terça-feira, 4 de setembro de 2012

Blog do Prof. Janer Cristaldo

Gilrikardo disse: LEIO, RELEIO, TRELEIO E RECOMENDO 
ESTE "BAITA" BLOG, CONFIRAM O PORQUÊ!
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PT INAUGURA BAIXARIA ELEITORAL COM POEMA DE MÁRIO QUINTANA

O Mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...


Se há algo que não entendo, são os partidos que lutam a tapas por segundos no horário eleitoral. A luta é tão ferrenha, que leva um Lula a abraçar seu colega de corrupção Paulo Maluf, em foto nacionalmente divulgada. Não que dois corruptos não se beijem. É que um se corrompia pela direita. O outro pela esquerda. Em nome de uma suposta divergência ideologia, ainda mantinham algum pudor que lhes proibia a confraternização.

Isto eu entendo. Difícil é entender que alguém perca seu tempo vendo propaganda de políticos. E mais ainda: tomando decisões de voto a partir da mentira eleitoral. Se horário eleitoral é baixaria, os limites da baixaria ainda não haviam sido transpostos.

Leio nos jornais que o PT vem inovando no horário eleitoral com a apresentação de poemas de reconhecidos escritores. Declamado por Olívio Dutra, ex-governador do Estado e ex-prefeito da capital, o poema "o Mapa", de Mario Quintana foi apresentado ao final do programa petista.

Coube ao PT gaúcho inaugurar a baixaria. Imaginem se a moda pega. Mais dia menos dia teremos o PSOL citando Fernando Pessoa, o PSTU citando Shakespeare e o PC empunhando o Jota Cristo.

Que outros escritores o PT está utilizando para vender seus peixes podres, não sei. O que leio é que cometeu um crime de lesa-literatura ao declamar Quintana. Que tem a ver o poeta, que morreu pobre e sempre se manteve afastado das imundícies da política, com os projetos mentirosos do PT? Que tem a ver um poema de amor a Porto Alegre como “O Mapa” com as baixarias do mais corrupto partido do país?

Que busquem escritores ou poetas entre os de sua extração. Porto Alegre produziu vários deles. Sem ir muito longe, Josué Guimarães, o corajoso escritor que foi a Pequim e Moscou em 52, apenas três anos após a affaire Kravchenko, escreveu um livro sobre a viagem – As Muralhas de Jericó - e nada nos disse sobre os gulags. Pelo contrário, só viu manhãs radiosas para o regime que estava matando russos aos magotes.

Ou Sérgio Faraco, outro valente. Que quase morreu internado em regime de reclusão, numa clínica de reeducação em Moscou, em 64, e só ousou contar suas peripécias em 2002, quando publicou Lágrimas na chuva: uma aventura na URSS. Sua coragem foi um tanto tardia. Só manifestou-se quase meio século após os fastos e treze anos após a queda do Muro.

Olívio Dutra poderia também citar algum trecho de Erico Verissimo, o escritor que perguntou a Faraco se não pensava escrever sobre sua estada na União Soviética. "Respondi que, de fato, tinha essa intenção, embora minha experiência não fosse edificante. Ele ficou pensativo, depois disse que, se era assim, talvez fosse ainda menos edificante narrá-la, enquanto vivíamos, no Brasil, sob uma ditadura militar. Ele tinha razão" - diz Faraco.

Ora, os militares lutavam para que o Brasil não virasse o imenso gulag que o futuro escritor então testemunhara. Em função de um regime que jamais o pôs na prisão, mesmo sendo comunista, Faraco silencia sobre o regime comunista que o internou em um hospital psiquiátrico, mesmo sendo comunista.

Outro escritor citável numa campanha do PT é Moacyr Scliar, que recebeu em Cuba, em 1989 – justo quando o comunismo desmoronova - o prêmio internacional Casa de Las Américas, conferido pela mais antiga ditadura da América Latina. Neste sentido, Scliar fecha com o PT: jamais disse um pio contra a ditadura cubana.

