sábado, 16 de julho de 2011

Dica de leitura > Nélson Jahr Garcia

Conheci seu trabalho em minhas garimpadas pela internet. Falecido em 2002 e cuja obra permanece disponível àqueles que acreditam no poder da leitura. 

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/nelsonjahrgarcia.html
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manipulacao.pdf

(abaixo texto extraído da obra Comunicando Comunicação)

APRESENTAÇÃO
Nélson Jahr Garcia nos deixou, numa manhã nublada de 6 de novembro de 2002. Mas, antes de se ir, deixou este mundo um pouquinho melhor. Em pouco mais de meio século, viveu uma vida plena. Plantou suas árvores, escreveu seus livros, deixou uma filha amada. Nos milhares de alunos aos quais transmitiu seus conhecimentos e ensinou a perguntar, sua obra prossegue. Nos livros que pacientemente escaneou e colocou na internet à disposição de todos, continuou, de seu recanto em Atibaia, a trazer mais luzes a um país tão carente delas. Se Shakespeare hoje está disponível na internet em português, obra do Nélson. E não foi só Shakespeare... Dizia-se um lobo solitário, mas nunca um lobo teve tantos que o quisessem acompanhar. Dele se pode dizer o que de poucos hoje em dia se pode: foi fiel a si, aos seus amigos e aos seus sonhos.


Nélson Jahr Garcia por ele mesmo
Nélson Jahr Garcia, esse o nome sob o qual fui registrado e batizado em outubro de 1947. Fiz Primário, Secundário e Colegial em escola pública. O ensino oficial era sério, os professores, respeitados, viviam com dignidade. Veio o vestibular, fui aprovado para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Glória para mim, orgulho para a família, inveja entre certos vizinhos. Advoguei por quase uma década e, ao mesmo tempo, ingressei no magistério superior. Lecionei em várias unidades da USP, principalmente na ECA, e em algumas Faculdades particulares.


Na ECA matriculei-me em Pós-Graduação, fui aprovado e conclui mestrado e doutoramento. Especializei-me em comunicação persuasiva e propaganda ideológica. Valeu, aprendi, além de teorias gerais, propaganda, relações públicas, jornalismo, cinema, televisão, um pouco de artes plásticas. Além disso, consegui superar um pouco do espírito barroco e burocrático que a Faculdade de Direito me havia incutido. Escrevi cinco livros, três em papel e dois eletrônicos, sem contar centenas de artigos e crônicas. Há três anos sou cronista de O Atibaiense, o maior e melhor jornal desta cidade.


Apaixonado pela Internet, criei este site dedicado à comunicação persuasiva, inclusive reproduzindo obras clássicas relacionadas direta ou indiretamente ao tema. Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado, ou melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigação de retribuir ao menos uma gota do que ela me proporcionou.



MESTRES, ALUNOS, PAIS. (publicado em 11.05.2002)
Não se pode generalizar, claro. No Brasil, porém, grande parte dos professores são despreparados, os estudantes preguiçosos e os pais coniventes. A incapacidade dos professores se deve aos salários insignificantes. Não podem comprar livros, não dispõem de computadores para pesquisar, ministram dezenas de aulas mensais para ganhar o mínimo necessário à sobrevivência.
    
Os alunos, frutos de árvores deformadas, não querem ler, estudar, fazer trabalhos ou provas. Perdem a motivação frente a professores desinteressados, ambiente escolar péssimo em que falta tudo, prédios insuportavelmente quentes no verão e rigorosamente frios no inverno, número excessivo de alunos nas salas. Além disso, muitos se originam de famílias que têm pouco ou nenhum grau de instrução. Chegam à escola como pedras brutas que só um professor milagroso poderia burilar. Parecem preguiçosos, e são realmente.
    
Os pais, primeiro elo na corrente da educação, costumam cometer erros terríveis, mesmo sem intenção. Todo pai (ou mãe) tem ou teve sonhos que não pôde realizar, especialmente estudar e formar-se, ter um diploma (muitos dizem "deproma"). Transfere essas e outras fantasias para os filhos que não vivem e, talvez, jamais viverão a mesma realidade e, portanto, não vão nutrir as mesmas ilusões. Resultado: os jovens são obrigados a viver em função de objetivos que não são seus.
    
Os que vêem seus filhos como concretização de suas ambições pessoais acabam por transformá-los em símbolos de um status que não possuem. Jovens, na voz dos pais, passam a ser inteligentes, bons alunos, ágeis, ótimos desportistas, fortes. Os parentes e amigos ouvem com desconfiança, silenciam por respeito. Manter o status dá trabalho e custa caro. Ensinar o que não entendem, fazer trabalhos escolares (geralmente de forma desastrosa), pedir ou pagar para que outros os façam, contratar professores particulares,

Durante vários anos desenvolvi um site na Internet. O objetivo principal era divulgar, gratuitamente, livros importantes que, ou estavam esgotados ou custavam muito caro. Desanimei. Inúmeros emails, enviado por estudantes ou seus pais, pediam resumos de obras ou até informações que me exigiriam fazer trabalhos escolares inteiros. Em certo período recebi vários pedidos de resumo do livro A Revolução dos Bichos de George Orwell. Ora, é um livrinho que, na edição de bolso, tem 87 páginas. Resumir o quê? A verdade é que os professores erram ao pedir resumos, os alunos precisariam ler as obras inteiras e os pais não deveriam apoiar os filhos relapsos. Um fato é indiscutível, quando os pais não lêem freqüentemente, não têm livros em casa, os filhos adquirem uma certa ojeriza pela leitura e quem não lê, não pode ser bom estudante.
    
As conseqüências desse quadro são graves. Primeiro o precário nível educacional do país que, se não é o pior do mundo, beira o quase. Repetência não é séria, a maioria dos professores não reprova, isso significaria ter o mesmos alunos à sua frente, no período seguinte.
    
As desistências sim, preocupam. O jovem não agüenta mais a escola, resolve abandonar. Nada pode dizer aos pais que parecem sentir orgasmo quando falam do maravilhoso desempenho escolar de seus filhos. Saem a perambular pelas ruas, correndo todos os riscos. Fui professor e diretor de Faculdade durante duas décadas; cansei de conversar com estudantes que pretendiam desistir do curso, uns no começo outros ao final. Afora os casos de dificuldades para pagar as mensalidades, a maioria pretendia sair porque não gostava do curso, que só escolheram porque os pais queriam. Qualquer mudança no sistema educacional exigiria interferências sobre os professores, alunos e pais. Não há perspectiva positiva, senão a longo prazo; se começarem algum dia.

Mais uma opinião sobre o professor:

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