segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amigos

Quando se trata de amigos, reporto-me às lembranças da infância, pois acredito que os relacionamentos construídos naquela época representam a definição perfeita do apego sincero e sem máculas por alguém. Fase em que ainda estamos imunes à contaminação advinda dos jogos de interesses que nutrem a convivência no mundo dos adultos. É a estima por si só. O querer estar junto para o que der e vier, sem o componente de segundas intenções. São aqueles meninos e meninas, parceiros de tantas diversões e tantas descobertas, que permanecem em meu coração, marcados pela estima e ternura. Eram gargalhadas e suspiros profundos que faziam-me acreditar em um mundo perfeito. Acreditar que a vida na companhia deles seria uma baita brincadeira.

Mas como tudo tem seu tempo, crescemos e nossos caminhos desviaram-se pela necessidade da luta pela sobrevivência. Fiz minhas escolhas, meus roteiros e tracei meu destino. Conheci muitas pessoas que considero conhecidos. Nas relações de trabalho ajuntei muitos colegas. E pela força da vivência urbana tenho vizinhos. Amigos autênticos, só a lembrança daqueles cujo destino apartou. Não dá prá esquecer da imagem, da personalidade de cada um, do jeito de falar, de andar, de vestir, seus pratos prediletos, sua idéias, suas leituras, seus talentos, onde e com quem moravam.

Afora isso, restou-me o inconformismo que me lançou na ventura de reencontrar àquelas emoções cultivadas na união entre iguais. O tempo passou e latentes permaneceram  em meu coração até o que surgiu a redenção, e então resgatei-me... encontrei um livro.

Isso mesmo, um livro, em meio a um amontoado de papéis. Ali surgiu uma nova amizade que, de certa forma, reacendeu momentos dantes adormecidos pela ausência do fator ideal. Guardadas as proporções, que outro relacionamento é tão lúcido quanto à nossa afeição por um livro que por conseqüência do interesse leva-nos muitas vezes à biografia do autor. Para então sentir-se o generoso gosto da estima, já que somos confidentes, partilhamos opiniões, desde banalidades até as  mais íntimas; além da facilidade de escolher hora e local de encontro. Creio que dessa forma agrego às minhas lembranças os nobres conceitos oriundos da troca com legítimos companheiros; possível somente aos cúmplices.

É nessa cumplicidade de opiniões, conceitos e críticas que me elevo a momentos onde a construção da relação entre dois espíritos germina; pouco importa o tempo que nos separa, é relativo; ou os corpos utilizados, se um é papel e o outro é carne;  já que, em essência, o “apego sincero” se traduz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se preferir utilize o email: gilrikardo@gmail.com