quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dica de Leitura

NELSON RODRIGUES

CONTRACAPA

A vida de Nelson Rodrigues (1912 – 1980 foi mais espantosa do que qualquer uma de suas histórias. E olhe que ele escreveu peças com “Vestido de noiva” e “Boca de Ouro”, romances como “Asfalto selvagem” e “O casamento” e os milhares de contos de “A vida como ela é...”. Mas foi de sua vida – e da vida de sua trágica família – que Nelson Rodrigues extraiu a sua obsessão pelo sexo e pela morte.

Gênio ou louco? Tarado ou santo? Reacionário ou revolucionário? Nenhum outro escritor brasileiro foi tão polêmico em seu tempo.

Para escrever O ANJO PORNOGRÁFICO, Ruy Castro – autor do consagrado CHEGA DE SAUDADE – realizou centenas de entrevistas com 125 pessoas que conheceram intimamente Nelson Rodrigues e sua família. Elas o ajudaram a reconstituir essa assombrosa história, capaz de arrancar risos e lágrima.


ORELHAS DO LIVRO
Uma biografia exemplar. Levantamento minucioso de tudo que diz respeito a Nelson Rodrigues, transformando-o em personagem de si mesmo. Que maior elogio se pode fazer a uma obra do gênero?

Ruy Castro foi aos antecedentes de Nelson - fez um perfil completo do pai, o grande jornalista Mário Rodrigues, e dos irmãos Roberto, artista plástico de valor invulgar, assassinado ainda jovem, e Mário Filho, que ele se deleitava em chamar hiperbolicamente, tão no seu estilo, o “Homero do esporte”. No vasto painel que o autor vai desenhando, ressuscita-se a alma da velha República, de profunda repercussão no teatro do dramaturgo. E daí extrapola-se para a situação do Brasil contemporâneo.

O anjo pornográfico, não obstante o título passível de referendar a imagem popular de Nelson (ainda que fornecido por ele), em nenhum momento concede ao sensacionalismo, nem se fecha no relato frio dos “idiotas da objetividade”. O leitor se surpreenderá, por certo, com o número incontável de revelações, às vezes desconhecidas até dos amigos mais íntimos de Nelson. É como se Ruy, desde o primeiro vagido do futuro autor de Vestido de noiva, o acompanhasse como sombra invisível.

Um livro dessa penetração subentende uma intimidade total com o universo do biografado, dá vida aos mais despercebidos registros jornalísticos. E exige uma insuspeita paixão, de quem se identifica plenamente com as características de seu objeto. Ruy não julga Nelson - limita-se a relatar o que se passou com ele, mostrando, dentro das contradições aparentes, a coerência do temperamento. Sem promover uma defesa deliberada do que suscitaria, para alguns observadores, a condenação de Nelson, o livro o absolve de quaisquer pecados, em múltiplos territórios.

Não procurou Ruy Castro parafrasear a inconfundível literatura de Nelson Rodrigues. Mas a sucessão de capítulos sugere que o espírito do dramaturgo e ficcionista baixou sobre o biógrafo, e O anjo pornográfico se torna uma autêntica autobiografia. Volume que se devora com a sofreguidão de um romance de aventuras.

Sábato Magaldi