O pomar era viçoso. Várias espécies frutíferas diariamente observadas por ele. Admirava as flores brancas da macieira e imaginava que logo estariam produzindo lindas maçãs. Atração fatal para os pássaros que em bandos aportavam para afinar a cantoria. Tal visão lhe incendiava o desejo de quem sabe ser uma macieira e também partilhar com as aves penduradas em seus galhos. Seguiu em suas comparações até a ameixeira cujas flores ampliavam o colorido daquele espaço. Outra parada obrigatória das criaturas de asas e plumas que pousavam em busca do frescor das folhas.
Essas possibilidades deixavam-no cada vez mais intrigado, porque será que a ele não era dada essa graça, indagava-se. Continuava observando em sua volta e por todo o pomar não havia árvore que não lhe causasse inveja. Qualquer que fosse a flor ou o fruto o deixava transtornado, sentia-se menos que todos ali. Só porque em seus galhos não tinha a freqüência de bandos e mais bandos de pássaros, porque nunca havia visto uma flor brotar por entre seus galhos. Não entendia o porquê de sua presença naquele local, já que não era notado e não estava servindo nem para poleiro.
Desde quando se percebeu naquele recanto, muitas árvores surgiram para celebrar a vida. As estações determinando a época das flores, dos frutos, dos pássaros e das demais formas de vida. Ele continuava inconsolável, sentindo-se um alijado dentro daquele espaço pelo fato de não ser como as outras, praguejava-se a todo momento. Melhor seria se tivesse sido um pé de laranja, imaginava, para em seguida procurar pelo velho pé de laranja e verificar que sumira. Notou então que vários outros já não estavam mais presentes, lembrou-se então que desde a sua chegada muitos outros já partiram. Isso começou a dar-lhe um pouco de conforto, pelos menos estava presente - consolava-se. Será que eles não voltarão mais - questionava-se, enquanto tentava entender o motivo daquilo tudo.
Foi quando que, por encanto, apareceram algumas pessoas lá embaixo e começaram a examiná-lo por inteiro. Diziam ser ele um jovem pinheiro, uma árvore nobre e que seria das grandes. Daqueles que levam mais de quinze anos para começar a florir e gerar os primeiros frutos, durava muito mais do que todas aquelas em sua volta. Ao ouvir isso, sentiu-se mais em sua condição. Com ar presunçoso, rapidamente mudou sua forma de julgar aqueles à sua volta. Olhou-os com desprezo, pois além de vida curtas, não estavam nem chamando a atenção daqueles especialistas, imaginou.
De repente um barulho começou a espantar os pássaros e um cheiro esquisito invadiu o ar. Era um daqueles estranhos com uma motosserra procurando o melhor ângulo para iniciar o corte e pô-lo abaixo. Quando percebeu a intenção os dentes da máquina já lhe haviam cortado mais da metade do tronco, estava para cair, era só uma questão de tempo.
Foi quando lamentou oportunidades perdidas por tentar ser o que nunca seria, igual às demais árvores. Não seria pessegueiro, nem ameixeira, nem macieira, tampouco um pé de laranja. Ele era pinheiro e como tal teria seu tempo de florir, gerar frutos e de partilhar suas virtudes - galhos e sementes - com os outros elementos da natureza. Agora era tarde demais...
Devido ao tamanho foi removido do pomar a fim de proporcionar maior luminosidade e chuva às outras culturas. O pinheiro não caiu em vão, tornou-se o que sempre almejara, algo especial e útil, transformou-se naquilo que fora vocacionado desde seu plantio: em mesas, cadeiras, bancos e outros utensílios para a fazenda do seu Rubião.
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