domingo, 17 de fevereiro de 2013

Blog Janer Cristaldo


ET DE XAPURI NÃO LÊ JORNAIS 





Ainda este ano, eu comentava a morte de uma das mais novas religiões, o ambientalismo. O guru da nova religião é James Lovelock, cientista inglês que trabalhou para a Nasa, que desenvolveu a Hipótese Gaia. Ou seja, nosso planetinha seria um ser com vida própria, vida esta ameaçada pelo ser humano. Em vez de ser humano, leia-se capital. Ou países ricos, como quisermos. Países africanos, por exemplo, jamais constituirão ameaça à vida de Gaia.

A teoria é fundamentalmente religiosa e remete a uma espécie de neopanteísmo. É tão ridícula quanto a cientologia de Ron Hubbard, escritor de ficção científica que percebeu ser mais lucrativo criar uma religião em vez de fazer literatura. Ridícula, mas convinha às viúvas. E fez escola nas últimas décadas. Dela derivou uma outra tese, a do aquecimento global, que previa o apocalipse para as próximas décadas. O aquecimento global decorre do efeito estufa. Que decorre por sua vez da atividade industrial... dos países desenvolvidos. País pobre não produz efeito estufa. País de negros muito menos. Efeito estufa é crime cometido por Estados Unidos, países europeus e quaisquer outros que queiram tornar-se ricos. A velha bandeira, mesmo esfarrapada, continua hasteada: morte ao capital.

Em entrevista para a Veja, em 2006, falando sobre seu livro A Vingança de Gaia, lançado naquele ano na Inglaterra, Lovelock brandia o apocalipse. O repórter, não por acaso um dos crentes no efeito estufa, queria saber quando o aquecimento global chegará a um ponto sem volta. Responde o guru, com a convicção dos profetas:

- Já passamos desse ponto há muito tempo. Os efeitos visíveis da mudança climática, no entanto, só agora estão aparecendo para a maioria das pessoas. Pelas minhas estimativas, a situação se tornará insuportável antes mesmo da metade do século, lá pelo ano 2040.

- O que o faz pensar que já não há mais volta?
- Por modelos matemáticos, descobre-se que o clima está a ponto de fazer um salto abrupto para um novo estágio de aquecimento. Mudanças geológicas normalmente levam milhares de anos para acontecer. As transformações atuais estão ocorrendo em intervalos de poucos anos. É um erro acreditar que podemos evitar o fenômeno apenas reduzindo a queima de combustíveis fósseis. O maior vilão do aquecimento é o uso de uma grande porção do planeta para produzir comida. As áreas de cultivo e de criação de gado ocupam o lugar da cobertura florestal que antes tinha a tarefa de regular o clima, mantendo a Terra em uma temperatura confortável. Essa substituição serviu para alimentar o crescimento populacional. Se houvesse 1 bilhão de pessoas no mundo, e não 6 bilhões, como temos hoje, a situação seria outra. Agora não há mais volta.

- O senhor vê o aquecimento global como a comprovação de que sua teoria está certa?
- O aquecimento global pode ser analisado com base na Hipótese Gaia, e, por isso, muitos cientistas agora estão se vendo obrigados a aceitar minha teoria. 

Em abril passado, Lovelock se viu obrigado a fazer meia-volta – quem diria? – e negar sua própria teoria. Em entrevista ao site Msnbc.com, Lovelock disse ter sido alarmista: "cometi um erro".

- O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo. Pensávamos que sabíamos nos últimos vinte anos. Isto levou a alguns livros alarmistas – o meu inclusive – porque parecia óbvio, mas isto não aconteceu. O clima está fazendo seus truques usuais. Não há nada realmente acontecendo ainda. Já era para estarmos a meio caminho de um mundo tórrido. O mundo não aqueceu muito desde a virada do milênio. Doze anos é um tempo razoável... a temperatura permaneceu quase constante, enquanto devia ter-se elevado. O dióxido de carbono está aumentando, não há dúvida quanto a isso.

Era tudo alarme falso. Durante alguns meses, os profetas do apocalipse tiveram de bater em retirada. Mas apenas durante alguns meses. ONGs e universidades recebem rios de dinheiro para estudar o tal de aquecimento que não existe e a bicicleta não pode parar. Hoje, o aquecimento global voltou a existir, como se seu teórico sequer o houvesse negado.

Marina Silva, o ET de Xapuri, escreve hoje na Folha de São Paulo: 

- Mais um grande bloco de gelo (do tamanho de Nova York, disseram os cientistas) se desfaz na Antártida. As catástrofes do aquecimento global já não espantam os brasileiros, que ficam, porém, apreensivos com o início das chuvas.

Pelo jeito, o ET de Xapuri não lê jornais. Ou lê e faz que não lê. Sem o aquecimento global, a biografia de Marina perde o sentido. Como as bicicletas, Marina não pode parar. Se parar, morre.

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