sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O mendigo e a comissão da verdade

Gen Div R-1 Newton Álvares Breide

No final da década de 70, este jovem tenente cursava a Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro. Ao retornar para casa, sempre encontrava na esquina da Belfort Roxo com Nossa Senhora de Copacabana, um mendigo de boa aparência, cerca de quarenta anos, mas com uma chaga na perna de dar dó. A ferida aberta ia do joelho quase até ao tornozelo. Ele, sentado na calçada, na passagem das pessoas, recebia esmolas de quase todos os transeuntes.

O desconforto que me causou a situação daquele coitado não me parecia possível resolver com apenas alguns trocados. Minha consciência pedia mais!

Na farmácia mais próxima comprei esparadrapo, gaze, água oxigenada, pomada secante, sulfa e coisas do gênero. Com a simplicidade de quem acha que está ajudando, agachei-me e entreguei a ele a sacola com os medicamentos. Sua reação ficou gravada na minha memória para sempre. O tom de voz só era suplantado pelo olhar odioso que me destinou quando deixou fluir sua raiva ao dizer mais ou menos o seguinte: "Qual é a sua, cara? Quer acabar com o meu ganha-pão? Some daqui com essa porcaria!"

A ficha caiu. O falso mendigo queria manter a ferida aberta para sempre. Não lhe interessava ética, verdade, trabalho digno ou qualquer outro sentimento nobre. O vil metal, abocanhado com facilidade, fazia com que enganasse as pessoas com sua pretensa condição de desassistido e injustiçado pela sociedade. Ao longo daquele ano, quando passava pelo seu ponto privilegiado, ele sorria com sarcasmo e deboche.

O comportamento da Comissão Nacional da Verdade (CNV) é similar ao do falso pedinte. Não interessa a seus integrantes e àqueles que a criaram a pacificação que a Lei da Anistia propõe. A chaga tem de continuar aberta e sangrando para render polpudas indenizações a uns e menosprezo a outros! Acusações sem provas, ilações infundadas, dúvidas risíveis e condenações sem direito ao contraditório e à ampla defesa maculam qualquer resquício de verdade que possam ter obtido.

Os crimes abjetos e violentos do terrorismo e da guerrilha – causa – foram esquecidos pela CNV. Só são lembradas as inconformidades da lídima repressão do Estado – consequência. Entretanto, sempre é bom lembrar que só ao Estado é dado o direito de emprego da força na sua autodefesa, quer seja a ameaça externa ou interna.

Em respeito à inteligência dos leitores, nem vou tratar do escopo ideológico da luta armada imposta ao Brasil pela esquerda radical. Até a velhinha de Santo André, que jura não ter o PT qualquer envolvimento na morte do Celso Daniel e no aparecimento de mais sete cadáveres, não engole o subterfúgio ardiloso de que as organizações terroristas lutavam pela democracia.

A sanha ideológica espúria que pautou a criação da malsinada CNV, estribada no revanchismo, produziu, tão somente, a versão fantasmagórica daqueles que pretendem mudar a história, transformando guerrilheiros, terroristas e outros criminosos em paladinos do bem.

A acusação pusilânime contra os generais presidentes é prova cabal da leviandade, parcialidade e má fé que de forma perene estão amalgamadas no seu relatório final.

O contundente absurdo, entre outros, vem com a proposta de um pedido de desculpas das Forças Armadas. Desculpas por ter evitado a "cubanização" do Brasil? Ou por impedir a nossa transformação em uma "maravilha bolivariana" onde a população não tem, sequer, acesso aos artigos de primeira necessidade?

Felizmente, essa ridícula proposta será atendida quando o sargento Garcia prender o Zorro ou os Comandantes das Forças Singulares se tornarem covardes. A probabilidade é a mesma!