quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Em dias de brrrrrrr....

Nasci e me criei na região serrana (Lajes SC, Lagoa Vermelha RS e Vacaria RS). Foram duas décadas de invernos, ventanias, geadas e neve a castigar-me o lombo. Eram nas manhãs de estudante, com os pés encarangados, orelhas doendo como se navalhas às tivessem riscado, lábios rachados a cantarolar resumos da matéria em dias de prova... 

Assim era  minha jornada ao colégio. Momentos em que testemunhava uma cidade deserta, nem cachorro pelas ruas, só alguns gatos pingados, aliás estudantes que muitas vezes eram obrigados a voltar para casa, pois só havia a presença de cinco ou seis alunos por turma. Numa ocasião dessas, perguntei ao professor porque não se dava aula para quem chegou até ali, para compensar o esforço. Como resposta, perguntou-me se eu conseguia escrever diante de tamanho frio... tentei e então concordei.
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Vivia-se naqueles dias, em eterno recolhimento, encorujado, resguardado em qualquer canto, longe do vento e do frio. Imaginava muito trabalho e tempo perdido só para se “aquentar”. Eram muitas horas dedicadas a expulsar a sensação de estar morrendo de frio... com isso se reduziam as atividades. Só se mexia quem era obrigado. Comprar comida. Buscar lenha. Comprar remédio. Nesse clima, certo dia despertou-me o desejo de conhecer outras paragens menos frias, pois acreditava que seria mais fácil viver o extremo num clima de verão.

Hoje, passados quase trinta anos longe daqueles frios, constato que em dias de muito calor é mais fácil a vivência... pois basta-me procurar uma sombra qualquer e consigo administrar o dia-a-dia sem muito trauma.

Contei essas passagens para comentar sobre aquelas imagens que a mídia disponibiliza como novidade a cada inverno. Turistas bem nutridos e muito bem vestidos. Dançando. Cantando. Nas geladas madrugadas, pedindo mais neve e frio - geralmente em frente ao carrão ou hotel cheio de estrelinhas. Para mim é um exemplo de como o ser humano se presta a tudo. Aqui atende aos apelos de consumidor de pacote turístico. É a roda capitalista girando, levamos os incautos a gastarem seus reais e a vida segue. Isso não elimina a dor que os miseráveis devem suportar em dias abaixo de zero. A esses me rendo, solidarizo-me e pergunto porque a gente é assim? Tão contraditório. Sem palavras é o eco... eco... eco...

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