpa, e “Schulden”, dívida. No Brasil, onde ninguém no desgoverno sabe de nada, ainda perguntam, com cinismo: "Tem culpa, eu?!".

A reportagem cita como a Alemanha, destruída na II Guerra Mundial, soube usar sua base tecnológica para voltar a se desenvolver, quando o governo introduziu o conceito de Soziale Marktwirtschaft, a economia de mercado social, que permitiu incentivos razoáveis às empresas, mas também aos cidadãos e suas famílias. Enquanto aqui no Brasil o desgoverno faz farra com a nossa poupança, na Alemanha os cidadãos poupam: "Em julho passado, pesquisa da Associação dos Bancos Alemães indicou que 35% do alemães entre 18 e 59 anos têm o hábito de guardar até € 100 por mês, e 25% se esforçam para poupar até € 200. O motivo? Nada de construir patrimônio ou fazer compras exorbitantes: 53% pensam em uma emergência — enquanto apenas 1% dos entrevistados contaram que poupam para viajar".

Na Alemanha, nas redes sociais, os cidadãos promovem os grupos de troca-troca, como o Free Your Stuff (Liberte suas coisas), no Facebook. Na visão dos alemães, o negócio é conter o consumismo, justamente em um país altamente industrializado. Já no Brasil, onde a indústria patina feio, somos obrigados a ouvir o mito em decadência Luiz Inácio Lula da Silva proclamar os prazeres do consumismo em uma recente videoconferência para italianos. Conforma a propaganda petista viralizada: "Lula falou sobre como as políticas de transferência de renda realizadas nos últimos 12 anos incluíram os mais pobres e mostraram que eles não são um problema, mas protagonistas das soluções". O craque Lula defendeu seu bolsa voto (perdão, seu bolsa família) - coisa que passa longe da cabeça dos alemães que nos goleiam.

Sem redundância, continuemos a falar de um fdp. Se alguém chamar um brasileiro por tal abreviatura de baixo calão, ele fica brabo e, geralmente, parte para a porrada. Se você fizer o mesmo com um alemão, a sigla FDP pode ser encarada como um elogio. Por lá, FDP significa Freie Demokratische Parte (Partido da Livre Democracia). Mais conhecido como Freie Demokraten, desde 1948 pratica um discurso liberal clássico que foi fundamental para a reconstrução do País no pós-guerra e para consolidar a liderança que tem hoje na Europa. Atualmente presidido por Cristian Linder, o FDP defende liberdade e auto-determinação. Os dois conceitos, junto com democracia (segurança do Direito), são tudo que o Brasil precisa para tomar um rumo correto em sua história.

Na política alemã, a liberdade tem força real e objetiva. Os pilares centrais do FDP são a regra liberal de Direito e a economia social de mercado. Os alemães trabalham com programas partidários bem definidos para cada conjuntura. Também pregam, claramente, que a individualidade deve ser respeitada pela Política. É exatamente o contrário do que pregam as teorias coletivistas, socialismos, comunismos e por aí vai - que tão facilmente seduzem os brasileiros, principalmente os de pouco estudo e reduzida leitura ou os que até lêem bastante, porém enchem a cabeça de ideias fora do lugar, inadequadas a nossa realidade brasileira.


Na mesma Alemanha, avança um pequeno partido com grandes ideias e ideais: o Freiheit Deutschland Partei - ou Partido Livre Alemão, mais conhecido como The Freedom (Die Freiheit), de linha conservadora liberal. Foi fundado em outubro de 2010, pretende ser até mais liberal que o tradicional FDP. Os alemães de bom senso percebem que não existe outra saída política mais viável, honesta e, por que não dizer, pragmática. Bem diferente dos brazucas, de mentalidade Estado dependente, que aguarda os favores vindos da máquina estatal, o que abre brechas constantes para autoritarismos, abusos de poder e a consequência que as viabiliza e reatroalimenta: a corrupção sistêmica institucionalizada.

Na visão dos FDPs alemães, a autodeterminação deve ser entendida e praticada em todas as esferas da vida - pública e privada. O foco é na educação para que as pessoas saibam como progredir através de seus próprios esforços, com forte atuação política e respeito real aos direitos humanos, sem as demagogias que somos obrigados a aturar no Brasil. Esta visão alemã tende a evoluir se compreendermos os novos tempos de um mundo interligado e interativo, onde mais vale a capacidade de distribuir (ideias, conceitos, exemplos, atitudes, recursos, conhecimento, etc) que apenas "participar" (como prega o discurso coletivista).

A liberdade individual é a base para que possamos evoluir em rede - definida como o fluxo interativo de convivência social. Os sistemas centralizados (coletivistas) e descentralizado (Estado influindo menos, mas ainda atrapalhando por excesso de regulações inúteis) precisam ser substituídos pelo novo sistema Distribuído. Ele consiste na interação, que acontece em tempo real, sendo determinada pela qualidade do fluxo de convivência das pessoas. Tudo que interage tende a se aproximar, em um fenômeno mundialmente definido como clustering, que viabiliza a chamada "inteligência coletiva" - ou swarming. Transformar esta inteligência em sabedoria é o desafio.

A sociedade que não evoluir nesta direção está ferrada! Então, aparentemente, o Brasil está ferrado! Por isso, não tem outro jeito. Temos de partir para um aprimoramento institucional urgente. Uma intervenção constitucional teria efeitos rápidos e duradouros para a implantação imediata do regime republicano e federativo de verdade - que nunca tivemos aqui, apesar da nomenclatura. Junto com ela, uma reforma política, para garantir representatividade dos eleitos, reduzindo, drasticamente, os fatores geradores de corrupção: o alto custo operacional dos parlamentos e o absurdo "investimento" para se eleger alguém.

A adoção do voto distrital e do distrital misto é o caminho. Elejam-se os mais votados. A campanha eleitoral, em caráter mais local, também deve ser simplificada e barateada ao máximo. O voto precisa deixar de ser obrigatório. Também é fundamental a diminuição do número de senadores, deputados e vereadores, permitindo apenas uma reeleição, para não gerar "vínculo empregatício permanente com a função pública. Os políticos profissionais podem chiar, mas não tem outro jeito. O ganho deles, e o gasto com eles, é fora de propósito. Além disso, escolhidos graças ao financiamento de esquemas espúrios, eles só alimentam a corrupção sistêmica - que precisa ser duramente combatida pelos cidadãos.

O Brasil precisa mudar com urgência. Do jeito que está, ninguém aguenta mais, exceto os corruptos, os loteadores dos poderes públicos e os eleitores que se beneficiam das práticas clientelistas. O Brasil tem muito a aprender com a Alemanha! Claro que tem. No entanto, antes precisa aprender consigo mesmo. Cada brasileiro precisa tomar vergonha na cara e cumprir seu papel para melhorar isto aqui. Todos podem ser responsáveis pelo sucesso, da mesma forma como são culpados pelo fracasso.

Resumindo: Seriedade no setor público, com segurança do Direito e regras claras a serem cumpridas conscientemente pelos cidadãos, são a chave do sucesso no mundo globalizado dos negócios.

Moral da História: Temos muito a aprender com os FDP dos alemães, enquanto torcemos e pressionamos o nosso judiciário a mandar os fdp daqui para o parlatório da penitenciária.

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