quarta-feira, 22 de junho de 2011

Guri é guri

Ilustração Tácio 6 anos

Guri não tem jeito, inventa cada uma. É quando a adolescência começa a vislumbrar o mundo que virá pela frente. E até chegar o tempo de crescer vale quase tudo, inclusive reunir-se com os amigos em busca de aventuras como a que curtíamos muito: nadar em qualquer lugar. Sei lá quem descobriu aquele sítio. Num sábado à tarde, verão de matar, turma reunida em um barranco. Não menos que dez bagunceiros lagarteando, quando alguém sugeriu que poderíamos ir num lugar trilegal.   

Faltou tempo para contar os detalhes, pois lá estávamos de calção, chinelos, alguns com camiseta outros sem, rumando para mais um dia festivo. Iniciamos a jornada por uma estrada de chão batido, no final do bairro. Foram quase dez quilômetros a pé, momentos de pura diversão. Corríamos atrás dos queros-queros, atirávamos pedras nos palanques, empurrávamos alguém pelas ribanceiras abaixo, só para vê-lo rolando entre o capim. E quando o cansaço surgiu, a visão do açude logo abaixo nos inebriou. Era só transpor a taipa e correr uns duzentos metros para cair na água.

Queríamos nadar e pular de cima do trampolim improvisado para chegar ao fundo, os peixes não interessavam, o negócio era a festa da caminhada e o frescor da água. Em meio aquela dezena de garotos surgem as mais variadas estripulias, alguns querendo esconder as roupas, outros mais sacanas desejando jogar os que não sabiam nadar no local mais profundo. Havia aqueles que nem chegavam perto da água, ficavam inventando moda, comendo as frutas, correndo atrás das vacas e das ovelhas. Seguíamos animados sem perceber que o tempo voava, quando alguém gritou que deveríamos ir para não chegar em casa à noite. Vestimo-nos e caminhamos em direção à estrada. Quando alguém gritou... "olha o home". Foi uma correria e quando olhamos para trás, não tinha homem algum, foi mais uma brincadeira daquelas.

Continuamos e mais alguns passos à frente, de novo: "olha o home"... a metade da turma foi, a outra ficou parada, olhamos para trás, nada de homem. Aquilo já estava enchendo o saco, pensei. Seguimos, e a uns cinqüenta metros da saída, alguém grita: "olha o home"... foi uma “debandada” geral, menos para mim que não estava mais achando graça naquilo. Mas algo me chamou a atenção, todos correram, menos eu, olhei e pulavam a cerca aos gritos de "olha o home" ... "olha o home" ... corre ... corre.

Para meu desespero, virei-me e vi "o home" em seu cavalo num galope daqueles. Não tive tempo nem de piscar, senti quando num abraço pegou-me pela barriga e jogou-me sobre a sela. Galopando ainda, pulou pela cerca em direção à turma que debandou geral. Eu ali, balançando sob as mãos "do home" e vendo meus companheiros perderem os chinelos ao entrarem arrastando-se no mato. O homem era o capataz da propriedade e estava ali para defendê-la de intrusos. Após dizer-me isso, arrancou minha roupa e atirou-me no chão.

Mais apavorado ainda, levantei-me e corri sem olhar para trás, meu coração a saltar pela boca. Após alguns minutos reduzi o passo para tentar encontrar alguém, mas desapareceram, nem sombra deles. Depois de cobrir as “partes baixas” com macega, segui lentamente pela estrada de chão batido e quando desceu a noite, próximo de casa, surgiu um dos aventureiros. Deu-me sua camiseta, sem antes quase chorar de rir ao ver-me pelado com uns galhos nas mãos. Vesti-a como um calção, as mangas entraram bem, ficou aquele buraco da gola no meio das pernas, mas de longe e no escuro, era um bermudão. Olha o “home” rsrsrsrs...

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