sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CAMARADAS


CAMARADAS, de William Waack - Companhia das Letras / Biblioteca do Exército - Rio de Janeiro - 1993. O brilhante jornalista global nos brinda com uma obra irretocável sobre a primeira tentativa de comunização do Brasil- A Intentona comunista de 1935. A sua exposição é toda documentada, principalmente, nos arquivos secretos da KGB, da ex-União Soviética, dos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.
As incursões sobre o material se iniciaram após contato com o filho mais moço de Luis Carlos Prestes , Iuri, que trabalhava  na Embaixada do Brasil em Moscou e lhe havia falado sobre suas perambulações em arquivos que haviam pertencido a inúmeras instituições soviética. Ele (Iuri) suspeitava haver, ali naqueles escritos, a história do comunismo no Brasil.
Sem dúvida uma obra de fôlego jornalístico e riquíssima em fatos históricos que desmentem e reafirmam inúmeras passagens sobre o que ocorreu em 1935 no nosso país. O autor não romanceia nem lança mão de expedientes que possam dar margem a dúvidas ou interpretação ao leitor. Mostra o material obtido com precisão, transparecendo uma obra de ficção do ramo da espionagem, porém real.
Duvidar-se da veracidade dos dados apresentados? Acho que não, pois a credibilidade de William Waack nos dá um atestado de boa conduta antecipada e os dados colhidos e trabalhados nos mostram com solidez uma realidade cada vez mais cruel daqueles que tentaram trazer o regime comunista para as terras brasileiras. Homens e mulheres de todos os tipos, mas todos com uma característica marcante, muito bem apresentada na frase de Brecht exposta no início do livro: “ ...quem luta pelo comunismo  tem  de todas as virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo.” Pessoas apátridas  que não titubearam em colocar o Brasil na esfera  da URSS e que negaram muitas vezes suas intenções. Os que ainda sobrevivem naquela miragem e seus seguidores também.
A apresentação é muito consistente e é difícil negar o que ocorreria no Brasil com a implantação do marxismo a la soviete via PCUS.
O Komintern. O autor traça em detalhes a organização, arregimentação e controle de militantes, doutrina e modus operandi desse poderoso órgão da extinta URSS e PCUS. Desde o local de recepção, um pequeno hotel, passando pela Escola de dirigentes, o Serviço de Ligações Internacionais, a Comissão Internacional de Controle até seu real interesse pelo Brasil e como se processou a  orientação para a revolução que conduziria o Brasil ao comunismo. Dedica uma parte especial ao Exército Vermelho e seu IV Departamento. Um famoso escritor gaúcho caiu nessa.
O ouro de Moscou. Como parte do suporte financeiro do PCUS, Waack recupera o trajeto desse apoio em intricado roteiro até chegar ao Brasil , via Argentina, nas mãos de agentes soviéticos instalados como comerciantes no Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires.
Prestes. A situação de Prestes está muito bem definida em todo o livro e suas ações validam seu caráter e procedimentos até 1964, quando tentou mais uma vez comunizar o país. O livro revela-o uma pessoa decidida, de sangue frio, fiel á URSS e ao comunismo internacional e não ao Brasil, tanto que seguidamente ia a Moscou prestar contas e receber mais apoio político e financeiro. Numa destas idas, voltou com Olga, escolhida pelo Komintern para responsabilizar-se pela segurança daquele que iria desencadear a revolta comunista.
Olga. Não era uma moça como está sendo pintada num filme nacional e sim uma agente do IV Departamento do Exército Soviético, a área de espionagem militar. Era de total confiança de cúpula do Komintern e do IV Departamento do Exército Vermelho, por isso recebeu a incumbência de responsabilizar-se pela segurança de quem iria, cumprindo as ordens de Moscou, desencadear a revolução no Brasil- Prestes. Sua situação matrimonial está muito bem contada e não deixa margens a dúvidas. Mas foi entregue por Prestes a DIP e deportada para a Alemanha. Além de judia alemã, havia sido espiã soviética na Alemanha. Seu destino não poderia ser outro senão a câmara de gás.
Os assassinatos. Os comunistas brasileiros não vão gostar do que Waack descobriu e transcreveu. Aliás, o livro foi lançado na década de 90 e até agora poucas foram as manifestações, muito típicas de uma ideologia que costuma esconder e glamourizar seus crimes. Os crimes a mando de Prestes, ou justiçamentos como diziam, estão lá, inclusive de Elza.
As redes. Não eram conjecturas quando falava-se de uma conspiração internacional para uma revolução comunista no Brasil. Os diálogos entre Prestes e os agentes soviéticos no Brasil e entre estes e seus próceres russos revelam uma rede de espionagem  muito bem montada e de grande envergadura.  Como diriam: coisas de profissionais.
A inquisição. Esta parte do livro é muito esclarecedora e como todo ele reveladora da faceta cruel do comunismo internacional: não deixam marcas e procuram apagar pegadas. É como a lei dos traficantes de drogas: não cumpre morre. Falhou, morre. Um relato duro a partir das leituras de relatórios dos agentes infiltrados, telegramas, mensagens diversas entre o Komintern e seus agentes no Brasil ou implicados na fracassada tentativa. Tal procedimento se deu com todos que desejavam sair do movimento e já haviam participado de qualquer atividade comandada pelo Komintern, principalmente no exterior. O julgamento era sumário e a sentença rápida e cruel.

Um livro elucidador.
Flavio MPinto
Porto Alegre RS / 60 anos
FLAVIO MPINTO
Porto Alegre/RS - Brasil, 60 anos