sábado, 2 de julho de 2011

Uma partida de dominó

--Vivemos o paradoxo em se querer saber tudo e correr o risco de viver em um poço sem fim, onde nem todas as respostas estão disponíveis ou conformar-se com o mundo que aí está e ponto final. Acredito que ideal é o bom senso. O meio termo é o equilíbrio. No entanto, essa luta em estabelecer limites para questionamentos versus conformismo parece ser a graça a nos conduzir.

E continuava ele...

--Poderíamos dizer que esta falta de nos determinar limites é a força que nos leva, mesmo a trancos e barrancos, a agir. E como seres humanos, aptos a escolher, mesmo sem os ideais para tal, o rumo e a forma de nosso destino.

Dito isso, o velho jogador de dominós levantou-se e colocou-se a questionar seus amigos. Perguntou-lhes se a vida era para ser gasta jogando dominós. A resposta que obteve:

--Grande amigo de tantas partidas, em nossa condição, velhos e prontos para a reta de chegada nos caberia mais o quê, além do prazer da companhia daqueles que nos trazem conforto.

--Conforto! Isso é estar confortável?

--Sim, para mim isto é sentir-se tranqüilo. Estar entre às pessoas que já me conhecem há muito,  portanto conhecedoras de minhas fraquezas e virtudes.

--Então você quer dizer que está satisfeito com nossa atual situação. Tudo está como deveria estar e fim.

--Sim!

O velho não contestou, simplesmente coçou a careca, ajeitou as calças, lançou o olhar no horizonte e continuou em sua reflexão. Ainda preso em seus pensamentos, senta-se, pois era sua vez de jogar, restavam-lhe três pedras. Após dispensar a pedra seis e quatro, volta-se e continua perguntando:

--Não acredito que estamos somente velhos e aposentados, essa é uma condição parcial sobre nossas vidas, isto é, nos limita a certas atividades. Como limita uma criança de cinco anos a dirigir ou a um senhor cinquentão que nunca será artilheiro da seleção, essas limitações são compreensíveis.

O amigo responde-lhe:

--Puxa!, hoje você tá um baita xaropão, o que você quer que a gente faça. Estamos nessa rotina há anos e você agora vem querer mudar nossos destinos.

Levanta-se e novamente lança seus argumentos:

--Quem sabe de seus destinos? Estou perguntando se vocês têm a sensação de que seus pensamentos e emoções ficaram idosas, é isso que desejo saber, pois sinto-me o mesmo, não tenho a impressão de que estou com mais de setenta anos, sinto-me naturalmente o mesmo de sempre, com algumas adaptações inerentes a vida humana. (a dentadura às vezes lhe incomodava)

O amigo pede para ele continuar a partida, pois ainda tem jogo pela frente, joga a pedra três e dois, só lhe resta uma. Seu olhar permanece alerta como se estivesse procurando alguma resposta no horizonte. Eram cinco amigos que haviam crescido no mesmo bairro e estudado no mesmo colégio, enfim pareciam irmãos de tantas semelhanças em suas vidas. E lá vem ele novamente:

--Qual o motivo que nos traz aqui nesta mesa quase todos os dias, será que é somente o dominó? Será a agradável companhia dos amigos? Ou será que não procuramos alternativas melhores e nos conformamos com o que aí está  porque é rotina. 

Ao que o amigo responde:

--É, hoje você tirou o dia para filosofar e pelo jeito vamos chegar ao lugar de sempre... nenhum? Aproveita e joga, é a tua vez.

--Hummm! Passo, não tenho cinco e dois, mas estou pela boa pessoal.

E assim, seguiram animados em mais um dia de dominó, cada um com seus pensamentos e opiniões. Eu insatisfeito com a idéia de que só nos restaria jogar dominós, segui meus instintos e por isso estou aqui digitando essas linhas na tentativa de amenizar meu inconformismo ou quem sabe alimentar meu otimismo pelas possibilidades que a vida nos dá em qualquer momento da jornada.

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