Sem conhecer o horário do partido, pergunto-me se o PT não cita um de seus atuais próceres, o capitão-de-mato e governador Tarso Genro, doublé de poeta e agitprop, cujo estro foi revelado em sua obra semental, Luas em Pés de Barro. Sem ser petista, já publiquei neste blog alguns poemas de sua juventude:

A vovó Cacilda parecia uma patinha e a vovó Julica elétrica e risonha conversava com lagartos

Quanto te esperei e quanto sêmen inútil derramei até o momento

Em Cuba planta-se cana

Olívio Dutra poderia também citar um dos mais clarividentes escritores gaúchos, Antônio Pinheiro Machado Netto, autor de Berlim: Muro da Vergonha ou Muro da Paz?, edição da L&PM, com terna homenagem em suas primeiras páginas a Luiz Carlos Prestes.

Tendo visitado por duas vezes a URSS, a convite do Comitê dos Partidários da Paz na União Soviética, e uma terceira vez a Tchecoeslováquia, pela Assembléia pela Paz e pela Vida, e sentindo-se na obrigação de pagar suas mordomias em alguma moeda — desde que não dólares — nosso turista apressado entoa loas ao muro que durante três décadas constituiu o mais sinistro e desumano marco erigido pelo comunismo russo. Pincemos, cá e lá, alguns trechos desta cretina defesa do totalitarismo. O livro foi editado em 1985, quatro anos antes da queda do Muro, seis anos antes do desmoronamento da União Soviética.

Hoje não se pode mais falar em reunificação da Alemanha, pura e simplesmente, com fundamento tão somente na língua e história comuns. (...) Não se pode, todavia, afastar a hipótese de, num futuro mais ou menos remoto, vir a ocorrer a unificação (como aconteceu no Vietnã). Esta hipótese, porém, só pode ser considerada se na chamada Alemanha Federal — RFA — passar a existir também um regime socialista.

Uma das maiores bobagens veiculadas no Brasil sobre o Muro de Berlim é que ele foi erguido para evitar as fugas de alemães da RDA para a parte oeste de Berlim. Esta asneira é veiculada até por pessoas que gozam de alguma credibilidade no Brasil, e por órgãos de comunicação, que se apresentam como veículos fiéis à verdade.

Todos os epítetos lançados contra o muro — afronta à liberdade, vergonha, etc., etc. — escondem apenas o ressentimento e a frustração dos fazedores de guerra que, naquela linha de fronteira, viam o começo da terceira guerra mundial por que tanto sonham, e para cujo deflagrar tudo fazem, com vistas a salvar o capitalismo da crise irreversível em que está mergulhado.

É natural que na RDA e nos demais países socialistas a tendência seja a diminuição do índice de criminalidade, de vez que as infrações penais que têm origem na miséria, numa vida difícil e atormentada, com dificuldades econômicas e financeiras, tendem a desaparecer por completo nos países socialistas, e muito particularmente na RDA.

Mas, decorridas quatro décadas, essa mesma Alemanha Ocidental — eis a grande verdade — não resolveu problemas vitais do povo alemão que vive na região ocidental. Mais do que isso. Hoje a República Federal da Alemanha — RFA- , como todo mundo capitalista, é um país atormentado por uma crise de vastas proporções, crise política, econômica, social e moral.

A realidade alemã ocidental hoje reflete a crise que avassala o sistema capitalista. Na RFA a situação social também vem se agravando. Progressivamente aumenta a pobreza. Os sindicatos da RFA estão prevendo que até 1990 cerca de 100 mil pessoas perderão seus empregos, atualmente, por força da automação. Afora, evidentemente, o desemprego resultante da crise do capitalismo que existe na RFA e em todo o ocidente capitalista, e que vai continuar.

Os meios de comunicação de massa do Ocidente já “decretaram” que nos países socialistas não há liberdade para os cidadãos e que, especialmente, inexiste liberdade de imprensa. Também “decretaram” que os direitos humanos não são respeitados no mundo socialista.

Daqui cinco anos (ou seja, 1990, parêntese meu), na RDA, não haverá mais desconforto habitacional — todas as famílias terão sua casa.

Porque Olívio não cita homens com tal tirocínio? Há uma longa linhagem de pensadores de esquerda em Porto Alegre que o PT pode utilizar em seu proselitismo. Poetas, jornalistas e ensaístas gaúchos, da mesma extração petista, é o que não falta ao partido para citar em seus programas.

Deixem em paz o poeta do Alegrete, que nada tem a ver com política e muito menos com a politicagem do PT.