terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

- Fernando Pessoa, do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética",  Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 164.