segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A história da insulina


Posted by Dr. César Giral


O marco mais importante no controle do diabetes foi a descoberta da insulina. Tragicamente, antes que o produto fosse acessível para uso médico, a expectativa de vida de crianças e adultos jovens com diagnóstico de diabetes tipo 1 era de apenas alguns meses, e a condição era “tratada” basicamente por meio de restrições alimentares. Colapsos sistêmicos dolorosos seguidos de morte eram as terríveis perspectivas diante de uma pessoa com a doença.

Mas a esperança começou a surgir no final do século XIX, quando vários cientistas -principalmente na Europa- descobriram que o pâncreas produz uma substância que controla o metabolismo dos carboidratos e tentaram obter um extrato para o tratamento da doença. Um dos mais ilustres entre esses cientistas, Dr. Nicolae Paulescu, era um brilhante médico e professor Romeno. Sua pesquisa mostrou conclusivamente que o diabetes em cães poderia ser tratado com um extrato de pâncreas bovino. Ele nomeou esta substância de “Pancreina”. Embora ainda não pudesse ser usado em seres humanos, Paulescu estava fazendo grandes progressos – até que, em 1916 a ocupação alemã de Bucareste interrompeu seu trabalho. Foi apenas em 1921, no final da Primeira Guerra Mundial, que ele pode publicar suas descobertas.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, Dr. Frederick Banting, um cirurgião ortopédico Canadense, esteve envolvido na pesquisa que levaria ao desenvolvimento da insulina para salvar vidas humanas. Com a colaboração dos professores John Macleod, da Universidade de Toronto, no Canadá, e Charles Best, um jovem brilhante em ascensão, ele começou suas investigações em maio de 1921.

Na fase inicial de seus estudos, Banting e Best demonstraram que, dando para cães com diabetes um extrato pancreático – o qual nomeou “Isletin” – seus níveis glicêmicos foram reduzidos e os sintomas aliviados. No final de 1921, a equipe cresceu com James B. Collip, bioquímico, que se juntou aos demais. Ele seria fundamental na purificação da “Isletin” para o uso humano.

Janeiro de 1922 marcou o início de uma nova era, que traria uma esperança imensa e sem precedentes para indivíduos com diabetes tipo 1. Um menino de 14 anos de idade chamado Leonard Thompson estava quase morrendo pela doença em um hospital de Toronto. A decisão tomada foi de que ele seria o primeiro ser humano a receber uma injeção de Isletin, usando a mesma fórmula que tinha sido administrada a Marjorie, um dos cães nos experimentos. Em 11 de janeiro, Leonard foi injetado com o extrato de pâncreas bovino, mas sua condição piorou quando ele sofreu uma reação alérgica severa e então, entrou em coma. James Collip luta para purificar ainda mais a fórmula, já que a vida do menino estava em jogo.

Doze dias depois, no dia 23 de janeiro de 1922, Collip acredita que o extrato melhorado agora vai funcionar, embora saiba que o corpo judiado do jovem Leonard não será capaz de resistir a erros. A segunda injeção é administrada e o sucesso é completo no momento em que Leonard sai do coma mostrando grande melhoria! E assim começou uma nova glória na gestão do diabetes.

Por esta importante descoberta, Frederick Banting e John Macleod receberam o Prêmio Nobel de Medicina de 1923. Em reconhecimento a sua participação e contribuição, Banting dividiu seu prêmio com Charles Best enquanto que Macleod, por sua vez, dividiu com J. B Collip.

Em uma primeira etapa, dois grandes laboratórios lançaram esforços para chegar a fórmulas que seriam progressivamente mais bem sucedidas para os seres humanos: Ely Lilly foi a primeira a lançar comercialmente insulina, chamada “Iletin”.

Tendo em conta que muitas injeções diárias de insulina eram necessárias para controlar a doença, o novo foco de investigação foi encontrar maneiras de prolongar seus efeitos. Em 1930, foi encontrada uma solução através da adição de substâncias tais como a protamina e zinco.

Uma nova e importantíssima fase surgiu em 1978 com a produção de insulina com procedimentos de engenharia genética. Desde então, os análogos de insulina têm sido desenvolvidos, melhor adaptados à fisiologia humana, e também o modo de administração vem sendo aprimorado, melhorando o controle do diabetes e reduzindo as complicações.

Infelizmente, a História da Insulina ainda não tem um final feliz. Noventa anos após a sua descoberta, centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo não têm acesso à insulina, morrendo precocemente e sofrendo todos os tipos de complicações dolorosas.

Em 2007, a Organização das Nações Unidas declarou que o dia 14 de novembro seria reconhecido como o “Dia Mundial do Diabetes”, em homenagem ao aniversário de Frederick Banting. Sem dúvida, o grande cientista estaria triste em saber que ainda agora, no século XXI, preciosas vidas humanas são perdidas para o diabetes, simplesmente porque eles não têm acesso à sua valiosa descoberta.

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