sábado, 28 de janeiro de 2012

Paradoxo ortográfico

Gilrikardo disse: Engraçado que aqui no Brasil parece que ninguém tem coragem de se manifestar contra esse acordo, pelo menos eu desconheço qualquer iniciativa com esse fim, se alguém souber de algo parecido por favor comunique-me. Eu simplesmente tenho ignorado, tô nem aí, continuarei escrevendo da maneira que aprendi muito antes de tal alteração na língua portuguesa que ao passar dos tempos, e em todas as línguas foi assim, terá mais uma filha: a língua brasileira. Sobre isso já havia manifestado-me em um post  14 OUT 2011 (LEIA) , bem agora fiquem com a opinião dos portugueses sobre o assunto, em tempo, como não tem similar movimento no Brasil, somei forças ao movimento português e adotei o selo em meu blog, NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO. Parabéns portugueses, e acordem brasileiros!

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Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue!

Do site: http://ilcao.cedilha.net/

O presente texto foi escrito independentemente do novo acordo ortográfico, ou seja, obedece, ao mesmo tempo, às normas linguísticas anteriores e posteriores a esse acordo. É, por isso, uma espécie de exercício de resistência passiva a uma ortografia que se tornará obrigatória em 2015. Confesso, no entanto, que o resultado foi garantido à custa de um dos populares conversores que habitam a internet. De todo o modo, o processo foi surpreendente: num texto corrente com mais de trezentas palavras, não fui obrigado a substituir nenhuma.

Este modesto e afortunado exercício constituiu a comprovação empírica de algo que eu intuía. Do acordo ortográfico de 1990 (não tão novo como isso), pode dizer-se uma coisa que vale para a generalidade das pessoas: é pior do que o pintam os seus pais e amigos, mas melhor do que querem fazer crer os seus inimigos jurados. Para o bem e para o mal, o acordo não irá alterar o modo de falar e escrever português em Portugal, no Brasil ou em qualquer outro país lusófono. Todos sabemos que as especificidades do uso de uma língua excedem largamente a grafia.

Estou certo de que o público brasileiro continuará a preferir, em geral, obras e textos escritos em português do Brasil, bem como tradutores e intérpretes que usem esse português na construção frásica, na escolha de vocábulos e, claro está, na pronúncia. Do lado de cá do Atlântico acontecerá, seguramente, o inverso. Nada disso retira uma certa utilidade à unificação da grafia, sobretudo para as editoras e em documentos oficiais. Mas essa unificação é imperfeita, visto que o acordo admite que muitas palavras se escrevam de duas maneiras diferentes.

Porém, o que me causa maior perplexidade no acordo é a mudança de grafia de palavras que se escreviam da mesma maneira em Portugal e no Brasil. “Abjecção” e “acepção”, por exemplo, passam a escrever-se, em Portugal, “abjeção” e “aceção”, mas continuam a escrever-se à maneira antiga no Brasil. Esta nova divergência resulta de a consoante suprimida ser muda para os portugueses e pronunciada pelos brasileiros. Em nome da fonética, que é e continuará a ser diferente nos dois países, torna-se agora diferente, paradoxalmente, a grafia das palavras.
Rui Pereira

[Transcrição integral de artigo da autoria de Rui Pereira publicado no jornal "Correio da Manhã" de hoje, 26.01.12. Destaques e sublinhados nossos.]

Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito e são por definição de interesse público.