sábado, 30 de março de 2013

Uma partida de dominó

Por Gilrikardo

A vida de cada um de nós é, mui provavelmente, o sentido que cada um de nós lhes dá. É o realizável que muitas vezes distante do desejo nos apresenta a frustração. Estou aqui por quê? Isso significa algo em minha vida? São indagações que por nós, unicamente nós, devemos responder, além de viver, pois em um mundo cheio de oportunistas, não faltarão slogans a determinarem tais destinos: “Por que você merece” “Feito para você” “Quem tem é o melhor”... e assim por diante. Em outras palavras, a tua vida é o que tu fizeres por ela. Abaixo registro um momento a fim de ilustrar minha opinião. 

- Vivemos o paradoxo em se querer saber tudo e assim viver em um poço sem fundo onde nem todas as respostas estão disponíveis ou conformar-se com o mundo que aí está e pronto. Acredito que ideal é o bom senso, o meio-termo, é o equilíbrio entre essas duas situações, no entanto essa batalha em estabelecer limites tanto para nossos questionamentos quanto para nosso conformismo parece ser a “graça” a nos conduzir. 

E continuava ele... 

- Poderíamos dizer que esta falta de medida em nos determinar limites é a força que nos leva, mesmo a trancos e barrancos, a agir como “seres humanos”; seres aptos a decidir, mesmo sem os ideais para tal, o rumo e a forma de nossos pensamentos.” 

Dito isso, aquele velho jogador de dominós, levantou-se da mesa e pôs-se a questionar seus amigos. Perguntou-lhes se a vida era para ser gasta jogando dominós. A resposta que obteve: 

- Grande amigo e companheiro de tantas jogadas, em nossa atual condição, velhos aposentados e prontos para a “reta de chegada” nos caberia mais o quê, além do prazer de estar na presença daqueles que nos trazem conforto. 

- Conforto! Isso é estar confortável? 

- Sim, para mim isto é sentir-se tranqüilo. Estar entre às pessoas que já me conhecem há muito; portanto conhecedoras de minhas limitações e virtudes. 

- Então você quer dizer que está satisfeito com nossa atual situação. Tudo está como deveria estar e fim. 

- Sim! 

O velho não contestou, simplesmente coçou “a careca”, ajeitou as calças, lançou o olhar ao horizonte e continuou em sua reflexão. Ainda preso a seus pensamentos, senta-se à mesa, pois deveria fazer a sua jogada, restavam-lhe três pedras. Após dispensar a pedra seis e quatro, volta-se e continua perguntando: 

- Não acredito que estejamos somente velhos e aposentados, essa é uma condição parcial sobre nossas vidas, isto é, nos limita a certas atividades. Um garoto de dez anos não pode dirigir ou um senhor de quarenta e poucos anos nunca será um atleta olímpico, essas limitações são naturais e compreensíveis. 

O amigo responde-lhe: 

- Puxa!, hoje você tá um “baita xaropão”, o que você quer que a gente faça. Estamos nessa rotina há anos e você agora vem querer mudar nossos destinos. 

Levanta-se da cadeira e lança seus argumentos: 

- Quem sabe de seus destinos? Estou perguntando se a sensação de que seus pensamentos e emoções ficaram idosas, é isso que eu quero saber, pois eu me sinto sempre o mesmo, não tenho a impressão de que estou com mais de setenta anos, sinto-me naturalmente o mesmo de sempre, com algumas adaptações inerentes a vida humana (a dentadura às vezes lhe incomodava). 

O amigo pede para ele continuar a partida, pois ainda tem jogo pela frente, ele joga a pedra três e dois, só lhe resta mais uma. Seu olhar permanece alerta como se estivesse procurando alguma resposta no horizonte. Eram cinco amigos que haviam crescido no mesmo bairro e estudado no mesmo colégio, enfim pareciam irmãos de tantas semelhanças em suas vidas. 

Lá vem ele novamente: 

- Qual o motivo que nos traz aqui nesta mesa quase todos os dias, será que é somente o dominó? Será a agradável companhia dos amigos? Ou será que não procuramos alternativas melhores e nos conformamos com o que está aí porque está pronto. 

Ao que o amigo responde: 

- É, hoje você tirou o dia para “filosofar” e pelo jeito vamos chegar ao lugar de sempre... nenhum? Aproveita e joga, é a tua vez. 

- Hummm! Passo, não tenho cinco e dois, mas estou pela boa pessoal. 

E assim, seguiram animados em mais um dia de dominó, cada um com seus pensamentos e opiniões. Eu insatisfeito com a idéia de que só nos restaria jogar dominós, segui meus instintos e por isso estou aqui digitando essas linhas na tentativa de amenizar meu inconformismo ou quem sabe alimentar meu otimismo pelas possibilidades que a vida nos dá em qualquer momento da jornada.